quarta-feira, setembro 18, 2019

Se vivo estivesse, Lupicínio Rodrigues, o autor do hino do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, completaria 105 anos...

Imagem: Autor Desconhecido

Lupe fez os gremistas irem até a pé

O compositor e cantor porto-alegrense compôs o hino que transborda o sentimento de ser gremista: é preciso estar sempre com o Grêmio, até porque o Grêmio vive em sua torcida.

Se vivo estivesse, Lupicínio Rodrigues, o Rei da dor de cotovelo, completaria 105 anos, nesta segunda-feira.

Pedro Henrique Brandão Lopes

Dizem que para ser torcedor há que se sofrer um bocado.

Não são poucas as desilusões que nos causam os jogadores que ostentam os escudos e envergam as camisas pelas quais somos apaixonados.

Vez ou outra acontece de um zagueiro da cintura dura azedar a quarta-feira, o goleiro mão de alface acabar com o domingo, ou mesmo aquele árbitro de reputação duvidosa que aparece para fazer possível a classificação do arquirrival e acabar com o resto do mês.

Pois bem, de sofrimento e chateação poucos conhecem tanto quanto Lupicínio Rodrigues, o Rei da dor de cotovelo, que recusava os títulos de cantor e compositor e se dizia apenas um boêmio.

Apenas o boêmio, compositor de Vingança, seria capaz de entender o que se passa na cabeça do torcedor quando sai de casa pronto “para o que der e vier”, para seguir de perto o time de coração e fazer valer uma voz a mais no coro de milhares apertados sob sol ou chuva.

O homem com Nervos de Aço, seria o único ser capaz de escrever que até a pé iria, para qualquer lugar, só para acompanhar seu clube.

Só Lupicínio Rodrigues seria capaz de compor o mais belo e sanguíneo hino de futebol.

Até por não ser um hino, mas sim uma declaração de lealdade.

Quem canta o hino do Grêmio, assina um contrato de fidúcia com o lado azul, preto e branco de Porto Alegre.

Lupicínio Rodrigues conheceu bem a cidade onde nasceu, cresceu e morreu.

A gelada Porto Alegre se aquecia quando Lupe cantarolava suas lamúrias de amores negados.

Desde cedo com a inclinação boêmia e vindo de uma pobre família de 21 filhos, foi alistado pelo pai como voluntário no Exército, aos 15 anos.

Quando completou 21 anos deu baixa no serviço militar e foi viver a vida como sempre quis.

Conseguiu sucesso com as composições de marchinha de carnaval em que ganhou alguns concursos e se lançou no ramo de empreendimentos alimentícios.

Abriu alguns restaurantes durante a vida e não visava tanto o lucro, mas queria um lugar para encontrar com os amigos e cantar até o sol raiar.

Alcançou o sucesso nacional depois que marinheiros que frequentavam os cabarés de Porto Alegre acabaram levando sua música até o Rio de Janeiro.

Mas a boemia era o vício de Lupe e depois de muitos anos de noitadas o coração não suportou o 60º aniversário e parou na noite de 27 de agosto de 1974.

Porém mesmo para os que não conhecem a vida do boêmio, os rastros da existência de Lupicínio Rodrigues atravessam as décadas desde 1953, ano em que o compositor escreveu o terceiro hino da história gremista em forma da mais sublime tradução do sentimento do que é ser torcedor.

Os versos de Lupicínio Rodrigues guardam toda a dor e amor do que é ser apaixonado pelo intangível futebol que vive algemado ao bel-prazer do Sobrenatural de Almeida.

O sofrimento é que dá sentido ao torcer.

Confira a letra e lamente por não ir a pé ou sinta-se feliz por ir para o que der e vier seja lá por qual camisa for:

Hino do Grêmio / Lupicínio Rodrigues — 1953

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver
50 anos de glória
Tens imortal tricolor
Os feitos da tua história
Canta o Rio Grande com amor
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo e que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver
Nós somos bons torcedores
Sem hesitarmos sequer
Aplaudiremos o Grêmio
Aonde o Grêmio estiver
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver
Lara o craque imortal
Soube seu nome elevar
Hoje com o mesmo ideal
Nós saberemos te honrar
Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio onde o Grêmio estiver

Arte: Ulisses

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