Como funciona o fair play
financeiro nas principais ligas do mundo
Clubes europeus têm normas de
sustentabilidade há anos; CBF planeja implementar regras para evitar
endividamento no Brasil
Por Milena Tomaz Milena
Tomaz para o Site ‘Trivela’
A Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) pretende implementar o fair play financeiro no País.
A medida consiste em regras para
controle de gastos dos clubes de forma a proporcionar mais sustentabilidade a
longo prazo e ajudar a evitar endividamento.
Fair play financeiro nas
principais ligas
Embora apareça como uma novidade
no cenário nacional, a regulamentação financeira começou a ser mais discutida
nos anos 2000 na Europa e já vigora em diversos campeonatos do mundo, cada qual
com suas particularidades.
A Trivela explica a seguir como
funcionam as normas nas cinco principais ligas europeias.
Bundesliga
A Uefa determinou indicações
relacionadas ao fair play financeiro em 2009, mas a Alemanha já tinha um método
próprio e similar bem antes disso, desde a criação da Bundesliga em 1962.
Em 1998, a regra “50+1” da
Liga Alemã de Futebol (DFL) passou a vigorar e nortear boa parte da saúde
financeira dos times. O nome remete ao fato de os clubes serem obrigados a ter
50%, mais um, em direitos de voto — ou seja, a maioria.
A determinação concede aos
membros da instituição a “palavra final” em qualquer escolha e, ao
considerar que são administrados por torcedores, os fãs nas arquibancadas se
sentem representados na tomada de decisão.
A intenção é evitar que
investidores externos controlem a maior fatia e priorizem lucro em detrimento
da equipe, o que poderia causar imprudência financeira e acabar com “costumes
democráticos dos clubes alemães”, segundo a liga.
Porém, há exceção.
A medida não se aplica a
Wolfsburg e Bayer Leverkusen porque seus respectivos investidores atuam nos
clubes há mais de 20 anos e ficam isentos após o período.
O time da BayArena foi fundado
por funcionários da empresa farmacêutica Bayer, enquanto os Lobos sempre
estiveram sob propriedade da fabricante Volkswagen.
O Hoffenheim também é isento da
norma por causa de Dietmar Hopp.
O investidor conquistou uma
brecha em 2015, quando a DFL considerou que ele exerceu apoio “de forma
substancial e ininterrupta por mais de 20 anos”.
As ressalvas acabaram por aí.
O descumprimento impossibilita o
clube de participar da Bundesliga e pode ocasionar em implicações financeiras.
LaLiga
LaLiga chama seu conjunto de
regras de Limites de Custos do Plantel Esportivo (LCPD, na sigla em espanhol).
Estão inclusos gastos com
jogadores e comissão técnica e quanto um clube pode desembolsar no mercado de
transferências, conhecidos como “regra 1:1”.
Neste caso, só é possível gastar
o equivalente ao que foi economizado ou se conseguiu de lucro.
O limite fica estipulado pela
própria liga com base nas documentações financeiras enviadas pelos clubes.
O órgão de validação analisa os
demonstrativos e, se necessário, pede ajustes para que o valor se encaixe na
sustentabilidade.
É nisso que o Barcelona enfrenta
problemas.
Os Catalães foram impedidos de
registrar jogadores na temporada passada porque LaLiga afirmou ter ocorrido
violação no teto salarial.
A equipe conseguiu remediar a
situação, porém ainda tem pendências a resolver, de acordo com Javier Tebas,
presidente da competição.
Outra punição aplicável em caso
de eventual infração são multas.
Ligue 1
A Ligue 1, ao contrário do
Campeonato Alemão e do Espanhol, tem sentenças um pouco mais duras em caso de
descumprimento.
A DNCG (Direção Nacional de
Controle e Gestão da Liga de Futebol Profissional da França) é a responsável
por monitorar a saúde financeira dos clubes e determinou o rebaixamento do Lyon
à segunda divisão em junho passado por inadequação às normas.
O descenso foi revertido pelo
Lyon, mas evidencia o rigor adotado na competição.
Além de decidir se uma equipe tem
condições ou não de disputar a elite francesa, a DNCG pode interferir em
contratos de jogadores, gastos salariais e impor restrições no orçamento.
Todos os clubes devem prestar
contas ao órgão anualmente para que haja análise e diagnóstico das condições
financeiras da instituição.
Premier League
A Premier League exige dos clubes
o pagamento de pendências em dia e a disponibilização de relatórios monetários
toda temporada à liga.
Chamadas de Regras de Lucro e
Sustentabilidade Financeira (PSR, na sigla em inglês), as normas estipulam que
cada clube não pode ter prejuízo superior a 105 milhões de libras em um período
de três anos.
Além disso, a organização pede
que os gestores apresentem projeções das finanças para duas temporadas que
mostrem como se pretende evitar ultrapassar o teto de gastos no referido
triênio.
Ultrapassar os limites podem
causar sanções como dedução de pontos — ocorreu com o Everton em 2024 — e
multas.
Serie A
Por fim, na Serie A, a
responsabilidade de coordenar e analisar as finanças dos clubes é da Comissão
de Supervisão de Clubes de Futebol Profissional (COVISOC, na sigla em
italiano).
Em todo ano, por volta do verão
europeu, os times precisam dar mostras de ter capacidade financeira sustentável
na temporada para evitar que haja problemas no pagamento das contas no decorrer
do ciclo.
As penalizações em caso de
infração incluem perda de pontos e multas.
No Brasil
O projeto para o fair play
financeiro no Brasil foi debatido nesta segunda-feira (11) em evento da CBF no
Rio de Janeiro e ainda está em análise sobre formatos e modelos ideais.
Ricardo Gluck Paul,
vice-presidente da CBF, explicou à Trivela que o objetivo é implementar um
sistema focado na realidade das equipes brasileiras, com as características do
País, mas inspirado em erros e acertos de medidas aplicadas em ligas
internacionais.
Ele afirmou ainda ser possível
que as normas saiam do papel em 2026.