Imagem: The Freemasons Arms - Foi aqui que tudo começou
Futebol moderno nasceu há 153
anos.
Sabe como se jogava?
Em 26 de outubro de 1863, as
regras básicas começariam a ser discutidas na boemia de Londres; na época,
pegar a bola com as mãos era absolutamente normal
Por Leonardo Pinto, para a
revista Veja.
Quem nunca gastou saliva
discutindo futebol na mesa de um bar?
Toquinho e Vinicius de Moraes –
boêmios e apreciadores assumidos da bola – já demonstraram que esses dois
elementos são quase complementares: na canção Regra Três, os compositores
farristas transformaram uma conversa de bar em uma metáfora musical amorosa
baseada na terceira norma básica do futebol, que se refere à “substituição” (ou
“traição”, no caso).
É, então, nesse embalo que cabe
uma provocação aos leitores: o futebol ambientado em um bar se completa, e não
é à toa, afinal, foi justamente na boemia que as regras do esporte mais popular
do mundo foram criadas há exatos 153 anos.
No dia 26 de outubro de 1863, em
plena segunda-feira, doze marmanjos representantes de escolas públicas e times
amadores da Inglaterra se reuniram em Londres, no pub Freemason’s Arms Tavern,
e tiveram a primeira reunião que definiria dois marcos para a modalidade: a
fundação da federação inglesa, a Football Association (FA), e – mais importante
que isso – a criação do regulamento original do futebol moderno.
O futebol já era praticado nas
escolas públicas da Inglaterra e “era usado pela elite aristocrática como um
símbolo de boa imagem e um esporte disputado entre cavalheiros”, diz o
pesquisador do Museu do Futebol, Ademir Takara.
Cada escola e instituição jogava
como bem queria, não havia regras claras, mas na época algumas correntes
serviriam de base para o regulamento original da FA, como as regras da Escola
de Cambridge.
Como a forma de jogar era
diferente em cada lugar, Takara explica que foi necessário essa mobilização por
parte dos representantes das escolas e times ingleses para poderem organizar
campeonatos de futebol:
“Essa reunião tinha o objetivo de uniformizar as regras para as
instituições jogarem entre si e, portanto, fora de seu círculo”.
Após mais cinco encontros dos
representantes, seria publicado em dezembro de 1863 o livreto com as 13 regras
básicas e genéricas – hoje são 17 de acordo com a International Board, entidade
que atualmente rege as leis.
Apesar de muitas das normas terem permanecido, o
jogo era bem diferente devido à influência de esportes como o rúgbi, sendo
permitido, à princípio, até o uso das mãos.
A primeira partida oficial com as
novas regras ocorreu no dia 19 de dezembro entre Barnes e Richmond, que
empataram em 0 a 0.
Mas como era jogado o futebol naquela época?
Confira as
principais mudanças comparadas às regras atuais:
Goleiro? Para quê?
Nos primeiros anos do enfim
regulamentado futebol moderno não havia goleiro simplesmente por que todos os
jogadores em campo podiam pegar a bola com as mãos, desde que ela estivesse no
ar. Caso isso acontecesse, a partida era paralisada e o jogador que agarrou a
bola no alto poderia cobrar uma falta.
Impedimento geral
Nessa época, todos os jogadores
que estivessem à frente da linha da bola não poderiam tocá-la, pois estariam em
posição de impedimento. Portanto, o passe para trás, assim como no rúgbi, era
usado em larga escala.
Pancadaria permitida
“Não estava claro para os
praticantes dos primórdios do futebol o que caracterizaria uma falta”, afirma
Ademir Takara. Como o rúgbi foi a principal influência para a modalidade, o
contato físico era permitido e até carrinhos, caneladas e pontapés – hoje
execráveis – eram artifícios para derrubar o adversário e roubar a bola.
Fez o gol? Troca de lado
Naquela época, a cada gol marcado
os times tinham que obrigatoriamente mudar de lado.
Um gol sem travessão
O gol não tinha redes e muito
menos um travessão ligado às duas traves, o que se assemelhava ao rúgbi e ao
futebol americano, podendo marcar um gol a qualquer altura desde que a bola
passasse entre as traves.
Dimensões e marcações do campo
O comprimento máximo de um campo
de futebol era bem maior do que o praticado atualmente. Em 1863, permitia-se
jogar em um gramado de 200 jardas (cerca de 180 metros), enquanto hoje a
International Board estipula uma medida de até 130 jardas (120 metros). No ano
da regulamentação, também não havia nenhuma marcação da área, do meio de campo
ou dos escanteios, apenas as quatro linhas de fundo.
“Ei, juiz, vai tomar… ops, cadê o juiz?”
No começo do futebol moderno não
havia juiz: as questões legais da partida eram definidas pelos líderes de
capitães de cada equipe.
A bola
Há indícios, segundo o
pesquisador Ademir Takara, de que no começo usavam bexigas de animais como
porcos para fazerem a câmara da bola. Mas logo a ideia foi abominada e o látex
passou a ser o material do interior do objeto. Para revestir essa parte
interna, usava-se o couro. No entanto, na chuva era um problema: o peso poderia
dobrar e dificultar a condução da bola.
Vestimenta
Não havia nenhuma restrição nas
primeiras regras. “Usava-se roupas de algodão e os ingleses usavam calças como
símbolo da aristocracia, pois na época mostrar as pernas era considerado
vulgar”, explica Takara. O pesquisador do Museu do Futebol ainda diz que as
bandanas eram frequentemente usadas nas partidas por duas possíveis
explicações: 1) os panos das bandanas poderiam amortecer o impacto da bola em
cabeçadas; 2) as bandanas eram usadas para não sujar o cabelo, outra
preocupação dos jogadores da elite. A única ressalva descrita entre as 13
normas básicas do futebol era de que os calçados não poderiam ter pregos ou
travas.
Um comentário:
Muito interessante a história. Não tinha conhecimento dessa versão. Mais uma para meu alfarrábio sobre o futebol.
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