quinta-feira, outubro 03, 2024

George Best, um dos maiores craques do mundo que acabou derrotado pelo álcool e pelas noites insones

Imagem: Autor Desconhecido

George Best não morreu

Por Ananda Miranda

Alcunhado como Elvis Presley do futebol, o norte-irlandês George Best teve uma vida regada por bebidas, mulheres e boates nos anos de 1960.

Paralelo à vida boêmia e a marcante presença nas manchetes dos tabloides, o estrelato do galã de Belfast, estava dentro das quatro linhas de um estádio, onde um verdadeiro show acontecia.

Esse astro do futebol ficou conhecido como um dos maiores jogadores da história, a começar do próprio sobrenome (“melhor”, em inglês), que deu origem a ditados como “Maradona Good, Pelé Better, George Best”.

Ainda que anos depois da sua dolorosa morte, a história de Best permanece viva como um marcante capítulo no enredo das maiores lendas do futebol mundial.

O gênio do futebol britânico

Nascido em 1946 em Belfast, capital da Irlanda do Norte, demonstrou o amor pelo futebol desde muito novo, diferente das outras crianças, que dormiam aconchegadas a um bicho de pelúcia, George dormia abraçado a bola de futebol, sua grande paixão.

Não demorou muito para o menino franzino encantasse os espectadores que o acompanhavam nas partidas das competições amadoras da cidade.

O garoto encantava a todos com seu futebol cheio de nuances e surpreendia por não intimidar ou se acanhar ou tremer diante de adversários, muitas vezes mais altos e mais fortes que ele...

George Best era um prodígio.

Nascido no seio de uma família protestante, frequentador assíduo da igreja Presbiteriana ao lado de seus pais Dickie, grande apaixonado pelo esporte, e Anne, uma hoquista que teve o sucesso de sua carreira interrompido pela Segunda Guerra.

Destaque na escola, George estudou em instituições como Grosvenor High School, uma das mais renomadas da Irlanda.

Perfeccionista, o jovem talento não media esforços, a fim de melhorar o chute - treinava usando chuteira somente no pé esquerdo e tênis no direito.

O truque funcionou com apenas 17 anos assinava grandes lances e belos gols...

Não demorou muito até que fosse percebido por Bob Bishop, olheiro do Manchester United, que após assisti-lo algumas vezes, enviou um telegrama curto e direto ao técnico Matt Busby: “Encontrei um gênio pra você”.

A Ascensão e o Brilho do Ícone do Manchester United

Em 1963 Best se mudou para a cidade de Manchester e estreou como profissional na primeira divisão, demorou dois meses para o primeiro gol ser feito e um curto espaço de tempo até os jornais o apelidarem como “o Elvis Presley do futebol”.

Logo, o atleta estava cercado de contratos para propaganda dos mais variados produtos além de multidões de fãs e jornalistas o perseguindo, algo incomum para jogadores na época.

O ápice da fama veio em 1968, quando foi campeão europeu marcando gols em todas as rodadas, além de receber o prêmio Bola de Ouro pela Revista France Football.

George Best marcou 178 gols em 466 jogos pelo Manchester em toda a sua carreira, mas os gols não vinham apenas em quantidade e sim em qualidade, que acabaram colocando na conta dos “Diabos Vermelhos” dois Campeonatos Ingleses, duas Supercopas da Inglaterra e uma Champions League.

Anos marcantes para a equipe que contava com o trio de ataque que imortalizou o Manchester: Bobby Charlton, Denis Law e George Best.

Nem só de holofotes viveu o badboy de Belfast, pelo contrário, quando as luzes dos estádios se apagavam, “O quinto Beatle”, se entregava ao vício em álcool e às festas, noitadas que acabaram por destruir sua carreira na mesma velocidade de sua ascendência.

Talento e controvérsia

“Gastei boa parte do meu dinheiro com bebidas, mulheres e carros rápidos. O resto eu desperdicei.”

George Best

Talento, fama e beleza eram características que faziam muitas mulheres o desejarem e os homens o invejarem, George Best se aproveitava disso para viver intensamente e sem pensar nas consequências.

De forma lamentável isso começou a interferir na vida profissional e pessoal do atleta, rendido ao vício e aos romances os jornais começaram a acrescentar à Best os adjetivos: apostador, beberrão e mulherengo.

Bobby Charlton deixava claro que não concordava com as atitudes irreverentes de Best, entretanto o apoio da torcida e a proteção de Matt Busby, o mantiveram na equipe, apesar dos inúmeros jogos que deixou de jogar impedido pela ressaca ou embriaguez.

Na visão da torcida e do técnico, no pouco tempo de campo em que George atuava, o brilhantismo do bom futebol apresentado compensava as irresponsabilidades.

Em 1972, o técnico Tommy Docherty chegou ao Manchester e lidou com uma relação conflituosa com George Best durante dois anos.

Ele não tolerava o comportamento errático de Best durante os treinos e as ausências às competições.

Então, em 1974 foi decidida a saída da lenda de Belfast do “Diabos Vermelhos”, uma despedida dolorosa para Best, que para além do profissional, era um torcedor apaixonado pela equipe.

Ele até tentou se reerguer, em passagens rápidas por times da Irlanda, África do Sul, Estados Unidos, Austrália e Inglaterra, mas aos poucos o brilho nas chuteiras de George Best ia se apagando.

Em 1984 entrou em campo pela última vez pelo Tobermore United, que perdeu para o Bangor por 2 a 0 pelo Campeonato Irlandês naquele dia.

A última despedida

As consequências do estilo de vida de George Best o levaram a um fim melancólico.

Hospitalizado em 2005 com cirrose hepática, os jornais noticiaram o agravamento do seu estado de saúde.

Diante do fim que se aproximava, jogadores do mundo inteiro foram até o hospital Cromwell, em Londres para se despedirem.

Dentre eles, Pelé, que conversou com George e o deixou uma carta com a seguinte assinatura: “do segundo maior jogador do mundo, Pelé”.

George Best abriu um sorriso largo e respondeu: “esse foi o último brinde da minha vida”.

Em 25 de novembro de 2005, George Best disse as últimas palavras à imprensa “não fiquem como eu”.

Naquele mesmo dia morreu, mas o legado de um jogador com um talento inexplicável continua vivo na história do futebol mundial.

“Não fiquem como Best. Mas aprendam com o que ele fez. E inspirem-se no melhor.”

Bob Charlton

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