Por que os times gastam fortunas com bancos de carros esportivos para os
jogadores reservas na Europa?
Tudo começou a partir de uma dor nas costas e hoje clubes como Real
Madrid e Bayern de Munique são adeptos desses bancos que vão muito além do
conforto
Por André Schaun/Auto Esporte
Quem assiste aos jogos do futebol europeu pela televisão já deve ter
percebido que muitos times, como Real Madrid, Bayern de Munique, Manchester
United, Borussia Dortmund, Lyon e tantos outros, têm bancos de carros
esportivos como assento para os jogadores reservas no estádio.
E na maioria dos casos, há uma assinatura (nos encostos de cabeça) bem
conhecida dos entusiastas de automóveis: Recaro
Antes de detalhar a empresa alemã famosa por seus bancos, vamos falar dos
custos.
Atualmente, os clubes gastam o dinheiro que for preciso para tê-los.
Cada banco sai por 3,5 mil euros em média – mais de R$ 20 mil por cada
peça.
Entre jogadores e todos os membros da comissão técnica, são necessários
de vinte a trinta assentos.
Esse número é multiplicado por dois contando o espaço para o time
adversário.
Isso sem levar em conta que muitos clubes têm esses bancos nos centros de
treinamento.
Qual a lógica de gastar tanto dinheiro com os bancos?
Tudo começou em 1990 por causa do técnico Karl-Heinz Feldkamp, do
Kaiserslautern FC, da Alemanha.
O então CEO da Recaro, Ulrich Putsch, era um dos conselheiros do Kaiserslautern
FC na época e, após ouvir queixas do treinador sobre dor nas costas durante os
jogos por causa dos bancos de reserva, Ulrich teve a ideia de pegar um assento
de carro esportivo e colocar no lugar da desconfortável cadeira do comandante.
O que é a Recaro?
Para refrescar a memória, antes de continuar a história vamos voltar um
pouco no tempo.
A Recaro se tornou uma das marcas mais importantes do mundo na fabricação
de bancos esportivos para automóveis.
Fundada em 1906, na Alemanha, a empresa nasceu com o nome: Stuttgarter
Carosserie und Radfabrik e mudou para Stuttgarter Karosseriewerk Reutter &
Co três anos depois.
Nessa época, ela era fabricante de carroceria e fornecedora de peças, e
fez os primeiros protótipos do Fusca para Ferdinand Porsche, além dos primeiros
40 modelos de produção, em 1938.
A relação produtiva com a Porsche foi além.
A marca também participou da produção das primeiras 500 unidades do
clássico 356, em 1948.
A Recaro fabricante de bancos, como conhecemos hoje, surgiu em 1963. O primeiro
assento foi apresentado no Salão de Frankfurt, na Alemanha, em 1965, o
"Recaro Sportsitz".
A fama da marca Recaro veio logo no início com uma ideia completamente
revolucionária para a época: vender bancos automotivos para o mercado de
reposição.
O cliente comprava um banco da Recaro e substituía pelo que já vinha de
fábrica em seu carro.
Os primeiros bancos esportivos, também chamados de concha, começaram a
ser produzidos um pouco depois, somente em 1967.
Com isso, a Recaro praticamente dominou as pistas pelo mundo e virou
praticamente a única fornecedora desse tipo de assento.
O que ela fez?
Começou a ouvir os pilotos para trazer esse conceito para os carros de
estrada.
E claro, deu certo.
Ao longo dos anos, várias linhas icônicas foram lançadas, como: o
"Recaro Idealsitz” de 1971, o "Recaro LS” de 1983, e o "Recaro
A8” de 1989 que foi o primeiro banco do mercado com encosto feito de plástico
reforçado com fibra de vidro.
No início da década de 1990, com mais tecnologia no mercado, a Recaro se
junto a renomados cientistas, médicos, designers e engenheiros para desenvolver
bancos mais ergonômicos.
