segunda-feira, agosto 30, 2021

Por que os times gastam fortunas com bancos de carros esportivos para os jogadores reservas na Europa?

Imagem: Real Madrid CF

Por que os times gastam fortunas com bancos de carros esportivos para os jogadores reservas na Europa?

Tudo começou a partir de uma dor nas costas e hoje clubes como Real Madrid e Bayern de Munique são adeptos desses bancos que vão muito além do conforto

Por André Schaun/Auto Esporte

Quem assiste aos jogos do futebol europeu pela televisão já deve ter percebido que muitos times, como Real Madrid, Bayern de Munique, Manchester United, Borussia Dortmund, Lyon e tantos outros, têm bancos de carros esportivos como assento para os jogadores reservas no estádio.

E na maioria dos casos, há uma assinatura (nos encostos de cabeça) bem conhecida dos entusiastas de automóveis: Recaro

Antes de detalhar a empresa alemã famosa por seus bancos, vamos falar dos custos.

Atualmente, os clubes gastam o dinheiro que for preciso para tê-los.

Cada banco sai por 3,5 mil euros em média – mais de R$ 20 mil por cada peça.

Entre jogadores e todos os membros da comissão técnica, são necessários de vinte a trinta assentos.

Esse número é multiplicado por dois contando o espaço para o time adversário.

Isso sem levar em conta que muitos clubes têm esses bancos nos centros de treinamento.

Qual a lógica de gastar tanto dinheiro com os bancos?

Tudo começou em 1990 por causa do técnico Karl-Heinz Feldkamp, do Kaiserslautern FC, da Alemanha.

O então CEO da Recaro, Ulrich Putsch, era um dos conselheiros do Kaiserslautern FC na época e, após ouvir queixas do treinador sobre dor nas costas durante os jogos por causa dos bancos de reserva, Ulrich teve a ideia de pegar um assento de carro esportivo e colocar no lugar da desconfortável cadeira do comandante.

O que é a Recaro?

Para refrescar a memória, antes de continuar a história vamos voltar um pouco no tempo.

A Recaro se tornou uma das marcas mais importantes do mundo na fabricação de bancos esportivos para automóveis.

Fundada em 1906, na Alemanha, a empresa nasceu com o nome: Stuttgarter Carosserie und Radfabrik e mudou para Stuttgarter Karosseriewerk Reutter & Co três anos depois.

Nessa época, ela era fabricante de carroceria e fornecedora de peças, e fez os primeiros protótipos do Fusca para Ferdinand Porsche, além dos primeiros 40 modelos de produção, em 1938.

A relação produtiva com a Porsche foi além.

A marca também participou da produção das primeiras 500 unidades do clássico 356, em 1948.

A Recaro fabricante de bancos, como conhecemos hoje, surgiu em 1963. O primeiro assento foi apresentado no Salão de Frankfurt, na Alemanha, em 1965, o "Recaro Sportsitz".

A fama da marca Recaro veio logo no início com uma ideia completamente revolucionária para a época: vender bancos automotivos para o mercado de reposição.

O cliente comprava um banco da Recaro e substituía pelo que já vinha de fábrica em seu carro.

Os primeiros bancos esportivos, também chamados de concha, começaram a ser produzidos um pouco depois, somente em 1967.

Com isso, a Recaro praticamente dominou as pistas pelo mundo e virou praticamente a única fornecedora desse tipo de assento.

O que ela fez?

Começou a ouvir os pilotos para trazer esse conceito para os carros de estrada.

E claro, deu certo.

Ao longo dos anos, várias linhas icônicas foram lançadas, como: o "Recaro Idealsitz” de 1971, o "Recaro LS” de 1983, e o "Recaro A8” de 1989 que foi o primeiro banco do mercado com encosto feito de plástico reforçado com fibra de vidro.

No início da década de 1990, com mais tecnologia no mercado, a Recaro se junto a renomados cientistas, médicos, designers e engenheiros para desenvolver bancos mais ergonômicos.

