quinta-feira, abril 26, 2018

O dia em que Klopp descartou Coutinho e fez o Liverpool deslanchar...

Imagem: Autor Desconhecido



O dia em que Klopp descartou Coutinho e fez o Liverpool deslanchar

Os testes do técnico na temporada 2016-17 desqualificaram o brasileiro como meia e o colocaram atrás de Mané, Firmino e Salah como o reserva mais caro da história

Por Diego Torres para o El País

O sucesso comercial e esportivo do Liverpool na atual temporada está enraizado na estratégia traçada por Jürgen Klopp em maio de 2017.

Solicitado a apresentar um plano para disputar os principais títulos, a Premier League e a Champions League, o técnico alemão se reuniu com os dirigentes para informá-los que, depois de uma temporada de testes, tinha chegado à conclusão que o esquema tático que mais se adequava ao elenco era o 4-3-3 e nesse sistema Philippe Coutinho só podia se destacar em uma das pontas.

Quando o clube levantou a possibilidade de contratar Mohamed Salah, o técnico disse à direção que estava de acordo, mas que Salah deveria disputar a posição com Coutinho.

Nunca com Mané e Firmino, que considerou inquestionáveis.

Nos escritórios do Liverpool ninguém se surpreendeu ao ver que os dirigentes se abraçavam como se tivessem conquistado um título quando, no dia 6 de janeiro, fecharam a transferência de Coutinho ao Barcelona por 160 milhões de euros (cerca de 673 milhões de reais), um recorde depois de Neymar e Mbappé.

Nunca a venda do terceiro jogador de futebol mais caro da história significou menos sacrifício e mais benefícios para um clube importante.

Influenciado pela escola alemã tradicional, Klopp parte de um princípio básico: antes que boleiros, para ser competitivos no mais alto nível, seus jogadores devem ser regulares.

A regularidade, de acordo com sua filosofia, está ligada ao elemento biológico.

Tem pouca utilidade que os jogadores manipulem conceitos e sejam habilidosos se não forem confiáveis na execução da pressão quando não tiverem a bola e constantes em se desmarcarem quando a tiverem.

As experiências de Klopp na temporada 2016-17 se concentraram em verificar como os jogadores se adaptavam às exigências físicas impostas pela divisão de tarefas nos diferentes espaços atribuídos pelos sistemas 4-2-3-1 e 4-3-3.

Os testes colocaram ênfase nas transições: ataque-defesa e defesa-ataque.

Desde o início, revelaram que Coutinho era um magnífico jogador intermitente.

Seu sistema cardiovascular não lhe permitia realizar esforços nos níveis de Firmino, Mané, Can, Wijnaldum, Milner, Oxlade-Chamberlain e Lallana.

Os meio-campistas que melhor se ajustaram ao 4-3-3 no ano passado foram, com base nos resultados dos testes, Henderson, Wijnaldum e Can.

Explosivo e decisivo em espaços reduzidos, Coutinho carecia de coração e pulmões adequados para render com continuidade nos grandes espaços do meio-campo.

Nos testes físicos que simulavam situações de jogo, depois de dois sprints de 60 metros Coutinho não conseguia se recuperar sem permanecer meio minuto completamente parado.

Era muito tempo, dadas as exigências táticas.

Enfatizando o dinamismo permanente, Klopp descartou Coutinho para integrar o meio-campo no 4-3-3.

Mesmo quando o colocou como ponta, comprovou que não conseguia se reposicionar quando o time se recolocava.

Durante várias jornadas, ensaiou um 4-2-3-1 para colocá-lo atrás dos pontas, com um raio de ação menor para evitar que sofresse.

Se jogava como segundo ponta, podia não voltar sem provocar sérios desajustes, enquanto o resto do time se organizava 20 metros mais atrás.

Mas o 4-2-3-1, na opinião de Klopp, não permitia que a equipe ocupasse os espaços da maneira mais eficiente possível.

Da perplexidade ao riso

A primeira oferta do Barcelona por Coutinho foi de 60 milhões de euros, cerca de um ano atrás.

A reação de Klopp foi de perplexidade.

Ele pensou que o Barcelona tinha as três vagas de ataque cobertas com Messi, Suárez e Neymar. Quando lhe disseram que Bartomeu contrataria Dembelé para substituir Neymar e oferecia mais de 100 milhões para Coutinho se revezar com Iniesta, seu espanto se transformou em gargalhada.

De acordo com um funcionário do clube inglês, Klopp foi taxativo:

“Coutinho é um fabuloso atacante, mas nunca se sentirá confortável no 4-3-3 atuando por dentro; e muito menos se tiver que jogar no posto de Iniesta no 4-4-2 que Valverde pratica na fase defensiva, no qual os deslocamentos mais longos devem ser feitos pelos alas. Iniesta é um organizador. Coutinho não”.

Com Coutinho jogando por dentro no 4-3-3, nesta temporada o Liverpool naufragou contra o Sevilla (3 a 3) na Champions e empatou em Anfield contra o Burnley (1 a 1).

Os dois jogos tiveram o caráter de teste e ambos forneceram evidências claras.

Em dezembro, Klopp não tinha dúvidas sobre a incompatibilidade de Coutinho como meio-campista.

As estatísticas tampouco o credenciavam para ser titular como atacante.

Na temporada 2016-17, Coutinho fez 36 jogos, marcou 14 gols e deu nove assistências; enquanto nas 46 partidas que disputou nesta temporada Salah marcou 41 gols e deu 13 assistências.

Há duas semanas, o Liverpool eliminou o Manchester City da Champions e nesta terça-feira joga contra a Roma na partida de ida das semifinais.

A adaptação de Salah à ponta direita fez de Coutinho o reserva mais caro da história.

Feita a transferência para o Barcelona, a equipe dos reds se gaba de ser beneficiária de uma bolada de dinheiro cujas consequências esportivas parecem igualmente espetaculares.

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