segunda-feira, abril 13, 2020

Morreu Sir Stirling Moss, um gentleman da velocidade...

Imagem: Twitter Mercedes-AMG F1 / Reprodução

Sir Stirling Moss, um gentleman da velocidade

Morreu neste domingo, 12, aos 90 anos, Sir Stirling Moss, o lendário e excepcional piloto britânico que estrelou embates épicos com Juan Manuel Fangio, inspirou muitas gerações do automobilismo e, numa infeliz coincidência, encerrou sua carreira também num domingo de Páscoa

Por Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte

Existe uma máxima usada para falar sobre craques do futebol que não conquistaram a Copa do Mundo, que seria azar do Mundial não ter sido ganho por fulano.

Zico é um desses exemplos, sempre que alguém se refere ao fato do Galinho nunca ter levantado o troféu mais cobiçado do futebol mundial, alguém logo responde: “azar da Copa não ter sido ganha por Zico”.

Quem viu Stirling Moss correr e aqueles que pesquisam a história do automobilismo, também afirmam categoricamente: “azar da F1 não ter tido uma temporada sequer vencida por Moss”.

O piloto é apontado por muitos especialistas como um dos maiores talentos da história da F1, mas esbarrou no azar de competir na mesma geração de Juan Manuel Fangio.

Contra o argentino, Moss foi três vezes vice-campeão e viu o adversário se tornar pentacampeão e escrever seu nome no panteão eterno da categoria.

Quando Fangio se aposentou, em 1958, tudo indicava para o título de Stirling Moss na temporada seguinte.

Porém, Mike Hawthorn conquistou o troféu de 1959 e deixou Moss, pelo quarto consecutivo, na segunda posição.

Culturalmente, os vices nunca são lembrados ou celebrados por suas performances que sucumbiram apenas para os campeões.

Basta pensar na trajetória de Rubens Barrichello, que foi duas vezes vice-campeão, mas é motivo de chacota por sua postura orientada pela equipe para favorecer Michael Schumacher.

Guardadas as devidas proporções entre a carreira de Barrichello e o talento de Moss, além de motivos completamente diferentes, os vices do britânico não lhe garantiram um lugar entre os campeões da F1, mas não tiraram de Moss o reconhecimento como um dos maiores pilotos de todos os tempos.

Principalmente porque com uma carreira que começou em 1948, Moss não competiu somente na principal e mais tradicional categoria do automobilismo mundial.

Fora da F1, Moss teve uma carreia vitoriosa e conseguiu uma reviravolta diante do maior adversário.

Em 1955, Moss venceu Fangio na Mille Miglia, um enduro de 1500 quilômetros, disputado na Itália.

O britânico marcou um tempo recorde, 10 horas e 8 minutos, e ficou com o troféu enquanto o argentino ficou em segundo lugar.

No currículo do britânico ainda constam disputas nas 24h de Le Mans, com dois vices, e as 12h de Sebring, onde venceu logo na estreia.

Concomitantemente às provas de outras categorias, Moss permanecia mostrando seu talento na F1.

Na era pós-Fangio, o britânico se consolidou como um grande piloto, mas sem sorte para vencer.

Foi 3º colocado nas temporadas de 1960 e 61, mas colecionou importantes vitórias em circuitos icônicos como Mônaco e Nürburgring.

Com triunfos dessa altura, foram 16 vitórias em GPs oficiais, 24 pódios, 16 poles e 19 recordes de volta mais rápida.

Esse número o colocou como piloto inglês com mais vitórias na F1 até 1991, quando Nigel Mansell ultrapassou Moss.

Outro número que impressiona e dimensiona o tamanho de Stirling Moss para o automobilismo é o de 529 provas disputadas entre 1948 e 1962, com 212 vitórias.

Nascido em setembro de 1929, Moss abandonou os carros de corrida em 1962, com apenas 32 anos.

A aposentadoria precoce, porém, se deu em razão de um grave acidente sofrido em 22 de abril de 1962, no circuito de Goodwood (foto abaixo).

Moss dirigia uma Lotus e, após bater forte, foi retirado inconsciente dos restos de seu carro.

Ficou um mês em coma e acabou com um lado do corpo paralisado por seis meses.

Ensaiou um retorno após a recuperação, mas não conseguiu se adaptar ás suas novas possibilidades e se aposentou.

Depois da aposentaria, Moss ainda curtiu uma de repórter.

Foi contratado da emissora ABC por 18 anos, para cobrir o automobilismo.

A idolatria pelo piloto é parte da cultura inglesa, mesmo após sua aposentadoria, existe uma lenda urbana de que os policiais ingleses, ao pararem alguém dirigindo acima do limite de velocidade, perguntem:

“Você acha que é Stirling Moss?”.

Em 2000, a rainha Elizabeth II concedeu a Moss o título de cavalheiro da Ordem do Império Britânico por seus serviços prestados ao automobilismo.

Adorado pelo público, Moss continuou pilotando em exibições até 2011, aos 81 anos.

Apenas em 2018, com 88 anos, se retirou da vida pública após contrair uma infecção bronquial em uma viagem a Singapura.

Desde então, de acordo com sua esposa Susie Moss, desenvolveu uma série de problemas de saúde e, nas palavras dela: “morreu pacificamente em sua casa em Londres, após lutar contra uma doença por anos.”

A frase de Paulo Roberto Falcão é definitiva: “o atleta morre duas vezes. A primeira quando para sua atividade e a segunda quando o coração para de bater”.

Com Stirling Moss, mais uma vez a frase se aplica, mas com uma infeliz coincidência, suas duas mortes aconteceram num domingo de Páscoa.

Com 58 anos de intervalo, enquanto crianças mundo afora saboreavam chocolates, Sir Stirling Moss se despedia das coisas que mais prezou: a velocidade e a vida.

Imagem: Paul Popper/Popperfoto/Getty Images

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