O diferencial da Recaro, além da durabilidade dos materiais e do conforto, sempre foi o amplo portfólio com vários tipos de tecido, principalmente couro, e muitas variações de cor e desenhos.

A marca é praticamente unânime entre os amantes de carro.

Ao longo da história, a fabricante alemã vem equipando os bancos esportivos das fabricantes mais importantes do mercado, como: Audi, Aston Martin, BMW, Chevrolet, Fiat, Ford, Mercedes-Benz, Porsche, Volkswagen e tantas outras.

No Brasil, a Recaro ficou muito marcada por fornecer os bancos de grandes ícones do mercado nas décadas de 1980 e 1990, principalmente da Volkswagen, com Passat GTS e Gol GT, GTI e GTS, da Chevrolet, com Kadett GS e GSi, e da Ford, como o Escort XR3.

Revolução da Recaro nos estádios

Voltando aos gramados.

A tal dor nas costas do técnico alemão revolucionou o banco de reservas desde então.

Os jogadores do próprio Kaiserslautern FC ao verem a diferença de conforto entre a cadeira do comandante e a deles, pediram para colocar bancos esportivos em todos os assentos da área destinada aos reservas.

O pedido foi aceito e o time alemão foi o primeiro do mundo a ter bancos de carros esportivos para todos os atletas e a comissão técnica.

Depois do Kaiserslautern FC, a marca começou a fechar patrocínio com clubes pelo mundo inteiro.

Até o São Paulo, aqui no Brasil, colocou bancos Recaro no Morumbi.

“Os clubes tornaram esses bancos itens praticamente obrigatórios para os jogadores, não só pelo conforto. Atualmente, os assentos são muito tecnológicos e contam com massageadores e até aquecimento para o inverno. Todas essas funcionalidades são exigidas pelos times para ajudar a reduzir tensões musculares e distúrbios circulatórios nos atletas, auxiliando na redução de contusões", explicou Tilman Schaefer, diretor executivo da Recaro, ao site americano Jalopnik.

Na Europa, principalmente no inverno, as temperaturas ficam abaixo de zero em muitos países.

No frio, as lesões musculares aumentam consideravelmente, então ter esses recursos para soltar a musculatura viraram indispensáveis mesmo.

Basta assistir jogos da Europa, onde é difícil encontrar estádios que não tenham os assentos esportivos no banco de reservas.

Outras marcas – não necessariamente de carros – também começaram a entrar no mundo do futebol para modernizar os bancos de reserva, inclusive até fabricantes de bancos de aeronaves.

O Manchester City, da Inglaterra, é um deles.

O clube é patrocinado pela companhia aérea Etihad Airways, do Emirados Árabes, e os assentos onde os jogadores ficam no estádio são de avião.

Nos carros, os bancos esportivos "abraçam" os motoristas com revestimentos laterais reforçados, mantendo o corpo firme no assento, principalmente em curvas.

O encosto da cabeça também é alongado para evitar trancos no pescoço.

Obviamente que sentar em um banco com um carro em movimento, ou sentar para ficar parado, como os jogadores, as necessidades de materiais e revestimentos são diferentes.

Atualmente a Recaro fornece bancos para mais de 150 times, segundo a empresa.

O site oficial diz que cada clube tem uma especificação, então são feitos bancos exclusivos sob demanda, por isso eles não são comercializados para o público.

Para nós, telespectadores do esporte, a diferença entre ter esses bancos ou não é zero.

Porém, dentro do futebol, com certeza houve uma revolução de 1990 para cá com a introdução deles.

Talvez a dor nas costas do técnico do Kaiserslautern FC tenha sido a "contusão" mais benéfica da história do futebol.

Um comentário:

jornal da grande natal disse...

Ótima explicação para um ignorante como eu. Agora sei o motivo daqueles bancos nos estádios. Antes achava uma bizarrice. Tá explicado.