Imagem: Marcos Arboés
A saga de um
repórter cobrindo a segunda divisão do Estadual
Por Ícaro
Carvalho do Universidade do Esporte
Cobrir
futebol é algo sensacional.
Acho que todo
repórter na vida deve passar por essa experiência ao menos uma vez...
Já cobri as
Séries B, C, D, Campeonato Potiguar, Copa do Brasil, jogo festivo e uma
infinidade de eventos, mas nunca tinha ido a um jogo da segunda divisão do
futebol do RN.
Pois bem.
Imagine o
seguinte cenário: um sábado à tarde, jogo no Frasqueirão entre o tradicional
Alecrim e o desconhecido (pelo menos para este que escreve) Parnamirim, da
Grande Natal, tentando uma graça entre outros times da segunda divisão.
Ao lado de
Luiz Gustavo, Pedro Brandão, Vinícius Kato, Gustavo Sousa e Marcus Arboés,
chegamos ao estádio logo cedo para preparar todo o material da transmissão.
Escalado para
narrar fiquei preocupado: faltando uma hora para início do jogo a escalação do
Parnamirim que recebi, não ajudava em nada...
Do jeito que
estava escrita cheguei a ficar inseguro se era de fato a escalação oficial.
Era...
Respirei
fundo e fui confirmar pessoalmente.
O fato de ir
atrás da escalação era, no mínimo, algo incomum: geralmente elas chegam via
assessoria de imprensa ou por meio de algum colega.
Enfim.
Curiosamente consigo
acesso fácil ao campo.
As exigências
as quais estou acostumado em outros jogos não estão presentes ali.
Sem nenhum impedimento
prossigo na missão de confirmar a escalação do Parnamirim.
No vestiário
sou recebido pelo treinador, que sem camisa me atende sem nenhum problema...
- “O
senhor já tem os titulares e relacionados, professor? Vou transmitir o jogo”.
- “Os
titulares já tenho, mas ainda estamos fechando a lista. “Dois fila da puta” que
disseram que iam vir ainda não chegaram. Pô, falta de comprometimento é foda”,
declarou de forma enfática.
A vontade de
rir foi grande, mas segurei.
Que situação:
o time vai pleitear um acesso à elite do futebol potiguar e sequer tem os
jogadores confirmados para a partida de estreia.
De todo modo,
consegui a relação dos atletas e fui embora.
Me atentei
para outro detalhe: lá nas cabines não tinha copos para imprensa tomar água.
Os que tinham
estavam jogados no lixo.
Avisto
Deusinha, torcedora símbolo do ABC, que foi ao jogo vender seus pastéis e
refrigerantes:
- “Deusinha,
querida, por gentileza, tem como conseguir uns copos pra mim?”
- “Meu
filho, estou sem aqui. Faça o seguinte, pegue a chave do meu bar e vá lá. Tem
uns em cima do fogão”.
Foi uma
gentileza imensa da Deusinha, mas acabei recusando pela pressa e fui embora.
Faltava menos
de meia hora para a bola rolar.
Por sorte
encontrei outro vendedor que gentilmente me cedeu alguns copos...
Subi para as
cabines satisfeito com o resultado de minha aventura na busca dos nomes dos
jogadores do Parnamirim
Lá do alto acompanhei
o aquecimento de um treinador de goleiros que foi algo sensacional: a maior
parte das bolas chutadas por ele ia para fora ao invés ir para as mãos do
arqueiro.
Vida que
segue.
A bola rolou
e a batucada da torcida alecrinense era intensa durante todo o tempo.
E não é que o
franzino Parnamirim abriu o placar?
Num gol
olímpico?
Confesso que
fiquei para lá de incrédulo.
Porém, o
melhor foi a comemoração dos parnamirinenses em campo...
Foi
sensacional.
Como era de
se esperar, a frágil equipe do Parnamirim não resistiu à pressão e ao bom
futebol apresentado pelo Alecrim e acabou permitindo a virada: 3 a 1.
Apesar da
derrota o goleiro Edson, do Parnamirim, foi um dos melhores em campo...
Pegou um
pênalti e se esticando todo para fazer boas defesas, evitou um desastre maior.
É preciso
reconhecer a garra do Parnamirim, que com apenas quatro homens no banco de
reservas e com visível limitação em campo não se entregou e nem apelou.
Agora, feliz
mesmo estavam os alecrinenses...
Depois de um
ano sem ver sua equipe jogar, os esmeraldinos curtiram a vitória, mataram a
saudade e saíram confiantes.
No final,
como diria Fiori Giglioti, apagaram-se as luzes, fecharam-se as cortinas e o
espetáculo foi encerrado.
Voltamos para
casa com a sensação de missão cumprida e uma bolsa cheia de histórias...
Um comentário:
Bom dia. São essas histórias fantásticas que fazem do futebol algo que vai além de um esporte, pois virá paixão e o trabalho para transmitir um jogo fica na memória para sempre.
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