Por Victor Duarte de Medeiros *
Para a Disciplina de Jornalismo Esportivo/DECOM/UFRN
No Brasil, a
vitória de Gabriel Medina no Mundial de Surf de 2014, fez com que o esporte
entrasse em pleno crescimento, não só devido ao foque da mídia, mas também a
quantidade de fãs que passaram a acompanha e praticar.
Diferentemente do ano
passado, hoje dois canais televisivos de TV fechada (ESPN+ e Off) cobrem as
principais competições, o que não era feito ano passado.
No estado do
Rio Grande do Norte, não foi diferente, mas o que muitos não sabem, é que dois
dos principais surfistas do mundo nasceram no estado do RN.
São eles: o
“veterano” Jadson André, com 25 anos, natural de Natal e que cresceu na praia
de Ponta Negra (Bairro da cidade).
E o Rookie (iniciante) no WSL (World Surf
League, antigo WCT) Ítalo Ferreira, natural de Baía Formosa, que com apenas 20
anos (mesma idade em que Jadson entrou no circuito) já está entre os melhores
surfistas do mundo.
Amigos de
longa data, fazem parte do “time” formado pelos brazucas do circuito, o tão
temido Brazilian Storm.
Logo em seu primeiro ano no WCT, Jadson venceu Kelly
Slater, 11 vezes campeão mundial em uma final emocionante, na praia de Imbituba
em Santa Catarina.
Por sua vez, em sua primeira aparição na praia de Gold Coast
na Austrália, Ítalo faturou o nono lugar em um total de 36 e já mostra para os
seus concorrentes que vai ter um futuro longo e próspero dentro do Circuito Mundial
de Surf.
Para saber um
pouco mais sobre eles, os atletas concederam uma entrevista.
Quais as maiores dificuldades encontradas
para alcançar o lugar mais almejado pelos surfistas? O WSL?
Jadson: “Eu acho que a maior
dificuldade é você realmente manter um foco, você ficar 110% focado em ser o
melhor do mundo, que não é só você ter o talento, e sim estar preparado
psicologicamente, fisicamente e estar na sua vida só pensando em ser o número 1
do mundo. Você pode estar focado,
pode estar tentando fazer as coisas da melhor maneira possível, mas se parar
para pensar, não está fazendo o suficiente. Estamos competindo contra os
melhores do planeta, então, ainda mais hoje em dia que o nível é muito igual e
o mínimo do detalhe é que faz a grande diferença, no meu ponto de vista, para
alcançar o lugar mais almejado o maior desafio, é realmente manter foco de
verdade, não apenas falar que está focado, acordar de manhã e ir surfar.”.
Ítalo: “As duas maiores dificuldades
para você conseguir a vaga para o circuito mundial, são: patrocínio, porque tem
vários surfistas bons ali no tour, mas pela falta de patrocínio e oportunidades
não conseguem ir para todas as etapas e acabam ficando para trás e acredito
também que são as ondas, por serem um pouco difíceis e em mares totalmente
diferentes.”.
Quais as expectativas para o Tour desse
ano?
Jadson: “O meu objetivo esse ano é sem
dúvida acabar no Top 10. Já tenho esse objetivo há um bom tempo. Logo no meu
primeiro ano, consegui chegar perto, acabando em 13º mas acredito que esse ano
estou bem preparado e pode acontecer. Vou fazer de tudo para alcançá-lo. Enfim,
o meu foco esse ano é ser TOP 10.”.
Ítalo: “Minhas expectativas para o tour
desse ano são as melhores. É meu primeiro ano ainda, estou aprendendo muita
coisa, mas tenho foco, então vou mantê-lo e batalhar bastante para que possa
alcançar meus objetivos. Não vai ser nada fácil, mas com muito trabalho e
força, vou chegar lá.”.
Você acredita que o time do “Braziliam
Storm” está elevando os atletas do tour para outro nível?
Jadson: “Na realidade, esse Braziliam
Storm foram os gringos que colocaram esse apelido nos atletas brasileiros e
acabou que virou uma marca. Talvez as pessoas não saibam, mas o Braziliam Storm
hoje é uma marca. Um cara do Rio que “criou” e está vendendo a marca em cima da
gente, entendeu? Mas tirando esse pequeno problema aí, de que quem promove a
marca dele somos nós, eu acredito, sim, que esses atletas da nova geração estão
mostrando para os que estão começando agora, que tudo é possível e que eles
podem chegar lá também.”.
Ítalo: “O Braziliam Storm foi algo que
a mídia implantou, mas sabemos que o nosso esporte é individual, cada um tem
que fazer o seu trabalho e buscar seus objetivos.”.
Qual o sentimento/inspiração dos atletas
brasileiros após o título mundial do Gabriel Medina?
Jadson: “Sem dúvida é uma inspiração. O
título do Gabriel mostrou que todo mundo é capaz, então, hoje os atletas do
Brasil usam esse título como motivação, prova disso foi o Adriano (Mineirinho)
agora em Bells (Austrália). Durante uma entrevista, ele falou que a maior
inspiração dele é o Gabriel, por ter sido o primeiro brasileiro campeão do
mundo.”.
