Os 20 mil desempregados do
futebol
Por Eduardo Conde Tega*
Um mesmo ciclo negativo se
repetirá no próximo domingo: mais de 20 mil profissionais do futebol brasileiro
estarão desempregados, incluindo atletas, treinadores, assistentes técnicos,
preparadores físicos, supervisores, roupeiros e massagistas, entre outros.
São profissionais que pertencem a
centenas de clubes espalhados pelo Brasil e que ficarão sem atividades até o
final do ano, em função do atual calendário promovido pela CBF e suas
respectivas federações.
Muitas destas equipes irão se
despedir da temporada com menos de 18 jogos e as federações repetirão o
discurso de que, sem os estaduais, a situação seria ainda pior.
Já os clubes considerados
grandes, na outra ponta, poderão jogar um número excessivo de partidas, o que
impede uma preparação mais adequada e que impacta diretamente na qualidade do
espetáculo.
Em alguns casos serão mais de 80
jogos, número 40% superior ao número de partidas que são disputadas pelas
principais equipes da Europa, por exemplo, numa mesma temporada.
Qualquer presidente de federação
ou confederação defenderá em tom romântico que o campeonato estadual é
responsável por gerar empregos e movimentar a economia nos primeiros meses do
ano, mesmo que os números digam o contrário.
Os campeonatos estaduais são
unanimidade em modelo deficitário para torcedores, clubes e imprensa.
Exceto para quem organiza e
transmite a competição.
Diminuir a quantidade de jogos
dos grandes, ao priorizar as principais competições, e aumentar
consideravelmente a quantidade de jogos dos clubes de menor porte é fundamental
para iniciarmos esse movimento benéfico ao esporte no país.
Os estaduais são um patrimônio
histórico e cultural de cada Unidade Federativa, mas há a necessidade de se
adequarem à importância que eles têm hoje em dia.
A situação de falência em que se
encontram por todos os Estados do Brasil está diretamente relacionada à
manutenção dos feudos das federações.
Para eles, maior tempo de
calendário para os estaduais significa mais poder e dinheiro.
O atual modelo de governança do
futebol brasileiro concentra riquezas nas federações e na CBF, que cavam um
buraco ainda maior para os clubes se enterrarem.
É necessário criar viabilidade
para clubes do interior, ao resgatar as rivalidades regionais e fomentar a
atividade econômica que gira em torno deles.
Mas, essencialmente, os clubes do
interior precisam competir, já que não conseguem criar e manter um vínculo com
seu torcedor, que hoje passa mais da metade do ano sem ver seu time jogar e
assiste aos jogos de equipes grandes pela TV.
Principalmente equipes e ligas
internacionais.
Um novo formato para os estaduais
deve urgentemente ser discutido e implementado por quem dirige o futebol
brasileiro.
Mas como os interesses dessas
entidades e de seus dirigentes passam longe do desenvolvimento do futebol
brasileiro, os clubes ou o Governo deveriam intervir imediatamente.
Os clubes lutam para pagar suas
contas, tributos e dívidas; e tem com as federações a mesma relação que um
devedor tem com seu gerente de banco.
Já o Governo, tenta fazer da MP
671 um instrumento de decência em conceitos básicos como gestão responsável e
limites de mandatos às federações, para inspirar o mesmo formato em outros
esportes e levar democracia e gente séria às entidades que deveriam, no mínimo,
organizar as competições com competência.
Verdadeiramente, somente teremos
mudanças significativas tendo em vista o desenvolvimento do futebol nacional
quando o colégio eleitoral da CBF e das federações for ampliado.
Quando todos os atletas e clubes
tiverem direito a voto na Assembleia Geral e fóruns decisórios das entidades
que organizam as competições que estiverem disputando, com o mesmo peso dos
demais.
Não é à toa que está esculpida em
pedra no Museu Olímpico de Lausanne, na Suíça, a seguinte frase:
“Sem o atleta não há esporte.”
*Eduardo Conde Tega dirige a
Universidade do Futebol.
Pinçado do blog do Juca Kfouri
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