Recebi o e publiquei o comentário abaixo, republico como postagem, não para execrar o anônimo que o escreveu, mas para mostrar a que ponto alguém em nome sei lá do que, pode ao retirar uma expressão de um contesto, transformá-la em um “dedo acusador”.
O que levou ao anônimo a tecer tal comentário (só estranhei que o tenha feito numa postagem bastante antiga e sem se identificar, mas talvez tenha ele razões para tal), foi o texto que usei para me definir no espaço – “Quem sou eu”...
Republico abaixo e na integra, o texto que "me condena".
Sou assim...
Sou doce, sou azedo...
Sou quente, sou frio...
Sou leve, sou pesado...
Sou forte, sou frágil...
Sou anjo, sou demônio...
Sou responsável, sou inconseqüente...
Sou generoso, sou egoísta...
Sou experto e sou ingênuo...
Sou humano, imperfeito...
Só não sou meio-termo...
Ou sou, ou não sou!
Sou como qualquer um, só que sem receio de dizer o que sou!
Não busco nada! Pois quem busca idealiza...
Faz exigências! Quem idealiza, busca o perfeito...
Quem exige, não faz concessões.
Pois bem, foi esse texto que levou ao anônimo, fazer o comentário abaixo (fiz algumas correções gramaticais e na pontuação).
Meu caro F. Amaral,
Você FOI MUITO INFELIZ, quando faz menção a cerca da sua pessoa, isso quando escreve...
Quem sou Eu...
Sou demônio!
Lembre-se que as palavras que saem da sua boca, serão profetizadas, isso mesmo...
E lembre-se, que somente por esse fato, eu passei a não mais aceitar qualquer tipo de comentário.
Passo para toda a família que (és) um incrédulo, e nesse sentido estamos FORA.
Com toda a sua sapiência, um dia saberás que nunca, mais nunca poderia dizer-te (que és) um inimigo
Acredito que todos já tenham percebido que o anônimo está me passando um pito religioso...
Então vamos ponto a ponto.
Primeiro se dirige a mim com “meu caro”, fico feliz, afinal, se sou caro a alguém, sou importante para esse alguém.
Depois, afirma que fui infeliz ao me dizer um “demônio”, com se só a palavra demônio estivesse escrita, após o “quem sou eu”...
Tal postura do meu anônimo leitor, me fez lembrar os velhos tempos da inquisição da Santa Madre Igreja e da GPU, NKVD e KGB da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas...
Essas instituições costumavam “pinçar” uma frase dita ou escrita por algum possível herege ou opositor do regime, retirá-la do contexto original, para então, transformá-la em prova de blasfêmia ou culpa.
Milhões perderam seus bens, sua liberdade e até suas vidas, em função de terem desagrado os guardiões da fé e do regime comunista.
Mais a frente, sou informado que “minhas palavras serão profetizadas”...
Fiquei curioso, pois se afirmação for verdadeira, corro o risco de acordar uma manhã e ver no lugar de pés, cascos de bode, no lugar das mãos, garras tais como as usadas por Zé do Caixão e na minha calva, longos chifres pontiagudos (ainda bem que não sou casado e nem estou namorando ninguém no momento): será mais fácil explicar para os amigos e desafetos, que sou apenas um “encosto” e não, mais um traído por alguma fêmea ninfomaníaca, ou por mim mal amada.
Na continuação, meu anônimo amigo, diz para eu me lembrar que somente pelo fato de ter me definido como demônio, ele não publica mais comentários.
Que comentários!?
Não ando por aí escrevendo comentários e, quando o faço, faço em textos de pessoas que admiro e que por alguma razão, concordei ou discordei...
Porém, sempre mantenho mínimos princípios de civilidade e educação (aliás, meu anônimo amigo, também foi educado, mesmo que tenha me excluído de uma tal “família” e tentado me assustar com um improvável julgamento posterior a vida).
Na seqüência, meu anônimo amigo, me informa que está passando para a “família” (não sei se a dele, ou se para algum grupo assim denominado) que sou um incrédulo (gostei quando ele usa o “és”, para dar grandiosidade e dramaticidade ao texto) e que eles (ele e a “família”) por ser eu um incrédulo, estariam fora...
Que pena!
Sempre procurei incluir e não excluir pessoas.
Mas, seja lá o que isso signifique, vou poupar meu amigo anônimo de ficar repassando às famílias, a dele ou de quem que seja que sou incrédulo, pois sou mesmo e nunca escondi isso!
Talvez por essa razão, eu tenha procurado ler tanto, conversar tanto, ouvir tanto e observar tanto...
Os crédulos têm por habito acreditar em tudo – sem nada discutir, nada contestar e nada ser posto à prova.
Por culpa dos crédulos, milhões morrem em guerras e milhões foram mortos apenas por não acreditar naquilo que os crédulos acreditam.
Para encerrar, meu anônimo amigo, reconhece em mim sapiência (fico grato, comovido e até chego a ter uma crise de pedantismo. Mas logo, descobri que pode haver alguma ironia na afirmação e, entrei numa profunda depressão: constatar a própria ingenuidade é fatal para qualquer ego) e me diz que ela, a minha sapiência, irá me fazer ver que nunca, nunca mesmo, eu deveria me dizer um inimigo...
Caramba, quanta dramaticidade!
Nem Ionescou e nem o Dr. House, fariam melhor...
Mas, então...
De quem afinal de contas, teria eu ao escrever algo sobre mim mesmo, me declarado inimigo?
Por que o faria?
Inimigo eu?
Não meu amigo anônimo, nada em meu texto, parece com um ultimato ou declaração de guerra...
Nada agride ninguém, nada desqualifica quem quer que seja e, em nada contesta a crença ou a fé de alguém!
Se for uma discussão religiosa que procuras, não a terás!
Mas se queres saber o que penso sobre a vida depois da morte, me permita citar Schopenhauer:
“Após a morte, você será o que era antes de nascer”.