Máfia italiana forjou doping de ídolo do ciclismo, revela
investigação.
Camorra é apontada como responsável pela alteração nos exames de
Marco Pantani no Giro de Itália de 1999.
Deprimido, ele morreu cinco anos depois.
Um escândalo de doping que já durava quase duas décadas anos parece ter
sido esclarecido nesta segunda-feira.
Em 5 de junho de 1999, o ciclista italiano Marco Pantani, considerado um
dos maiores atletas de estrada em todos os tempos, foi excluído do Giro da
Itália, uma das quatro principais provas do circuito, ao ser flagrado em um
exame antidoping com níveis elevados de glóbulos vermelhos.
Após quase 17 anos de investigações, ficou comprovado que um membro da
Camorra, organização mafiosa de Nápoles, foi o responsável pela alteração no
exame do ex-campeão, que morreu em 2004 quando lutava contra a depressão.
Conhecido como "O Pirata" por causa das bandanas que utilizava,
Pantani venceu o Giro da Itália e a Volta na França em 1998 e, na penúltima
etapa da prova italiana do ano seguinte usava a camisa rosa, ou seja, era o
líder, antes de ser desclassificado por doping.
Nesta segunda, a polícia de Forlì, na região de Emília-Romanha, informou ao
canal Mediaset a ligação da Camorra no escândalo.
A emissora publicou com exclusividade a interceptação de uma conversa
telefônica entre um membro da Camorra e um parente.
Nela, o criminoso napolitano não identificado confirma uma história
contada ainda em 1999 por Renato Vallanzasca, um dos maiores mafiosos da
Itália.
Em seu livro, Vallanzasca revelou que um companheiro de cela ligado à
Camorra lhe sugeriu que apostasse todo o seu dinheiro contra Pantani no Giro de
Itália, garantindo que o ídolo perderia a prova, dias antes do anúncio do
doping.
O chefe da investigação que desmascarou o caso, Sergio Sottani, confirmou
o desfecho aos principais jornais italianos.
"Um membro do clã Camorra
ameaçou o médico e o forçou a alterar os testes, fato que colocou Pantani acima
do nível permitido", afirmou.
O hematócrito do atleta demonstrou 51,9% glóbulos vermelhos, enquanto o
máximo permitido pela Federação Mundial de Ciclismo (UCI) é de 50%.
Tonina Pantani, a mãe do atleta, se disse aliviada ao saber que "a verdade apareceu" e disse
que buscaria formas de a família ser compensada pela fraude.
Marco foi eliminado da competição e, a partir de então, viu sua carreira
declinar.
Ele jamais aceitou a punição e, sofrendo de depressão, foi encontrado
morto, aos 34 anos, em um hotel da cidade de Rimini.
Sua autópsia revelou morte por ataque cardíaco causado por overdose de
cocaína.
Por redação da Veja.