sábado, março 21, 2020

Surge a compaixão em meio ao caos...

Imagem: Autor Desconhecido

Surge a compaixão em meio ao caos

Clubes brasileiros iniciaram um movimento de cessão de suas instalações, como estádios e centros de treinamento, para que o Governo as use no combate à pandemia de coronavírus

Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte

Tempos difíceis costumam produzir grandes ações.

A Segunda Guerra Mundial, por exemplo, levou algumas pessoas a terem gestos humanitários para combater o horror do Holocausto.

A pandemia de coronavírus, que tem levado a morte milhares de pessoas que desenvolvem a COVID-19, apesar de assombrar o planeta e deixar a economia mundial à beira da maior recessão da história da humanidade, também tem suscitado bonitos gestos.

Na Itália e na Espanha, as pessoas têm ido às suas varandas para cantar e para aplaudir os operadores da saúde que travam uma verdadeira guerra contra o desleal inimigo invisível.

Outras ações estão em curso nos países mais afetados e agora chegou a nossa vez.

Com números galopantes, o Brasil se prepara para semanas e meses de escuridão e sofrimento. Serão, sem dúvidas, tempos difíceis.

A comoção parece ter pressionado os mandatários do futebol brasileiro.

Depois que os casos confirmados passaram a casa dos 600, clubes passaram a oferecer suas dependências para que sejam instaladas estruturas que poderão ajudar no acolhimento e tratamento dos infectados que deverão passar as dezenas de milhares nos próximos dias, segundo previsões do Ministério da Saúde.

Sem atividade no futebol nacional desde o último final de semana, estádios e centros de treinamento estão às moscas e, com as características de amplitude de suas áreas, são espaços ideais para a instalação de hospitais de campanha.

Mesmo que não sejam usados como hospitais, podem servir para abrigar em isolamento casos leves para que não disseminem o vírus.

A lista de clubes que se prontificaram a abrir as portas de suas casas para ajudar no combate à pandemia de coronavírus, já conta, até o momento, com 9 times.

São eles: Athletico-PR: ofereceu às autoridades paranaenses, tanto a Arena da Baixada, localizada em região privilegiada de Curitiba, como o CAT Alfredo Gottardi, para que sejam promovidas no local ações como vacinação ou tratamento dos doentes; Bahia: disponibilizou ao governo baiano, o CT Fazendão.

A Secretaria de Saúde do estado inspecionou o local e aprovou para o uso se for preciso.

De acordo com a assessoria do clube, o CT foi casa do Bahia até janeiro, e tem 125.000 M2, 3 pavilhões com salas e 28 quartos; Botafogo: cedeu ao governo estadual a infraestrutura do estádio Nilton Santos, o Engenhão, para ajudar no que for necessário no período da pandemia COVID-19; Corinthians: colocou à disposição das autoridades, a sede social do Parque São Jorge, o CT Joaquim Grava, além da Arena Corinthians, que atenderia de maneira extremamente funcional a Zona Leste da capital paulista; Cruzeiro: ofereceu aos órgãos competentes, a Sede Campestre, os dois clubes sociais e o parque esportivo do Barro Preto; Juventude: disponibilizou seu ginásio para que as autoridades locais usem da forma que julgarem mais conveniente; Náutico: deixou à disposição do governo pernambucano, seu CT com estrutura de leitos, restaurantes e sala de médicos; Santos: ofereceu todas as suas dependências para a Secretaria de Saúde santista, São Paulo: disponibilizou o Morumbi e toda sua estrutura como os CT’s da Barra Funda e de Cotia.

Com o passar dos dias, outras boas ações surgirão vindas de outros clubes.

O Palmeiras ofereceu o Allianz Parque para a vacinação contra a gripe, além de proporcionar flexibilidade no pagamento de seu clube social e dos planos de sócio torcedor.

Quando Ronaldo, então um dos gestores do comitê organizador da Copa do Mundo do Brasil, proferiu a infame frase: “não se faz Copa com hospitais e sim com estádios”.

Provavelmente o ex-jogador não imaginasse o caos que viria nessa crise mundial e que seria potencializado pelos desarrazoados gastos daquela época.

Chegamos ao precipício do apocalipse sem hospitais ou respiradores suficientes, com estádios de sobra, além do bom e velho espírito de compaixão para dar o jeitinho brasileiro.

Nos palcos do espetáculo da bola, nos próximos dias e meses, teremos batalhas pela vida e a nossa torcida é para que a gente ganhe de goleada.

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