quinta-feira, abril 22, 2010

Na várzea as leis são diferentes, aliás, bem diferentes...


O texto abaixo é do blog do Birner (http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/)...


"Você sair cuspindo e xingando aqui e chegar no trampo de olho roxo depois"?


Leandro Iamin é zagueiro do Autônomos FC, que disputa, entre outros, o campeonato paulista amador de 2010.


Ele aproveitou o jogo da semana passada e colheu alguns depoimentos sobre o episódio envolvendo Danilo e Manoel, zagueiros do Palmeiras e Atlético PR.


Como funciona na várzea, onde não há câmeras e tribunais?


De Leandro Iamin


Andei por campos de várzea na zona oeste paulistana no último sábado. Conversei com “atletas” dos times que vi jogar, e do adversário que enfrentei, a respeito dessa coisa de brigas e ofensas que se tem dentro de campo. Como nenhum campo é mais campo que o varzeano, eles têm o que dizer.


Realidade define limites


José Augusto, comerciante quarentão, lateral-direito do Grêmio Lapa desde 2002, nunca foi xingado de macaco, tomou cusparada ou coisa do tipo. Mas já viu acontecer. “Quando chamaram um dos nossos de pretinho, o bicho foi feio. Eu relevaria, mas a maioria não releva. Acabou até o jogo”, lembra José, que em seguida dá uma pista de como o jogador de várzea, que não tem o amparo de câmeras ou tribunais, raciocina. “Aqui, se alguém pensar em fazer algo, não faz. Se fizer algo sem pensar e chamar alguém de macaco, sobra para você, e sobra mesmo!”.


Um colega de time de José Augusto, que ouvia nosso papo, acrescentou. “E isso vale também pra cabeçada. O Manoel, lá, antes de ser ofendido pelo Danilo, ofendeu. Ação e reação, irmão, se fosse aqui ele pensava duas vezes também, porque não é bobo, sabe onde mexe”.


Sérgio, garçon que joga pelo Veterano Londrina, do Capão Redondo, segundo ele na posição de “teimoso”, reforça tese semelhante. “Na várzea é tudo muito 1 a 1. Tem que responder à altura, se te xingarem. Bateu, levou. Racismo aqui se resolve na hora, responde à altura, jogo de cintura e pronto”, explica. “Muito jogador profissional já foi muito xingado na várzea e não tomou providência. Mas no campo dos profissionais, com a mídia, aí a coisa muda”.


Apito cauteloso


Falei também com o árbitro de várzea Róbson Carlos, 31, que no passado já me expulsou de campo. O cartão vermelho, segundo ele, nada resolve quando o assunto é troca de ofensas. “Não tem isso de expulsar quando alguém foi racista em campo. Essa é a hora que eles se resolvem sozinhos, meu cartão não tem efeito nenhum. É outro código e outra regra, se o tempo fecha num caso assim, eu sou o que menos pode influir”.


Árbitros, sempre xingados em qualquer lugar do mundo onde se joga futebol, tomam qual reação diante de uma cusparada ou ofensa racista? “Cara, se alguém me chamar de macaco em campo, o normal é eu baixar a cabeça e ficar quieto. Não tenho segurança, sou sempre o alvo e a minoria, não posso comprar uma briga dessa. No futebol profissional eu teria o cartão vermelho, a justiça para processar… Mas na várzea, não”.


Resumindo, há uma concordância entre quase todos no meio do futebol amador: ação gera reação e causa consequencias. Nas palavras do bancário Xavier, jogador do Grêmio Pirituba, “todo mundo usa o que pode e o que tem a seu favor. Na várzea, amigo, você não pode fazer o que quer. Não tem polícia para te proteger, então se você provoca, começa uma confusão, tá ligado que pode se dar mal. E a gente tem que trabalhar na segunda-feira. Você vai sair cuspindo e xingando aqui e chegar no trampo de olho roxo depois?”.


Quem é mais “valente”, o amador ou o profissional? E quem é mais profissional?



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