por Charley Moreira para o
Calciopédia
Antes de Gianluigi Buffon marcar
seu nome na história da Juventus, um parente seu já havia brilhado no futebol
italiano.
Primo de segundo grau do avô de
Gigi, Lorenzo Buffon (na foto com sua primeira esposa EdyCampagnoli) foi um dos melhores goleiros das décadas de 1950 e 1960, e
se tornou bandeira do Milan.
Pelo clube milanês, o
“Magnifico”, como era elogiosamente apelidado devido à sua maestria debaixo dos
postes, conquistou quatro títulos da Serie A e disputou 300 jogos.
Ele é o quarto arqueiro que mais
vezes vestiu a camisa rossonera.
Natural de Majano, província de Udine,
Lorenzo cresceu futebolisticamente na Portogruarese, equipe da província de
Veneza.
Buffon chegou ao profissional em
1948 e logo assumiu a titularidade do time granata, que terminou a quarta
divisão de 1948-49 na segunda posição, quatro pontos atrás do San Donà.
Em alta, acertou com o Milan no
ano seguinte à sua estreia como profissional.
Prodígio, não demorou a virar
titular do Diavolo. Algo inenarrável para ele, que sempre foi torcedor
milanista.
No dia 15 de janeiro de 1950, aos
20 anos, Buffon fez sua estreia vestindo rossonero.
O debute ocorreu na goleada por 5
a 1 sobre a Sampdoria, no San Siro, em jogo que iniciou o returno da Serie A de
1949-50.
O Milan fez uma excelente
campanha durante aquele campeonato, mas não foi páreo para a Juventus.
Assim, os rossoneri terminaram na
vice-liderança, com 57 pontos, cinco atrás da campeã.
Porém, na temporada seguinte,
nenhuma outra equipe conseguiu impedir um Milan indomável – defensiva e
ofensivamente falando – de ganhar o scudetto.
Com o icônico tridente sueco
Gunnar Gren, Nils Liedholm e Gunnar Nordahl na frente e um sólido Lorenzo
Buffon debaixo das traves, a equipe milanista subiu de patamar.
Os rossoneri sempre foram grandes
e já eram tricampeões italianos, mas viveram um jejum de 44 anos sem conquistar
um scudetto sequer.
Buffon e o trio Gre-No-Li foram
fundamentais para que o período de vacas magras se encerrasse.
Graças ao quarteto, o Milan se
tornou um dos maiores papões de títulos na década de 1950.
O Diavolo alcançou os louros da
vitória diversas vezes naqueles anos 1950: foram quatro taças da Serie A e duas
Copas Latinas, competição precursora da Uefa Champions League.
Por falar nisso, Lorenzo Buffon e
os rossoneri estiveram muito perto de conquistar as primeiras edições da Copa
dos Campeões, que também antecedeu a UCL.
No entanto, o Real Madrid de
Alfredo Di Stéfano frustrou seus planos: em 1956, o Milan sucumbiu frente ao
gigante espanhol na semifinal, perdendo por 5 a 4 no agregado.
Dois anos mais tarde, milanistas
e merengues voltariam a se enfrentar, dessa vez na final do torneio.
O time madrilenho levou de novo,
dessa vez por 3 a 2.
O sucesso no Milan alçou Lorenzo
Buffon à seleção italiana principal.
O friulano foi convocado pela
primeira vez em 1958, aos 28 anos.
Ele já havia defendido os times
de base da Itália e também a Nazionale B, além das seleções do Resto da Europa
e do Resto do Mundo.
O Magnifico tomou dois gols em
sua estreia pela Squadra Azzurra, no amistoso com a França, realizado em Paris
no dia 9 de setembro, que terminou empatado em 2 a 2.
Depois de dez temporadas, seis
títulos, 300 jogos disputados e a consagração internacional, Lorenzo Buffon
deixou o Milan, em 1959, para defender o Genoa.
O legado que o arqueiro deixou no
clube de Milão é enorme.
Apenas Christian Abbiati (380),
Sebastiano Rossi (330) e Dida (302) defenderam a meta rossonera mais vezes que
Lorenzo.
Beirando os 30 anos, Buffon não
passou muito tempo em Gênova.
Após fazer 20 partidas na equipe
rossoblù da capital da Ligúria, Lorenzo acabou voltando para Milão.
Mas o destino do goleiro não
seria seu antigo time.
Ele havia assinado com a
Internazionale, sua rival nos tempos de Milan.
Lorenzo Buffon permaneceu três
temporadas no time nerazzurro, treinado à época pelo mítico Helenio Herrera,
alcançou as semifinais da Copa das Feiras (competição que posteriormente viria
a se tornar a Copa Uefa e, em seguida, a Liga Europa) em 1960-61 e conquistou
um scudetto, o de 1962-63.
Mesmo com o passado rossonero,
foi querido pelos interistas, já que conseguiu ter atuações como a de seus melhores
momentos no adversário citadino.
Prova disso é que, em 1962,
Lorenzo foi titular e capitão da Itália em dois jogos da Copa do Mundo do
Chile.
