Imagem: Autor Desconhecido
Lupe fez os
gremistas irem até a pé
O compositor
e cantor porto-alegrense compôs o hino que transborda o sentimento de ser
gremista: é preciso estar sempre com o Grêmio, até porque o Grêmio vive em sua
torcida.
Se vivo
estivesse, Lupicínio Rodrigues, o Rei da dor de cotovelo, completaria 105 anos,
nesta segunda-feira.
Pedro
Henrique Brandão Lopes
Dizem que
para ser torcedor há que se sofrer um bocado.
Não são
poucas as desilusões que nos causam os jogadores que ostentam os escudos e
envergam as camisas pelas quais somos apaixonados.
Vez ou outra
acontece de um zagueiro da cintura dura azedar a quarta-feira, o goleiro mão de
alface acabar com o domingo, ou mesmo aquele árbitro de reputação duvidosa que
aparece para fazer possível a classificação do arquirrival e acabar com o resto
do mês.
Pois bem, de
sofrimento e chateação poucos conhecem tanto quanto Lupicínio Rodrigues, o Rei
da dor de cotovelo, que recusava os títulos de cantor e compositor e se dizia
apenas um boêmio.
Apenas o
boêmio, compositor de Vingança, seria capaz de entender o que se passa na
cabeça do torcedor quando sai de casa pronto “para o que der e vier”, para
seguir de perto o time de coração e fazer valer uma voz a mais no coro de
milhares apertados sob sol ou chuva.
O homem com
Nervos de Aço, seria o único ser capaz de escrever que até a pé iria, para
qualquer lugar, só para acompanhar seu clube.
Só Lupicínio
Rodrigues seria capaz de compor o mais belo e sanguíneo hino de futebol.
Até por não
ser um hino, mas sim uma declaração de lealdade.
Quem canta o
hino do Grêmio, assina um contrato de fidúcia com o lado azul, preto e branco
de Porto Alegre.
Lupicínio
Rodrigues conheceu bem a cidade onde nasceu, cresceu e morreu.
A gelada
Porto Alegre se aquecia quando Lupe cantarolava suas lamúrias de amores negados.
Desde cedo
com a inclinação boêmia e vindo de uma pobre família de 21 filhos, foi alistado
pelo pai como voluntário no Exército, aos 15 anos.
Quando
completou 21 anos deu baixa no serviço militar e foi viver a vida como sempre
quis.
Conseguiu
sucesso com as composições de marchinha de carnaval em que ganhou alguns
concursos e se lançou no ramo de empreendimentos alimentícios.
Abriu alguns
restaurantes durante a vida e não visava tanto o lucro, mas queria um lugar
para encontrar com os amigos e cantar até o sol raiar.
Alcançou o
sucesso nacional depois que marinheiros que frequentavam os cabarés de Porto
Alegre acabaram levando sua música até o Rio de Janeiro.
Mas a boemia
era o vício de Lupe e depois de muitos anos de noitadas o coração não suportou o
60º aniversário e parou na noite de 27 de agosto de 1974.
Porém mesmo
para os que não conhecem a vida do boêmio, os rastros da existência de
Lupicínio Rodrigues atravessam as décadas desde 1953, ano em que o compositor
escreveu o terceiro hino da história gremista em forma da mais sublime tradução
do sentimento do que é ser torcedor.
Os versos de
Lupicínio Rodrigues guardam toda a dor e amor do que é ser apaixonado pelo
intangível futebol que vive algemado ao bel-prazer do Sobrenatural de Almeida.
O sofrimento
é que dá sentido ao torcer.
Confira a
letra e lamente por não ir a pé ou sinta-se feliz por ir para o que der e vier
seja lá por qual camisa for:
Hino do
Grêmio / Lupicínio Rodrigues — 1953
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo é
que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo é
que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
50 anos de
glória
Tens imortal
tricolor
Os feitos da
tua história
Canta o Rio
Grande com amor
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo é
que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo e
que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
Nós somos
bons torcedores
Sem
hesitarmos sequer
Aplaudiremos
o Grêmio
Aonde o
Grêmio estiver
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo é
que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo é
que nós estaremos
Com o Grêmio
onde o Grêmio estiver
Lara o craque
imortal
Soube seu
nome elevar
Hoje com o
mesmo ideal
Nós saberemos
te honrar
Até a pé nós
iremos
Para o que
der e vier
Mas o certo é
que nós estaremos
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