Ítalo: “Após o titulo mundial do
Gabriel, ele mostrou para os atletas do Brasil que tudo é possível e que se
você acreditar em seus objetivos, consegue chegar lá. Foi isso que ele fez e
serve de inspiração para todos nós.”.
Jadson, se você tivesse de escolher um
outro país para morar, pensando na evolução do seu surf, qual seria esse país?
Jadson: “Cara eu sempre falo, que seu
eu fosse morar em outro país, seria no Taiti. Na real, na Polinésia Francesa,
lá em Teahupoo. É o único lugar que eu moraria fora do Brasil, pois lá tem
altas ondas e uma energia incrível, as pessoas são incríveis.”.
E qual a sua relação com a onda mais perigosa
do mundo, Teahupoo, no Taiti?
Jadson: “Teahupoo é um lugar onde me
sinto bem por ser muito simples. A pessoa não usa nem chinelo. Na verdade é uma
vila de pescadores, onde você passa o dia comendo peixe. Lá não tem festa,
mulherada, balada. Em Teahupoo você só faz surfar, comer e dormir. Lá eu renovo
minhas energias, posso dizer que é o único lugar onde eu não sinto falta de
minha casa, é até difícil explicar. Tem ondas absurdas, casca grossa, talvez as
mais perigosas do mundo. Mas acho que pelo fato de me sentir tão à vontade lá,
eu não consigo ter medo. O medo é pouco, pois são ondas tão perigosas que podem
causar até a morte. Mas nem penso nisso. Fico tão bem, que só quero voltar lá o
máximo de vezes possíveis. Não sei, mas acredito que alguma vez na minha vida
espero poder morar lá, quem sabe alguns anos.”.
Ítalo, ter crescido em uma cidade que tem
os melhores lugares do RN para a prática do surf te ajudou a encarar com mais
facilidade as ondas pelo Brasil e pelo mundo?
Ítalo: “Eu cresci em um lugar que tem
altas ondas, que se chama Baía Formosa. Infelizmente não é muito constante, ou
seja, quebra pouco, a maioria do ano é pequena e com quebra-mares de 1 metro, 1
metro e meio no máximo, mas muito raro. Tive que viajar para aprimorar o meu
surf nas ondas maiores, ondas perfeitas, ondas tubulares, mas ainda estou nesse
processo porque você tem que evoluir sempre, então não é nada fácil.”.
E quais os
títulos que você conquistou até hoje? Qual o que você considera mais
importante?
Ítalo: “Conquistei vários títulos até
hoje, entre eles o de Campeão Brasileiro Sub-20 Pro Júnior, Campeão
Sul-Americano Sub-20 Pro Júnior, Vice-Campeão Mundial Júnior, Campeão
Brasileiro Profissional. Esses foram os títulos que considero mais importante
para minha carreira até agora.”.
Jadson, sabendo que você já viajou por
praticamente todo o mundo. Qual o país
você considerou mais importante para o seu amadurecimento como atleta?
Jadson: “Todos os países têm as suas
qualidades e seus defeitos. Mas só pelo fato de viajar muito, já amadureci bastante
e como já falei, o lugar que eu mais gosto é o Taiti.”.
Nos últimos meses o surf vem ganhando um
espaço considerado na mídia nacional e isso é importante para o crescimento do
esporte. Você acha que o surf pode vir a se tornar, no Brasil, um esporte tão
popular quanto o futebol?
Jadson: “Cara, eu jamais vou pensar que
o surf, vai chegar próximo do futebol. Aliás, o futebol é o futebol. O esporte
mais popular do mundo. É muito dinheiro, é muita coisa envolvida. O surf está ganhando
um espaço absurdo sim. Se comparar com dois anos, podemos ver um crescimento
muito grande, mas comparar com futebol, acho uma coisa quase impossível.”
Ítalo, sabendo
que você tem um empresário, isso ajuda a fazer com que você se preocupe apenas
com o necessário que é pegar onda e focar nas competições?
Ítalo: “Eu trabalho com o Pinga, que é
o meu manager a muito tempo (mesmo de Jadson). Acredito que um atleta precisa
ter esse suporte por trás para poder focar só em uma coisa, que é entrar na
água e dar o seu melhor. Não ficar preocupado em alugar um hotel, um carro,
comprar uma passagem, etc. Por isso, acho fundamental ter esse suporte para te
deixar despreocupado.”.
Você acabou
de conquistar sua vaga para a 1ª divisão do surf mundial – WSL – e apesar de
ser muito cedo para isso, você já pensa em atividades paralelas ao surf?
Ítalo: “É muito cedo para pensar nisso,
até mesmo porque sou muito novo, mas já estou me programando, sim, e pensando
no meu futuro. Meu pai, minha mãe, eles têm uma pousada e um barco em Baía Formosa,
e sempre que eu posso estou ajudando, investindo para que aquilo possa voltar
para a gente. Tenho muitos planos ainda, mas vou ter que caminhar aos poucos. É
isso aí.”.
* Victor Duarte Medeiros é aluno do
curso de Publicidade e Propaganda do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte e está matriculado na disciplina de
jornalismo esportivo, ministrada pela professora Michelle Ferret.
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