Publico abaixo o excelente texto
do cronista gaúcho, Juremir Machado da Silva...
Juremir é mais um a fazer coro
contra a absurda proposta do deputado Vicente Cândido (PT/SP) e que tem o apoio
do ministro dos Esportes, Aldo Rebelo.
Na esportiva
Por Juremir Machado da Silva
Correio do Povo de Porto Alegre/RS
Só o futebol é realmente
importante no Brasil.
Todo o resto é acessório.
Nem vou falar de que só se cobra
fidelidade a time.
Ninguém se espanta com mudança de
sexo, traição à mulher ou ao marido, mudança de partido político ou troca de
casal.
Agora, virar a casaca, trocar de
camiseta, passar para o rival, aí o bicho pega.
O cara que troca de time é um
canalha.
Ser corno não dá nada.
Ser mensaleiro é fichinha.
Ganhar salário nalgum cargo
público sem trabalhar faz parte dos costumes.
Enfim, tudo isso que qualquer
criança sabe e respeita.
O futebol é tão importante que os
clubes podem dar calote no Estado.
Li que o deputado petista Vicente
Cândido, com apoio do ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), pretende
aliviar os clubes do pagamento do que devem ao Fisco.
Em bom português, o deputado e o
ministro querem livrar os clubes de futebol do pagamento da dívida de R$ 5
bilhões que têm com a União.
O que eles deixaram de recolher?
Imposto de Renda, INSS, FGTS.
Se forem anistiados, acontecerá
pura e simplesmente uma privatização de recursos públicos, uma transferência de
dinheiro da plebe, nós, para os bolsos de jogadores milionários, de
treinadores, de empresários e de outros parasitas.
Os maiores devedores são os
grandes clubes.
Com o dinheiro que economizam
caloteando o Estado, pagam salários astronômicos para pernas de pau e técnicos
que fracassam num lugar e surgem como salvadores em outro, comissões para
agentes e passes de atletas em transações chocantes.
Se pagassem o Fisco, não teriam
grana para esses negocinhos fantásticos.
Futebol, claro, é especial.
O Rio Grande do Sul quer
renegociar a sua dívida com a União.
Não consegue.
Compromete mais de 13% da sua
receita com isso.
Se não pagasse ou pagasse menos,
teria dinheiro para bancar o piso dos professores.
A União fecha os olhos, tapa os
ouvidos, não dá mole, manda os governadores apertarem o cinto, cortar gastos,
manda se catar.
Por que não se obriga os clubes a
cortarem gastos?
No Brasil, só interesse de clube
de futebol, pelo jeito, é questão de Estado.
Pelo futebol, leis podem ser
suspensas, revogadas ou descumpridas.
Um comunista e um petista
servindo de ponte para a privatização maquiada de recursos públicos é de perder
as calças de tanto rir.
Vicente e Rebelo querem criar o
Proforte, um esquema para favorecer os clubes e fazer a alegria dos cartolas.
Uma sacanagem com todo mundo.
Por quê?
Bem, deve ser porque eles sabem
que clube de futebol não pode quebrar.
Se a plebe, nós, ficar sem
futebol domingo à tarde, quebra o país.
A esquerda pensa como as ditaduras
de direita: futebol é o ópio do povo.
Para ter menos crack, precisa ter
mais craque.
Uma asneira assim.
Logo, precisa forrar o poncho dos
que fazem o espetáculo.
O futebol carioca nunca duvidou
disso.
Dívida com o Estado não é para
pagar.
O Corinthians está ganhando
estádio.
O Atlético-PR vai ganhar reforma
da sua Arena com grana pública.
Fórmula perfeita: clube não paga,
empreiteira ganha, etc.
É a privatização nacional na
esportiva.
Uau!