Imagem: Autor Desconhecido
Bahr morreu aos 91 anos, no dia 18 de junho.
Ele foi um dos protagonistas da maior zebra da história das Copas do
Mundo
Fonte: Revista Época
Na tarde de 29 de junho de 1950,
mais de 13 mil pessoas lotaram o acanhado estádio Independência, em Belo
Horizonte, Minas Gerais, para assistir à partida Inglaterra versus Estados
Unidos pela Copa do Mundo, realizada no Brasil.
O interesse se devia unicamente à
seleção inglesa, uma das favoritas para vencer o Mundial.
Na estreia da fase de grupos, a
equipe havia derrotado com facilidade o Chile por 2 a 0.
Pegaria agora uma das barbadas do
torneio e, por isso, decidiu deixar sua principal estrela, o atacante Stanley
Matthews, no banco.
A seleção americana, derrotada no
primeiro jogo por 3 a 1 pela Espanha, reunia carteiros, lavadores de prato e
professores que se dedicavam ao esporte nos fins de semana.
O goleiro, Frank Borghi, era
motorista de carro funerário.
A diferença era tanta que, na
véspera da partida, o jornal inglês Daily Express ironizou: “Seria justo dar à seleção americana três
gols de vantagem”.
O resultado do jogo é considerado
a maior zebra da história das Copas do Mundo.
Um dos responsáveis pela vitória
dos Estados Unidos por 1 a 0 foi o meio-campista Walter Bahr.
Líder do time, o professor do
ensino médio arriscou aos 37 minutos do primeiro tempo um chute de longa
distância que se perderia na linha de fundo.
Mas o atacante Joe Gaetjens
mergulhou e conseguiu, de forma desajeitada, roçar a cabeça e deslocar o
goleiro.
“Não foi dos gols mais bonitos”, reconheceu Bahr seis décadas
depois em entrevista ao jornal inglês The Guardian.
Apesar da pressão, a seleção
americana conseguiu segurar o resultado, graças à grande atuação do goleiro
Borghi.
Ao final, torcedores brasileiros
invadiram o gramado, carregaram os anônimos heróis daquela quinta-feira e
comemoraram a derrota de um dos principais adversários do Brasil.
Último sobrevivente daquele time,
Bahr morreu nesta segunda-feira dia 18, aos 91 anos, na cidade de Boalsburg,
Pensilvânia, por complicações decorrentes da quebra do fêmur.
Jogou na seleção americana até
1957, boa parte como capitão do time, e depois foi por 15 anos técnico da
Universidade da Pensilvânia.
Seus três filhos foram jogadores
de futebol, dois dos quais defenderam o time olímpico americano.
Em uma entrevista ao site da liga
americana de futebol em 2014, Bahr disse que, ao deixar o estádio, pensava nas
críticas que seus adversários receberiam.
“Não sabia se ficava feliz pelo que fizemos ou ficava triste por
aqueles pobres rapazes ingleses”, afirmou. Ao Guardian, reconheceu que se
tratou de um daqueles jogos “onde a melhor equipe perde”.
“Sinto orgulho do que fizemos. Mas, se jogássemos contra a Inglaterra
dez vezes, eles teriam ganhado nove”, disse.
Foi um momento único e luminoso
de um grupo tecnicamente limitado.
No jogo seguinte, a seleção
americana perdeu de 5 a 2 para o Chile e foi eliminada.
Abalados pelo vexame anterior, os
ingleses foram derrotados pela Espanha por 1 a 0 e encerraram de forma bizarra
seu primeiro Mundial — haviam se recusado a participar dos torneios anteriores
por desavenças com a Fifa.
Apesar da façanha, não houve
festa no retorno dos jogadores aos Estados Unidos.
Foram recebidos apenas por suas
esposas, amigos e parentes.
O futebol interessava à pouca
gente e os jornais praticamente ignoraram a vitória histórica — o New York
Times deu apenas dois parágrafos.
“O resultado do jogo foi um segredo bem guardado nos Estados Unidos,
exceto para a comunidade do futebol”, afirmou Bahr.
Tudo mudou a partir da década de
1970, quando a liga americana contratou astros como Pelé e Beckenbauer, e,
principalmente, a partir de 1994, quando o país sediou o Mundial.
O futebol ganhou novos
torcedores, e a vitória sobre os ingleses se tornou conhecida e admirada por um
público mais amplo.
Em 1996, Geoffrey Douglas lançou
o livro The game of their lives (O jogo da vida deles), que virou em 2005 o
filme Duelo de campeões, com Wes Bentley (no papel de Bahr), Gerard Butler
(como o goleiro Borghi) e Jimmy Jean-Louis (no papel do haitiano Gaetjens, que
defendeu a seleção americana apesar de sua nacionalidade).
Imagem: Tucson Sentinel