sábado, setembro 14, 2019

O ABC e a queda do muro da Curuzu: quem com Serapião fere, com Vuaden será ferido...

Imagem: Autor Desconhecido

O ABC e a queda do muro da Curuzu

Por Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte

A atuação de Leandro Pedro Vuaden, na arbitragem da partida entre Náutico e Paysandu, causou revolta entre os paraenses que viram má fé nas decisões do árbitro que assinalou, no último minuto de jogo, um pênalti inexistente contra o time bicolor. 

Enquanto Vuaden saiu do Aflitos com direito a uma beijoca na bochecha dada por um agradecido torcedor Timbu, em Belém, o árbitro se tornou persona non grata e a diretoria do Paysandu pretende ir à Justiça Desportiva para anular o resultado.

Toda a confusão, porém, tocou uma ferida na memória da torcida abecedista que reviveu uma polêmica arbitragem de 28 anos atrás que favoreceu o Paysandu frente ao ABC e fez muito torcedor alvinegro chamar a eliminação do Papão em 2019 de "reparação histórica".

No dia 5 de maio de 1991, o ABC foi até a Curuzu enfrentar o Paysandu em jogo válido pelas quartas de final do Brasileirão da segunda divisão daquele ano.

Quatro dias antes, em pleno feriado de Dia do Trabalhador, ainda no saudoso Machadão, o Alvinegro, dirigido por Givanildo Oliveira, venceu por 1 a 0, com gol de Silvinho, e assegurou a pequena e importante vantagem para a volta em Belém.

O clima chuvoso da capital paraense garantiu um gramado clássico da segundona e dos anos 1990, com muita lama, pouca grama e muita dificuldade para fazer a bola rolar.

Mais de 13 mil pessoas - oficialmente - estiveram presentes nas arquibancadas do Alçapão da Curuzu para empurrar o Paysandu rumo à virada.

O grande público foi decisivo, mas não da forma habitual com gritos de incentivo ao time da casa e pressão nos visitantes e arbitragem.

Na verdade, como no caso da torcida do Náutico com Vuaden, o responsável pela polêmica arbitragem de 1991 também foi ovacionado pela torcida bicolor e ganhou até apelido carinhoso, SeraPapão.

Trata-se de Manoel Serapião Filho, atual presidente da Escola Nacional de Árbitros de Futebol (Enaf) e idealizador do VAR no Brasil, que naquela tarde conduziu uma das mais desastrosas arbitragens da história do futebol brasileiro.

Sem qualquer pudor, Serapião anulou um gol abecedista incontestável de Rildon, validou um gol do Paysandu em clara posição de impedimento, além de garantir o término da partida sem condições de segurança após a superlotação forçar o desabamento do alambrado fazendo com que algumas centenas de pessoas invadissem o gramado.

O acidente aconteceu no segundo gol do Paysandu, anotado por Cacaio, e feriu muitos torcedores que foram levados direto ao hospital.

Manoel Serapião julgou possível a continuidade da partida e justificou-se: 

"Existem dois tipos de torcida: a pacífica e a aguerrida. A do Paysandu é pacífica". 

Ao apito final, o placar apontou vitória do Papão por 3 a 1 com dois gols de Cacaio e um de Ary, além de Quinho descontar para o ABC.

O Papão seguiu na competição em que conseguiu o acesso e foi campeão e o ABC passou mais uma temporada na segundona. 

A edição de 12 de novembro de 2003, do jornal paraense O Liberal, publicou reportagem em que o ex-presidente do Paysandu, Miguel Alexandre Pinho, assumiu existência de um esquema de suborno para favorecer o time de Belém entre os anos de 1991 e 2001 e que o árbitro Manoel Serapião Filho, a quem Miguel chama de Serapapão, teria beneficiado o Paysandu contra o ABC de maneira deliberada.

A confissão de Miguel Pinho, para a maioria dos torcedores do ABC, que recordam de Serapião fazendo "chover" em azul e branco no Alçapão da Curuzu, joga a luz necessária para entender aquela tarde de 1991 e dá muitas razões para olhar para a arbitragem de Vuaden no Aflitos, não com rancor, mas com satisfação pela reparação histórica.

Um comentário:

JOGGOL PHOTOS NEWS disse...

Materia mto bom de se ler