segunda-feira, janeiro 17, 2011

Confissão...


Osmar de Oliveira, ou melhor, Dr. Osmar de Oliveira, médico e comentarista esportivo – comenta na Rede Bandeirantes de TV –, publicou em seu blog o texto que republico abaixo...


Confesso que fiquei um tanto abismado...


Não pelo fato em sim, pois é de conhecimento geral que a pratica era corriqueira...


O absurdo está na participação de médicos, que não só ministravam as drogas aos jogadores, como também, as conseguiam.


Não sou que estou dizendo e sim, o Dr. Osmar de Oliveira em seu blog...


Ao contar o início de sua carreira na medicina esportiva, o Dr. Osmar de Oliveira, confessa que o remédio Dexamil Expansule era largamente usado na Faculdade de Medicina por alunos que passavam a noite debruçados sobre livros e que ele, em seu primeiro dia de trabalho, não só se dispôs a percorrer farmácias, bocas e republicas de estudantes para conseguir o tal remédio – palavras dele –, mas que também, ao não encontrar o Dexamil Expansule, ministrou nos jogadores um placebo...


O Dr. Osmar de Oliveira exerceu a função de médico do Corinthians.


Abaixo a singela história do Dr. Osmar...


CADÊ A BOLINHA?


14 de setembro, 2010


Você vai gostar dessa história.


O São Bento de Sorocaba faz festa nesta semana em comemoração aos seus 97 anos.


Foi lá que comecei minha carreira no futebol e tenho um grande carinho pelo time.


PARABÉNS ao clube e a toda cidade de SOROCABA.


Bem, quando entrei na faculdade de medicina, já havia decidido que faria medicina esportiva e um dia trabalharia com o esporte.


Tudo começou em 1969, eu no 6º ano da faculdade, lá na PUC de Sorocaba.


Numa 5 a. feira, eu auxiliava uma cirurgia e o anestesista Dr. Hélio Grilo queixava-se ali na sala que em 2 dias ia começar o campeonato paulista e ele andava procurando alguém para ajudá-lo porque não aguentava mais a maratona de viagens.


Ele era o médico do São Bento. Falei na hora: ”achou o cara”.


Se fosse hoje, diria ”é nóis”.


Terminada a cirurgia, fomos para o treino e ele me apresentou aos jogadores.


Era um bom time, com vários veteranos e algumas promessas: Luiz Pereira, Marinho Perez, Copeu, Batista, etc.


Sábado à tarde (25 de janeiro) cheguei ao campo do Guarani de Campinas, meu primeiro jogo.


Estava preocupado.


Era a minha primeira e grande chance.


Navarro, o massagista, veio a mim e disse: “Dr. cadê o negócio”.


Que negócio, perguntei.


”As bolinhas, doutor, as anfetaminas” (naquele tempo nem existia a lei antidoping e quase todos os jogadores tomavam estimulantes).


Eu disse que não sabia, que ninguém me avisou daquilo, mas que conseguiria rapidinho.


Conhecia a remédio: Dexamil Expansule, umas drágeas verdinhas.


Era comum o uso na faculdade para passar as noites em claro às vésperas de provas.


Eu tinha um fusquinha cor de berinjela e saí voando.


Percorri farmácias, bocas, repúblicas de estudantes… e nada.


Já dando por perdida minha primeira investida, parei num boteco para um cafezinho e organizar as ideias.


No caixa, vi um pacotinho de ”Pastilhas Lacta”.


Hoje não existe mais.


Mas eram umas pastilhinhas de açúcar de várias cores, a criançada adorava.


E as verdes eram muito parecidas com o Dexamil.


Eureka!


Eu tinha achado a solução.


No carro, separei só as verdes e com uma gilete raspei a palavra Lacta.


Embrulhei aquelas pílulas num guardanapo de papel e cheguei ao vestiário, esbaforido.


Os jogadores já aquecidos me olharam com furor.


Pensei, ou encerro a carreira aqui ou dou um grande golpe.


Reuni os jogadores e inventei uma história fantástica.


Disse que passara na Faculdade de Medicina de Campinas e consegui aquelas pílulas (enquanto desembrulhava o guardanapo) que os alunos de patologia usavam para deixar cachorro louco e depois fazer pesquisa.


Ainda me lembro de alguns pulando de alegria e dizendo: "Esse é o Doutor".


"Esse é o cara”.


Amassei as patilhas com uma garrafa de guaraná, dissolvi em soro e saí aplicando no músculo da rapaziada.


Primeiro tempo: 2×0 para o Guarani.


Nem sei mais para quais santos eu fiz promessa naquele intervalo, sob os olhares desconfiados dos jogadores.


Milagre, viramos o jogo e ganhamos de 3×2.


No vestiário, vem o presidente Alfredo Metidieri, me deu um bolo de dinheiro e disse: “Doutor, fique 2 dias aqui na cidade, no melhor hotel que existir e compre todas as bolinhas que conseguir, porque essas são das boas mesmo”.


Fiquei na maior mordomia e ainda sobrou muito dinheiro.


Levei uma caixa das verdinhas de açúcar, que deu para todo o campeonato e todas bem raspadinhas e sem pressa.


Aprendi ali, na vida, sem professor, que no doping existe muito de psicológico.


Em 6 meses eu já estava contratado pelo Corinthians…


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