O brilhantismo de Bill Russell
dentro e fora das quadras
Por Tiago Lima do Universidade
do Esporte
Pioneiro na luta contra o
racismo, o maior campeão da NBA mudou o esporte e marcou o combate em prol dos
direitos civis
Bill Russell está, sem dúvida
alguma, entre os maiores da história do basquete.
Detentor de incríveis onze
títulos, ele é o principal responsável pela dinastia do Boston Celtics que
perdurou de 1959 até 1966, com oito anéis conquistados.
Mas sua trajetória começa muito
antes de sua entrada na NBA.
Crescimento e chegada na
faculdade
Bill nasceu em 1934, na zona
rural de Louisiana.
O sul estadunidense da época era
fortemente marcado pelo racismo, fazendo com que sua mãe o avisasse, desde
cedo, que iriam recriminá-lo somente por sua cor de pele, ensinando-o que
precisaria enfrentar pessoas do tipo para que pudesse viver dignamente.
Em busca de uma vida melhor, seus
pais se mudaram para Oakland, California, sendo esse o local em que Bill viria
a conhecer o basquete.
Surpreendentemente, não se
destacava: “Eu não entendia como eu tinha nove anos e as crianças de seis
jogavam melhor”, declarou ele.
Quando tinha 12 anos, sua mãe
faleceu.
As lições maternas, contudo, não
passaram despercebidas.
O posicionamento categórico e
incisivo perante as questões sociais e raciais o acompanharam durante toda sua
trajetória, seja em âmbito profissional ou pessoal.
Na McClymonds High School, apesar
de, novamente, não ter se sobressaído, conseguiu uma bolsa para a Universidade
de San Francisco.
Mas o Bill que se apresentava
durante os jogos universitários estava longe do adolescente comum do ensino
médio.
O domínio foi tão esmagador que a
NCAA (National Collegiate Athletic Association) alterou até mesmo as regras,
estendendo mais a linha do lance livre.
Em seu ano de calouro, ganhou 28
de 29 jogos, com média de 20 pontos e 20 rebotes por partida. No ano seguinte
(1956), não foi derrotado, vencendo 55 jogos.
Ainda que tenha feito história no
basquete universitário, os anos não foram fáceis.
Os debates sobre as questões
raciais pareciam não atingir efetivamente a realidade.
Russell mencionou que acreditava
ter cerca de nove estudantes negros no campus, durante todo o período que
passou por lá.
Além disso, relatou receber
várias mensagens de ódio toda semana, especialmente quando seu time vencia.
Durante o draft, foi escolhido
pelo St. Louis Hawks, sendo posteriormente trocado para o Boston Celtics.
Tempo como jogador do Boston
Celtics
A chegada de Russell teve impacto
imediato.
O time de Boston alcançava, pela
primeira vez em sua história, as finais da NBA.
O adversário?
St. Louis Hawks.
Das arquibancadas rivais,
insultos racistas eram proferidos para a nova estrela do time celta.
Após seis partidas, a série
estava empatada.
No sétimo jogo, quando tudo
apontava para o título de St. Louis, Russell fez um bloqueio milagroso que
contribuiu diretamente para a vitória no segundo tempo da prorrogação.
Além do troféu inédito, Bill
Russell mudou completamente a dinâmica do Boston Celtics: executava bloqueios
devastadores, pegava rebotes e direcionava passes decisivos, proporcionando
recursos para uma melhor transição de jogo.
Dessa maneira, a jovem estrela
era vital tanto para o motor ofensivo quanto defensivo do time.
As finais de 1598 foram perdidas
para o mesmo St. Louis Hawks, quando Russell estava machucado.
Em 1959, o triunfo sobre o
Minneapolis Lakers sinalizou não só o retorno ao topo, como também o início de
um feito até hoje inigualado por qualquer time da liga: a conquista de oito
campeonatos consecutivos.
De 1959 até 1966, o Celtics
manteve o título em Boston.
O principal responsável pelo
feito?
Bill Russell.
O jogador revolucionou a posição
de pivô, alterando o panorama do jogo defensivo e trazendo consistência para a
equipe.
O esplendor de seu êxito,
contudo, não o colocava em boas graças com outras pessoas.
Sua personalidade e
posicionamentos o faziam ser confundido com alguém arrogante e mal-humorado,
quando, na realidade, era algo muito diferente.
Bill era inteligente, calmo e
comedido, porém sabia o que queria e agia de acordo com tal.
Em uma cidade que permanecia, em
grande medida, segregada, os anos 60 trouxeram para Boston o fervor do combate
em defesa dos direitos civis.
Nesse contexto, a ideia de um
homem negro ser peça importante de uma grande franquia de basquete e uma
personalidade relevante socialmente ainda não parecia apetecer diversas
pessoas, inclusive as da torcida do próprio time que Bill somente
beneficiava. racismo continuava e ele
permanecia sofrendo.
Em certa ocasião, quando Russell
comprou uma casa em Redding, indivíduos invadiram sua casa, quebrando seus
troféus e defecando em sua cama.
Em outra demonstração explícita
de racismo, quando o time de Boston estava em um restaurante em Lexington, o
gerente avisou que eles não iriam servir comida para pessoas negras. Russell
disse que não haveria razão para jogar em um local que não poderiam sequer
comer em um restaurante.
Final de carreira
Após os oito títulos entre 59/66,
Bill viria a conquistar outros dois em 1968 e 1969, sendo este último no ano de
sua aposentadoria.
Não encerrou em bons termos com a
torcida.
Em artigo escrito para a Slam
Magazine, ele contou que sofria, também, ofensas racistas da própria torcida. “Eu
não jogava pela cidade ou pelos fãs”, relatou.
Bill foi o primeiro a repetir
consecutivamente como MVP, nas temporadas de 1960/61 e 1961/62.
Conquistou onze títulos em treze
temporadas, sendo dois como treinador e jogador, o único que conseguiu a
façanha.
Foi, também, o primeiro treinador negro da NBA e o único a ser introduzido ao hall da fama do basquete como jogador e treinador.
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