Técnico dos azzurri na
competição, Paolo Mazza mudou várias peças para a última partida dos italianos
no Mundial e o goleiro foi um dos que perdeu o status de titular.
Não adiantou: a Nazionale fez uma
campanha pífia e acabou eliminada na fase de grupos, ficando atrás de Alemanha
Ocidental e Chile.
Depois do fracasso na Copa de
1962, o veterano Buffon não foi mais convocado.
Com quase 33 anos, coube a ele
apenas observar o crescimento de Giuliano Sarti e Enrico Albertosi, enquanto
ainda podia se dedicar aos clubes.
Ao todo, disputou 15 jogos e
sofreu 17 gols vestindo o manto azzurro.
Em seus últimos momentos como
profissional, Lorenzo Buffon sofreu com muitas lesões musculares e muitas vezes
teve de dar lugar a Ottavio Bugatti, então seu reserva.
Com isso, o Magnifico foi
envolvido numa troca com a Fiorentina em 1963: Sarti iria para Milão, enquanto
Lorenzo se mudava para Florença.
Na Viola, o goleiro se deparou
com a ascensão do prodígio Albertosi e entrou em campo somente uma vez na
temporada 1963-64.
Caminhando para o fim de sua
carreira, Lorenzo aceitou o desafio da Ivrea e foi atuar na Serie C.
Ele havia jogado por 15 anos na
elite do futebol italiano.
Aguentou apenas mais uma
temporada profissional até aposentar as luvas, em 1965.
Doze anos depois, aventurou-se
como técnico do Sant’Angelo, mas não obteve êxito e deixou o cargo em 1978.
Nunca mais treinou uma equipe.
Lorenzo Buffon e Giorgio
Ghezzi: uma rivalidade transcendental
A década de 1950 foi dominada quase
que inteiramente por Milan, Juventus e Inter, mas a rivalidade entre as equipes
de Milão prevaleceu.
Um dos motivos para isso era a
animosidade entre Lorenzo Buffon e Giorgio Ghezzi, que foi o goleiro nerazzurro
entre 1951 e 1958.
Os dois também disputaram o posto
de melhor arqueiro de seu tempo e a preferência dos treinadores da seleção
italiana no período.
Além disso, eles também
concorreram pelo amor das mesmas torcidas.
Giorgio, falecido em 1990, deixou
a Inter rumo ao Genoa e rapidamente trocou de clube para substituir Lorenzo no
Milan.
Por sua vez, o próprio Buffon foi
o sucessor do rival, na breve experiência lígure, mas – muito competitivo –
logo galgou um degrau e foi ser o seu antagonista na Beneamata.
O fato é que ambos fizeram
história na Lombardia e foram idolatrados pelas duas torcidas – algo raro.
Dá para dizer que ficaram
empatados também na seleção: Ghezzi foi titular na Copa de 1954 e Buffon na de
1962.
No entanto, quem pensa que a
rivalidade ficaria restrita aos gramados se engana.
Buffon e Ghezzi amaram a mesma
mulher: Edy Campagnoli, modelo e apresentadora, um dos símbolos da Rai daqueles
tempos.
A estrela da TV namorou Giorgio,
mas casou-se com Lorenzo, em 1958.
Tiveram uma filha, Patricia, mas
acabaram se separando, na década seguinte, o que gerou escândalo.
Na Itália (mais) conservadora de
outrora, o divórcio era quase inaceitável.
Para espairecer e deixar os
mexericos para trás, Buffon – já aposentado do futebol – partiu num avião para
os Estados Unidos, alugou um carro e passou semanas dirigindo.
Atravessou o país, de costa a
costa: Los Angeles, Las Vegas, Chicago e muito mais.
Depois, retornou à Itália e viveu
um período em Latisana, perto de Portogruaro.
Conheceu Loredana, que se
tornaria sua segunda esposa, em 1978, e foi contratado como olheiro do Milan.
Nessa função, que exerceu até se
tornar um octogenário, o ex-arqueiro levou às divisões de base do clube
rossonero o lateral Gianluca Pessotto, que viria a se tornar um excelente
jogador na Juventus.
Lorenzo também tentou levar seu “quase
sobrinho Gianluigi Buffon”. “Eu e o avô dele éramos como irmãos”,
afirmou à Gazzetta dello Sport, em 2009.
O Milan, contudo, não quis saber
de Gigi, que ainda era um jovem meio-campista, com apenas 13 anos.
O resto da história, todos nós
sabemos.
Lorenzo Buffon
Nascimento: 19 de dezembro de
1929, em Majano, Itália
Posição: goleiro
Clubes como jogador:
Portogruarese (1948-49), Milan (1949-59), Genoa (1959-60), Inter (1960-63),
Fiorentina (1963-64) e Ivrea (1964-65)
Clubes como treinador:
Sant’Angelo (1977-78)
Títulos como jogador: Serie A
(1951, 1955, 1957, 1959 e 1963) e Copa Latina (1951 e 1956)
Seleção italiana: 15 jogos e 17
gols sofridos