O diferencial da Recaro, além da durabilidade dos materiais e do
conforto, sempre foi o amplo portfólio com vários tipos de tecido,
principalmente couro, e muitas variações de cor e desenhos.
A marca é praticamente unânime entre os amantes de carro.
Ao longo da história, a fabricante alemã vem equipando os bancos
esportivos das fabricantes mais importantes do mercado, como: Audi, Aston
Martin, BMW, Chevrolet, Fiat, Ford, Mercedes-Benz, Porsche, Volkswagen e tantas
outras.
No Brasil, a Recaro ficou muito marcada por fornecer os bancos de grandes
ícones do mercado nas décadas de 1980 e 1990, principalmente da Volkswagen, com
Passat GTS e Gol GT, GTI e GTS, da Chevrolet, com Kadett GS e GSi, e da Ford,
como o Escort XR3.
Revolução da Recaro nos estádios
Voltando aos gramados.
A tal dor nas costas do técnico alemão revolucionou o banco de reservas
desde então.
Os jogadores do próprio Kaiserslautern FC ao verem a diferença de
conforto entre a cadeira do comandante e a deles, pediram para colocar bancos
esportivos em todos os assentos da área destinada aos reservas.
O pedido foi aceito e o time alemão foi o primeiro do mundo a ter bancos
de carros esportivos para todos os atletas e a comissão técnica.
Depois do Kaiserslautern FC, a marca começou a fechar patrocínio com
clubes pelo mundo inteiro.
Até o São Paulo, aqui no Brasil, colocou bancos Recaro no Morumbi.
“Os clubes tornaram esses bancos itens praticamente obrigatórios para os
jogadores, não só pelo conforto. Atualmente, os assentos são muito tecnológicos
e contam com massageadores e até aquecimento para o inverno. Todas essas
funcionalidades são exigidas pelos times para ajudar a reduzir tensões
musculares e distúrbios circulatórios nos atletas, auxiliando na redução de
contusões", explicou Tilman Schaefer, diretor executivo da Recaro, ao site
americano Jalopnik.
Na Europa, principalmente no inverno, as temperaturas ficam abaixo de
zero em muitos países.
No frio, as lesões musculares aumentam consideravelmente, então ter esses
recursos para soltar a musculatura viraram indispensáveis mesmo.
Basta assistir jogos da Europa, onde é difícil encontrar estádios que não
tenham os assentos esportivos no banco de reservas.
Outras marcas – não necessariamente de carros – também começaram a entrar
no mundo do futebol para modernizar os bancos de reserva, inclusive até
fabricantes de bancos de aeronaves.
O Manchester City, da Inglaterra, é um deles.
O clube é patrocinado pela companhia aérea Etihad Airways, do Emirados
Árabes, e os assentos onde os jogadores ficam no estádio são de avião.
Nos carros, os bancos esportivos "abraçam" os motoristas
com revestimentos laterais reforçados, mantendo o corpo firme no assento, principalmente
em curvas.
O encosto da cabeça também é alongado para evitar trancos no pescoço.
Obviamente que sentar em um banco com um carro em movimento, ou sentar
para ficar parado, como os jogadores, as necessidades de materiais e
revestimentos são diferentes.
Atualmente a Recaro fornece bancos para mais de 150 times, segundo a
empresa.
O site oficial diz que cada clube tem uma especificação, então são feitos
bancos exclusivos sob demanda, por isso eles não são comercializados para o
público.
Para nós, telespectadores do esporte, a diferença entre ter esses bancos
ou não é zero.
Porém, dentro do futebol, com certeza houve uma revolução de 1990 para cá
com a introdução deles.
Talvez a dor nas costas do técnico do Kaiserslautern FC tenha sido a "contusão" mais benéfica da história do futebol.
Um comentário:
Ótima explicação para um ignorante como eu. Agora sei o motivo daqueles bancos nos estádios. Antes achava uma bizarrice. Tá explicado.
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