Ás 6 e 15 da manhã, do primeiro
dia de fevereiro, na clínica Cemtro, em Madrid, morreu aos 75 anos, José Luis
Aragonés Suárez Martínez...
Para quem tem o futebol com algo
além da paixão, sua morte é uma perda...
Pesada perda.
Luis Aragonéz Suárez Martínez,
começou Luis, no pequeno Getafe, em 1957.
Menos de um ano depois, estava no
Real Madrid.
Não teve muitas oportunidades...
Foi emprestado seguidamente...
Recreativo Huelva, Hercules e por
fim, ao Real Madrid Castilla.
Em 1960, foi vendido ao Real
Oviedo, de lá passou para o Real Bétis e, finalmente, em 1964, desembarcou no
Atlético de Madrid.
No Atlético, ficou por 10 anos...
Fez do clube sua casa, fundiu-se
e confundiu-se com as cores do clube.
Encerrada a carreira de jogador,
Luis Aragonéz, cinco meses depois, assumiu o banco do Atlético.
Como treinador, reinou na
Espanha...
Treinou o Atlético de Madrid,
Real Betis, Barcelona, Espanyol, Sevilha, Valência, Real Oviedo e o Real
Mallorca...
No exterior, o Fernebahçe da
Turquia.
Mas, foi na seleção espanhola que
marcou definitivamente seu nome na história ao conquistar a Eurocopa de 2008.
Como jogador, Luis Aragonéz,
conquistou os seguintes títulos:
3 Ligas (Atlético, 1966, 1970 e
1973);
2 Copas (Atlético, 1965 e 1972);
Troféu Pichichi (artilheiro), na
temporada 1969/70.
Como treinador seus títulos são
os seguintes:
1 Liga Espanhola (Atlético, 1977)
4 Copas do Rei (3 com o Atlético,
1976, 1985 e 1992; 1 com o Barcelona, 1988)
1 Supercopa da Espanha (Atlético,
1985)
1 Segunda Divisão (Atlético,
2002)
1 Copa Intercontinental
(Atlético, 1974)
1 Copa Ibérica (Atlético, 1991)
1 Eurocopa (Seleção Espanhola,
2008)
Medalha de Ouro da Real Ordem do
Mérito Esportivo (2001)
Melhor treinador do ano segundo a
IFFHS, em 2008
Prêmio Príncipe de Astúrias dos
Esportes, 2010, para a Seleção Espanhola.
Nos últimos dias, muito tem se
dito a respeito de Luis Aragonéz na imprensa espanhola e europeia...
No entanto, optei por publicar o
que foi dito sobre o treinador, por dois grandes jogadores,m entre os muitos que passaram por suas mãos:
Paulo Futre e Xavi.
Paulo Futre em Lisboa escreveu:
O senhor lembra quando na manhã
da final da Copa do Rei, entrou às 9 da manhã em meu quarto, depois de socar a
porta como um louco?
Entrou como uma fera, abriu as
persianas e se pôs em pé diante de minha cama e gritou:
- Olhe-me nos olhos, Paulo!
Como posso olhar nos seus olhos
se nem consigo abri-los, perguntei.
Posso lavar meu rosto, pelo
menos, insisti...
- Não, nem lavar o rosto e nem
falar... vai me ouvir, agora!
- Você sabe, que Michel, Gordillo
e Fernando Hierro, insultaram seu companheiro de equipe e amigo, Pizo Gomez?
Sim, sei sim, lhe disse ainda
sonolento...
O carro em que vinham, parou num
sinal e o de Pizo Gomez, também...
Os três, então, começaram a
sacanear o Pizo e entre outras barbaridades, disseram que ele era o ídolo deles
e que sem ele, o Real Madrid não se divertiria tanto...
Foi isso, não foi?
O senhor me olhou e disse:
- Pois bem, você sabe por que
estou no seu quarto a essa hora?
Por que, perguntei...
