O antes...
Cheguei ao Maria Lamas Farache por volta das 15 horas e 30 minutos e o entorno do estádio já estava em clima de comemoração...
O burburinho era grande, como grande era a satisfação no rosto das pessoas que perambulavam de um lado para outro, com latinhas de cerveja, máquinas fotográficas, celulares ao ouvido e ingressos à mão...
Entrei e me dirigi aos elevadores, quando cheguei ao andar destinado às cabines de rádio, me deparei com um número de pessoas além do normal – bem, não cheguei a me espantar, no bom e velho Brasil, dia de festa é como terreiro de macumba: baixam todo tipo de espíritos e, muitos encostos também.
Lentamente fui identificando os desconhecidos: filhos de alguém importante, usando bermudas e carregando pelas mãos moçoilas vestidas em calças apertadas ou shorts curtos, num desfile cuja única razão aparente, era mostrar para o público em geral a “presa” da vez e seus dotes para lá de generosos.
Claro que havia os assessores dos muitos políticos que acorreram ao Maria Lamas Farache, “solicitando” nas cabines de rádio uma entrevista “casual” no intervalo do jogo...
Em meio aquela balburdia com ares da Rua 25 de março em época natalina, consegui finalmente chegar à cabine da 95 FM e aí, foi à vez de "lutar" contra o som que vinha do campo e o som que sei lá quem, costuma ligar nas alturas fora do estádio...
Diga-se de passagem, insuportável (é preciso que alguém presenteie o sujeito do som fora do estádio com novos discos novos, pois o sujeito repete a exaustão coisas como “cavalinho”, “bicicletinha” e mais uma ou duas que por total aversão, não consigo gravar o nome)!
Com algum esforço e concentração, consegui vencer a poluição sonora e passei a entre uma chamada e outra de Emerson Amaral, a prestar atenção na torcida que vagarosamente tomava conta das dependências do estádio...
Felizes, alegres e festivos, os alvinegros chegavam de todos os cantos e iam tomando seus lugares, enquanto no gramado a banda da Polícia Militar tocava o hino do clube e outras músicas.
Repentinamente, Wallyson atravessou o gramado e foi cercado de repórteres e festejado pela torcida...
Com o estádio já lotado, as duas equipes entraram em campo e veio o momento em que a cantora Tabata foi chamada para cantar o hino nacional (devo admitir que não compraria nenhum disco e nem iria a nenhum show seu – o problema não está na voz e sim, no repertório –, mas passaria horas e horas olhando para ela e colecionaria suas fotos, pois a danada é muito bonita)!
Para minha alegria e espanto, hoje, o comportamento em relação ao hino nacional foi muito melhor que da última vez – até mesmo aqueles sujeitos que se sacolejam como os bonecos do carnaval de Olinda, tiveram uma postura menos primata – fiquei feliz!
O Durante...
Iniciado o jogo, ficou claro que o discurso ensaiado logo após o jogo em Caicó e repetido por toda a semana pelos jogadores do ABC, era mera retórica...
Aquela coisa de dizer que; “não ganhamos nada”, “temos que respeitar o adversário” e “é preciso ter cuidado, pois no futebol tudo pode acontecer”, era mesmo conversa para boi dormir profundamente.
O ABC entrou usando um “saltinho 15”, e ficou passeando no gramado a espera do tempo passar...
Mas, Gil Xavier do Corintians, assim como toda a equipe caicoense, queria ao menos hoje, apagar a péssima impressão deixada na última partida e, aos 10 minutos, abriu o marcador com um belo gol...
Imaginei que o ABC iria acordar e partir para cima.
Errei.
O tédio continuou e quem tomava conta do jogo era o time visitante, mesmo sem levar muito perigo ao gol de Wellington.
Jogando num 4.2.4 com variações para o 3.5.2, o Corintians avançou em busca do segundo gol e permitiu alguns contra ataques do ABC, mas Éderson e João Paulo estavam numa tarde cheia de inspiração para perder gols.
Esse foi o retrato do primeiro tempo.
Na segunda etapa, a situação ficou inalterada e para piorar, o mesmo Gil Xavier, logo aos 6 minutos, marcou o segundo gol corintiano...
Silencio no Maria Lamas Farache...
Entretanto, não foi um silencio de medo, mas sim de decepção.
Os torcedores do ABC que lotaram o estádio esperavam com justa razão algo mais e o time, não conseguia oferecer nada além de apatia, desinteresse e sonolência.
Com o placar apontando 2x0 para o Corintians, a equipe do ABC “acordou” e foi tentar dar uma satisfação a torcida...
Cascata passou a correr mais, João Paulo e Éderson passaram a se movimentar mais e a equipe avançou a marcação...
Deu resultado...
Aos 19 minutos, Edson diminuiu e o Maria Lamas Farache virou uma grande festa...
Mas foi só!
Depois do gol, o ABC ainda tentou o empate, mas continuou a perder gols e o Corintians, tratou de “cozinhar” o jogo até o árbitro encerrar a partida.
Trocando em miúdos...
O ABC já campeão jogou a conta do chá...
O Corintians jogou melhor...
O resultado da partida foi justo e o título de Campeão de 2010 conquistado pelo ABC também!
O depois...
Logo que o árbitro encerrou o jogo, esperei uma explosão de alegria por parte dos jogadores...
Estranhamente, ninguém vibrou, pulou, correu ou caiu de joelhos agradecendo aos céus...
Foi preciso que Marquinhos Mossoró aos gritos, exigisse de seus companheiros algo mais além da troca de abraços (Marquinhos Mossoró foi flagrado pelo repórter Jackson Capixaba, gritando com os companheiros de equipe para que mostrassem mais vibração).
Até a torcida presente foi econômica ao festejar (a derrota não estava nos planos) e só aumentou o tom, depois que os jogadores receberam a taça e foram aos quatro cantos do campo mostrá-la aos torcedores.
A FNF (Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol) está de parabéns, montou uma bonita festa, tanto no início, quanto ao final do jogo...
A montagem do tablado em frente às cadeiras, a máquina de “cuspir” papel picado e a entrega dos troféus de vice-campeão e de campeão foi um sucesso.
Fora do estádio, animada por um trio elétrico, a torcida cantou e comemorou mais efusivamente que dentro do estádio.
Nota triste...
Instalados no módulo a direita das cabines de rádio, os tais torcedores organizados sem ter com quem brigar, começaram uma briga entre si...
Quando a PM chegou para acalmar os ânimos, eles se voltaram contra os policiais e a pancadaria só terminou quando o pelotão de choque chegou distribuindo cacetada em gregos e troianos.