Imagem: Autor Desconhecido
O ABC e a
queda do muro da Curuzu
Por Pedro
Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte
A atuação de
Leandro Pedro Vuaden, na arbitragem da partida entre Náutico e Paysandu, causou
revolta entre os paraenses que viram má fé nas decisões do árbitro que
assinalou, no último minuto de jogo, um pênalti inexistente contra o time
bicolor.
Enquanto
Vuaden saiu do Aflitos com direito a uma beijoca na bochecha dada por um
agradecido torcedor Timbu, em Belém, o árbitro se tornou persona non grata e a
diretoria do Paysandu pretende ir à Justiça Desportiva para anular o resultado.
Toda a
confusão, porém, tocou uma ferida na memória da torcida abecedista que reviveu
uma polêmica arbitragem de 28 anos atrás que favoreceu o Paysandu frente ao ABC
e fez muito torcedor alvinegro chamar a eliminação do Papão em 2019 de
"reparação histórica".
No dia 5 de
maio de 1991, o ABC foi até a Curuzu enfrentar o Paysandu em jogo válido pelas
quartas de final do Brasileirão da segunda divisão daquele ano.
Quatro dias
antes, em pleno feriado de Dia do Trabalhador, ainda no saudoso Machadão, o
Alvinegro, dirigido por Givanildo Oliveira, venceu por 1 a 0, com gol de
Silvinho, e assegurou a pequena e importante vantagem para a volta em Belém.
O clima
chuvoso da capital paraense garantiu um gramado clássico da segundona e dos
anos 1990, com muita lama, pouca grama e muita dificuldade para fazer a bola
rolar.
Mais de 13
mil pessoas - oficialmente - estiveram presentes nas arquibancadas do Alçapão
da Curuzu para empurrar o Paysandu rumo à virada.
O grande
público foi decisivo, mas não da forma habitual com gritos de incentivo ao time
da casa e pressão nos visitantes e arbitragem.
Na verdade,
como no caso da torcida do Náutico com Vuaden, o responsável pela polêmica
arbitragem de 1991 também foi ovacionado pela torcida bicolor e ganhou até
apelido carinhoso, SeraPapão.
Trata-se de
Manoel Serapião Filho, atual presidente da Escola Nacional de Árbitros de
Futebol (Enaf) e idealizador do VAR no Brasil, que naquela tarde conduziu uma
das mais desastrosas arbitragens da história do futebol brasileiro.
Sem qualquer
pudor, Serapião anulou um gol abecedista incontestável de Rildon, validou um
gol do Paysandu em clara posição de impedimento, além de garantir o término da
partida sem condições de segurança após a superlotação forçar o desabamento do
alambrado fazendo com que algumas centenas de pessoas invadissem o gramado.
O acidente
aconteceu no segundo gol do Paysandu, anotado por Cacaio, e feriu muitos
torcedores que foram levados direto ao hospital.
Manoel
Serapião julgou possível a continuidade da partida e justificou-se:
"Existem
dois tipos de torcida: a pacífica e a aguerrida. A do Paysandu é
pacífica".
Ao apito
final, o placar apontou vitória do Papão por 3 a 1 com dois gols de Cacaio e um
de Ary, além de Quinho descontar para o ABC.
O Papão
seguiu na competição em que conseguiu o acesso e foi campeão e o ABC passou
mais uma temporada na segundona.
A edição de
12 de novembro de 2003, do jornal paraense O Liberal, publicou reportagem em
que o ex-presidente do Paysandu, Miguel Alexandre Pinho, assumiu existência de
um esquema de suborno para favorecer o time de Belém entre os anos de 1991 e
2001 e que o árbitro Manoel Serapião Filho, a quem Miguel chama de Serapapão,
teria beneficiado o Paysandu contra o ABC de maneira deliberada.
A confissão
de Miguel Pinho, para a maioria dos torcedores do ABC, que recordam de Serapião
fazendo "chover" em azul e branco no Alçapão da Curuzu, joga a luz
necessária para entender aquela tarde de 1991 e dá muitas razões para olhar
para a arbitragem de Vuaden no Aflitos, não com rancor, mas com satisfação pela
reparação histórica.