- Porque hoje vingaremos Pizo,
porque hoje esses três vão engolir os insultos que disseram ao seu companheiro
e, até o último dia da vida de cada um, vão lembrar desse dia. Você hoje à
noite vai se converter no grande ídolo de Michel, Gordillo, Fernando Hierro e
do amigo deles, Paco Buyo e companhia. Hoje, você não pode falhar, não tem esse
direito, está terminantemente proibido. Hoje será seu dia, Vai humilha-los como
eles humilharam seu companheiro. Agora, vá dormir.
O senhor saiu como entrou,
rápido...
Obviamente, não pude mais
dormir...
A final para mim, o jogo acabara
de começar.
Era isso que o senhor queria, não
era?
Seu grande objetivo era me fazer
começar a jogar mentalmente, doze horas antes da bola rolar...
O senhor sabe, o que fez, não
sabe?
Naquela noite, vigamos Pizo...
Vencemos e fomos campeões.
Quando entrei no vestiário, vi
quando o senhor abraçou Pizo e lhe disse: seus amigos não iriam permitir que o
que eles fizeram ficasse sem resposta.
Pizo, chorou e o senhor lhe deu
um forte abraço.
Por fim, acho que o senhor lembra
de nossas rusgas e nossas brigas, não lembra?
Lembra quando me substituiu e eu,
no vestiário, discuti com o senhor?
Eu lembro, Míster...
Parou diante de mim e disse com
voz forte e decidida: vamos para um quarto, português, lá com os punhos,
tiramos nossas diferenças.
Nunca foi preciso ir para quarto
algum...
Eu e o senhor sempre fomos
pessoas de bem...
Obrigado Míster, espere-me aí em
cima.
Descanse em paz.
Xavi em Barcelona escreveu para o
jornal El País...
- Você não é japonês, você
entende o eu digo...
Ouvi isso de Luis Aragonés em meu
quarto...
Com ele conversei muito, aprendi
muito.
Assim começa o texto escrito por
Xavi...
Eu sabia que ele estava doente,
mas não tinha a menor ideia de era algo tão grave... nunca imaginei que ele
partiria.
“Estou bem, estou bem”, era o que
me dizia quando nos falávamos por telefone...
Eu deveria ter percebido, afinal,
ele nunca foi de se queixar, de reclamar ou de ficar amuado...
Luis era um homem que não tinha meias
palavras, ia direto ao assunto, cara a cara...
- Você está fazendo corpo mole,
veio treinar, mas eu não o vejo... não gosto de corpo mole.
Luis nunca enganava, era
direto...
- Você não joga porque esta
semana não mostrou nada... está cansado do que?
Assim era Luis.
Ele foi fundamental em minha
carreira na seleção...
Sem ele, nada haveria mudado,
seria impossível...
Foi com ele tudo começou...
Foi ele que juntou os
baixinhos...
Eu, Iniesta, Cazorla, Cesc, Silva
e Villa.
Ele nos fez fazer a revolução e
mostrar que nós espanhóis podíamos ganhar jogando um futebol bonito e vistoso.
Se não tivéssemos ganhado a
Eurocopa, não teríamos ganhado o mundial...
Na Eurocopa de 2008, Luis disse:
Vou colocar os baixinhos... vou
colocar os melhores... eles são tão bons que vamos
ganhar a Euro.
Luis era corajoso...
Me fez sentir que eu podia... que
eu era importante.
Um dia me chamou e disse:
- Aqui está a faixa de capitão...
Olhei para a faixa e pensei:
Não à tenho no Barcelona, porque
ele me entregou na seleção?
Percebendo meu constrangimento,
Luis disparou:
- Aqui, agora, quem manda é
você... sou o responsável e não tenho medo de críticas...
- Que venham para cima de mim.
Quando a Euro terminou eu fui eleito
o melhor jogador...
O procurei e disse que lhe devia tudo...
Luis, balançou a cabeça e se
foi...
Numa entrevista quando perguntado
se eu estava certo ao dizer que o título e a minha escolha como melhor jogador,
eram responsabilidade dele.
Luis, negou, sem maiores
comentários.
A palavra futebol no dicionário
deveria levar ao lado a foto de Luis Aragonéz...
Luis era o futebol...
Até mais ver Míster...
Obrigado por tudo...
E saiba: você e eu, nunca fomos
japoneses.