Osmar de Oliveira, ou melhor, Dr. Osmar de Oliveira, médico e comentarista esportivo – comenta na Rede Bandeirantes de TV –, publicou em seu blog o texto que republico abaixo...
Confesso que fiquei um tanto abismado...
Não pelo fato em sim, pois é de conhecimento geral que a pratica era corriqueira...
O absurdo está na participação de médicos, que não só ministravam as drogas aos jogadores, como também, as conseguiam.
Não sou que estou dizendo e sim, o Dr. Osmar de Oliveira em seu blog...
Ao contar o início de sua carreira na medicina esportiva, o Dr. Osmar de Oliveira, confessa que o remédio Dexamil Expansule era largamente usado na Faculdade de Medicina por alunos que passavam a noite debruçados sobre livros e que ele, em seu primeiro dia de trabalho, não só se dispôs a percorrer farmácias, bocas e republicas de estudantes para conseguir o tal remédio – palavras dele –, mas que também, ao não encontrar o Dexamil Expansule, ministrou nos jogadores um placebo...
O Dr. Osmar de Oliveira exerceu a função de médico do Corinthians.
Abaixo a singela história do Dr. Osmar...
CADÊ A BOLINHA?
14 de setembro, 2010
Você vai gostar dessa história.
O São Bento de Sorocaba faz festa nesta semana em comemoração aos seus 97 anos.
Foi lá que comecei minha carreira no futebol e tenho um grande carinho pelo time.
PARABÉNS ao clube e a toda cidade de SOROCABA.
Bem, quando entrei na faculdade de medicina, já havia decidido que faria medicina esportiva e um dia trabalharia com o esporte.
Tudo começou em 1969, eu no 6º ano da faculdade, lá na PUC de Sorocaba.
Numa 5 a. feira, eu auxiliava uma cirurgia e o anestesista Dr. Hélio Grilo queixava-se ali na sala que em 2 dias ia começar o campeonato paulista e ele andava procurando alguém para ajudá-lo porque não aguentava mais a maratona de viagens.
Ele era o médico do São Bento. Falei na hora: ”achou o cara”.
Se fosse hoje, diria ”é nóis”.
Terminada a cirurgia, fomos para o treino e ele me apresentou aos jogadores.
Era um bom time, com vários veteranos e algumas promessas: Luiz Pereira, Marinho Perez, Copeu, Batista, etc.
Sábado à tarde (25 de janeiro) cheguei ao campo do Guarani de Campinas, meu primeiro jogo.
Estava preocupado.
Era a minha primeira e grande chance.
Navarro, o massagista, veio a mim e disse: “Dr. cadê o negócio”.
Que negócio, perguntei.
”As bolinhas, doutor, as anfetaminas” (naquele tempo nem existia a lei antidoping e quase todos os jogadores tomavam estimulantes).
Eu disse que não sabia, que ninguém me avisou daquilo, mas que conseguiria rapidinho.
Conhecia a remédio: Dexamil Expansule, umas drágeas verdinhas.
Era comum o uso na faculdade para passar as noites em claro às vésperas de provas.
Eu tinha um fusquinha cor de berinjela e saí voando.
Percorri farmácias, bocas, repúblicas de estudantes… e nada.
Já dando por perdida minha primeira investida, parei num boteco para um cafezinho e organizar as ideias.
No caixa, vi um pacotinho de ”Pastilhas Lacta”.
Hoje não existe mais.
Mas eram umas pastilhinhas de açúcar de várias cores, a criançada adorava.
E as verdes eram muito parecidas com o Dexamil.
Eureka!
Eu tinha achado a solução.
No carro, separei só as verdes e com uma gilete raspei a palavra Lacta.
Embrulhei aquelas pílulas num guardanapo de papel e cheguei ao vestiário, esbaforido.
Os jogadores já aquecidos me olharam com furor.
Pensei, ou encerro a carreira aqui ou dou um grande golpe.
Reuni os jogadores e inventei uma história fantástica.
Disse que passara na Faculdade de Medicina de Campinas e consegui aquelas pílulas (enquanto desembrulhava o guardanapo) que os alunos de patologia usavam para deixar cachorro louco e depois fazer pesquisa.
Ainda me lembro de alguns pulando de alegria e dizendo: "Esse é o Doutor".
"Esse é o cara”.
Amassei as patilhas com uma garrafa de guaraná, dissolvi em soro e saí aplicando no músculo da rapaziada.
Primeiro tempo: 2×0 para o Guarani.
Nem sei mais para quais santos eu fiz promessa naquele intervalo, sob os olhares desconfiados dos jogadores.
Milagre, viramos o jogo e ganhamos de 3×2.
No vestiário, vem o presidente Alfredo Metidieri, me deu um bolo de dinheiro e disse: “Doutor, fique 2 dias aqui na cidade, no melhor hotel que existir e compre todas as bolinhas que conseguir, porque essas são das boas mesmo”.
Fiquei na maior mordomia e ainda sobrou muito dinheiro.
Levei uma caixa das verdinhas de açúcar, que deu para todo o campeonato e todas bem raspadinhas e sem pressa.
Aprendi ali, na vida, sem professor, que no doping existe muito de psicológico.
Em 6 meses eu já estava contratado pelo Corinthians…