George Best não morreu
Por Ananda Miranda
Alcunhado como Elvis Presley do
futebol, o norte-irlandês George Best teve uma vida regada por bebidas,
mulheres e boates nos anos de 1960.
Paralelo à vida boêmia e a
marcante presença nas manchetes dos tabloides, o estrelato do galã de Belfast,
estava dentro das quatro linhas de um estádio, onde um verdadeiro show
acontecia.
Esse astro do futebol ficou
conhecido como um dos maiores jogadores da história, a começar do próprio
sobrenome (“melhor”, em inglês), que deu origem a ditados como “Maradona
Good, Pelé Better, George Best”.
Ainda que anos depois da sua
dolorosa morte, a história de Best permanece viva como um marcante capítulo no
enredo das maiores lendas do futebol mundial.
O gênio do futebol britânico
Nascido em 1946 em Belfast,
capital da Irlanda do Norte, demonstrou o amor pelo futebol desde muito novo,
diferente das outras crianças, que dormiam aconchegadas a um bicho de pelúcia,
George dormia abraçado a bola de futebol, sua grande paixão.
Não demorou muito para o menino
franzino encantasse os espectadores que o acompanhavam nas partidas das
competições amadoras da cidade.
O garoto encantava a todos com
seu futebol cheio de nuances e surpreendia por não intimidar ou se acanhar ou
tremer diante de adversários, muitas vezes mais altos e mais fortes que ele...
George Best era um prodígio.
Nascido no seio de uma família
protestante, frequentador assíduo da igreja Presbiteriana ao lado de seus pais
Dickie, grande apaixonado pelo esporte, e Anne, uma hoquista que teve o sucesso
de sua carreira interrompido pela Segunda Guerra.
Destaque na escola, George
estudou em instituições como Grosvenor High School, uma das mais renomadas da
Irlanda.
Perfeccionista, o jovem talento
não media esforços, a fim de melhorar o chute - treinava usando chuteira
somente no pé esquerdo e tênis no direito.
O truque funcionou com apenas 17
anos assinava grandes lances e belos gols...
Não demorou muito até que fosse
percebido por Bob Bishop, olheiro do Manchester United, que após assisti-lo
algumas vezes, enviou um telegrama curto e direto ao técnico Matt Busby: “Encontrei
um gênio pra você”.
A Ascensão e o Brilho do Ícone
do Manchester United
Em 1963 Best se mudou para a
cidade de Manchester e estreou como profissional na primeira divisão, demorou
dois meses para o primeiro gol ser feito e um curto espaço de tempo até os
jornais o apelidarem como “o Elvis Presley do futebol”.
Logo, o atleta estava cercado de
contratos para propaganda dos mais variados produtos além de multidões de fãs e
jornalistas o perseguindo, algo incomum para jogadores na época.
O ápice da fama veio em 1968,
quando foi campeão europeu marcando gols em todas as rodadas, além de receber o
prêmio Bola de Ouro pela Revista France Football.
George Best marcou 178 gols em
466 jogos pelo Manchester em toda a sua carreira, mas os gols não vinham apenas
em quantidade e sim em qualidade, que acabaram colocando na conta dos “Diabos
Vermelhos” dois Campeonatos Ingleses, duas Supercopas da Inglaterra e uma
Champions League.
Anos marcantes para a equipe que
contava com o trio de ataque que imortalizou o Manchester: Bobby Charlton,
Denis Law e George Best.
Nem só de holofotes viveu o
badboy de Belfast, pelo contrário, quando as luzes dos estádios se apagavam, “O
quinto Beatle”, se entregava ao vício em álcool e às festas, noitadas que acabaram
por destruir sua carreira na mesma velocidade de sua ascendência.
Talento e controvérsia
“Gastei boa parte do meu
dinheiro com bebidas, mulheres e carros rápidos. O resto eu desperdicei.”
George Best
Talento, fama e beleza eram
características que faziam muitas mulheres o desejarem e os homens o invejarem,
George Best se aproveitava disso para viver intensamente e sem pensar nas
consequências.
De forma lamentável isso começou
a interferir na vida profissional e pessoal do atleta, rendido ao vício e aos
romances os jornais começaram a acrescentar à Best os adjetivos: apostador,
beberrão e mulherengo.
Bobby Charlton deixava claro que
não concordava com as atitudes irreverentes de Best, entretanto o apoio da
torcida e a proteção de Matt Busby, o mantiveram na equipe, apesar dos inúmeros
jogos que deixou de jogar impedido pela ressaca ou embriaguez.
Na visão da torcida e do técnico,
no pouco tempo de campo em que George atuava, o brilhantismo do bom futebol
apresentado compensava as irresponsabilidades.
Em 1972, o técnico Tommy Docherty
chegou ao Manchester e lidou com uma relação conflituosa com George Best
durante dois anos.
Ele não tolerava o comportamento
errático de Best durante os treinos e as ausências às competições.
Então, em 1974 foi decidida a
saída da lenda de Belfast do “Diabos Vermelhos”, uma despedida dolorosa
para Best, que para além do profissional, era um torcedor apaixonado pela
equipe.
Ele até tentou se reerguer, em
passagens rápidas por times da Irlanda, África do Sul, Estados Unidos,
Austrália e Inglaterra, mas aos poucos o brilho nas chuteiras de George Best ia
se apagando.
Em 1984 entrou em campo pela
última vez pelo Tobermore United, que perdeu para o Bangor por 2 a 0 pelo
Campeonato Irlandês naquele dia.
A última despedida
As consequências do estilo de
vida de George Best o levaram a um fim melancólico.
Hospitalizado em 2005 com cirrose
hepática, os jornais noticiaram o agravamento do seu estado de saúde.
Diante do fim que se aproximava,
jogadores do mundo inteiro foram até o hospital Cromwell, em Londres para se
despedirem.
Dentre eles, Pelé, que conversou
com George e o deixou uma carta com a seguinte assinatura: “do segundo maior
jogador do mundo, Pelé”.
George Best abriu um sorriso
largo e respondeu: “esse foi o último brinde da minha vida”.
Em 25 de novembro de 2005, George
Best disse as últimas palavras à imprensa “não fiquem como eu”.
Naquele mesmo dia morreu, mas o
legado de um jogador com um talento inexplicável continua vivo na história do
futebol mundial.
“Não fiquem como Best. Mas
aprendam com o que ele fez. E inspirem-se no melhor.”
Bob Charlton
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