segunda-feira, setembro 30, 2019

Alecrim e Parnamirim: o outro lado da segunda divisão...

Imagem: Marcos Arboés

A saga de um repórter cobrindo a segunda divisão do Estadual

Por Ícaro Carvalho do Universidade do Esporte

Cobrir futebol é algo sensacional.

Acho que todo repórter na vida deve passar por essa experiência ao menos uma vez...

Já cobri as Séries B, C, D, Campeonato Potiguar, Copa do Brasil, jogo festivo e uma infinidade de eventos, mas nunca tinha ido a um jogo da segunda divisão do futebol do RN.

Pois bem.

Imagine o seguinte cenário: um sábado à tarde, jogo no Frasqueirão entre o tradicional Alecrim e o desconhecido (pelo menos para este que escreve) Parnamirim, da Grande Natal, tentando uma graça entre outros times da segunda divisão.

Ao lado de Luiz Gustavo, Pedro Brandão, Vinícius Kato, Gustavo Sousa e Marcus Arboés, chegamos ao estádio logo cedo para preparar todo o material da transmissão.

Escalado para narrar fiquei preocupado: faltando uma hora para início do jogo a escalação do Parnamirim que recebi, não ajudava em nada...

Do jeito que estava escrita cheguei a ficar inseguro se era de fato a escalação oficial.

Era...

Respirei fundo e fui confirmar pessoalmente.

O fato de ir atrás da escalação era, no mínimo, algo incomum: geralmente elas chegam via assessoria de imprensa ou por meio de algum colega.

Enfim.
Curiosamente consigo acesso fácil ao campo.

As exigências as quais estou acostumado em outros jogos não estão presentes ali.

Sem nenhum impedimento prossigo na missão de confirmar a escalação do Parnamirim.

No vestiário sou recebido pelo treinador, que sem camisa me atende sem nenhum problema...

- “O senhor já tem os titulares e relacionados, professor? Vou transmitir o jogo”.

- “Os titulares já tenho, mas ainda estamos fechando a lista. “Dois fila da puta” que disseram que iam vir ainda não chegaram. Pô, falta de comprometimento é foda”, declarou de forma enfática.

A vontade de rir foi grande, mas segurei.

Que situação: o time vai pleitear um acesso à elite do futebol potiguar e sequer tem os jogadores confirmados para a partida de estreia.

De todo modo, consegui a relação dos atletas e fui embora.

Me atentei para outro detalhe: lá nas cabines não tinha copos para imprensa tomar água.

Os que tinham estavam jogados no lixo.

Avisto Deusinha, torcedora símbolo do ABC, que foi ao jogo vender seus pastéis e refrigerantes:

- “Deusinha, querida, por gentileza, tem como conseguir uns copos pra mim?”

- “Meu filho, estou sem aqui. Faça o seguinte, pegue a chave do meu bar e vá lá. Tem uns em cima do fogão”.

Foi uma gentileza imensa da Deusinha, mas acabei recusando pela pressa e fui embora.

Faltava menos de meia hora para a bola rolar.

Por sorte encontrei outro vendedor que gentilmente me cedeu alguns copos...

Subi para as cabines satisfeito com o resultado de minha aventura na busca dos nomes dos jogadores do Parnamirim

Lá do alto acompanhei o aquecimento de um treinador de goleiros que foi algo sensacional: a maior parte das bolas chutadas por ele ia para fora ao invés ir para as mãos do arqueiro.

Vida que segue.

A bola rolou e a batucada da torcida alecrinense era intensa durante todo o tempo.

E não é que o franzino Parnamirim abriu o placar?

Num gol olímpico?

Confesso que fiquei para lá de incrédulo.

Porém, o melhor foi a comemoração dos parnamirinenses em campo...

Foi sensacional.

Como era de se esperar, a frágil equipe do Parnamirim não resistiu à pressão e ao bom futebol apresentado pelo Alecrim e acabou permitindo a virada: 3 a 1.

Apesar da derrota o goleiro Edson, do Parnamirim, foi um dos melhores em campo...

Pegou um pênalti e se esticando todo para fazer boas defesas, evitou um desastre maior.

É preciso reconhecer a garra do Parnamirim, que com apenas quatro homens no banco de reservas e com visível limitação em campo não se entregou e nem apelou.

Agora, feliz mesmo estavam os alecrinenses...

Depois de um ano sem ver sua equipe jogar, os esmeraldinos curtiram a vitória, mataram a saudade e saíram confiantes.

No final, como diria Fiori Giglioti, apagaram-se as luzes, fecharam-se as cortinas e o espetáculo foi encerrado.

Voltamos para casa com a sensação de missão cumprida e uma bolsa cheia de histórias...

Um comentário:

Paulo disse...

Bom dia. São essas histórias fantásticas que fazem do futebol algo que vai além de um esporte, pois virá paixão e o trabalho para transmitir um jogo fica na memória para sempre.