A dura experiência de
poder ver Xavi, Iniesta e cia ltda.
Por Carlos Henrique.
Quem
acompanha o futebol de perto como eu, notadamente o europeu, não deixa de ficar
fascinado pelo futebol fácil, envolvente, refinado e clássico dos meias
espanhóis Xavi Hernández e Andres Iniesta.
Alguns
nunca pararam pra pensar que o argentino Lionel Messi, a despeito de toda sua
genialidade, tem muito do seu brilho em virtude desses dois jogadores
trabalhando para ele no meio de campo do Barcelona.
O
mesmo espetáculo a dupla catalã promove quando vestem a camisa da seleção da
Espanha.
Não
à toa, graças à imensa contribuição de ambos, a "Fúria" largou a
pecha de time amarelão e entrou no seleto rol de equipes campeãs mundiais.
Sob
a batuta deles também veio mais um título europeu de seleções.
Muitos
brasileiros não podem presenciar o futebol de ambos no Camp Nou com facilidade,
seja por motivos profissionais, financeiros e outros.
Eu
já estive no Santiago Bernabéo, estádio do rival Real Madrid, há alguns anos e
pude ver jogadores históricos do clube em ação como Raúl, Casillas e Guti em
ação contra o Valladolid - vitória “merengue” por inesquecíveis 7 a 0.
Entretanto,
durante minha passagem por Barcelona não pude ter a oportunidade de assistir a
uma partida dos “Blaugranas” nem sequer a arena, já que o time catalão treinava
naquele momento e não era permitida a entrada de turistas no local.
Pelo
pouco tempo que me restou na cidade não pude retornar para tentar conhecer de
perto o gigantesco estádio por dentro.
Enfim,
os anos se passaram e eu pensava que dificilmente teria outra oportunidade de
conhecer de perto o futebol de Xavi, Iniesta e Messi.
Eis
que o Brasil é escolhido para ser sede de uma Copa do Mundo e a luz da
esperança de ver ao vivo o futebol de dois craques consagrados se reacendeu em
mim.
Veio
a Copa das Confederações neste ano e a melhor das notícias: a Espanha jogaria
em Recife, cidade distante menos de 300km daqui de Natal.
Ou
seja, chance imperdível de conferir "in loco" o desfile dos atuais
melhores meiocampistas do planeta na minha opinião.
Comprei
meu ingresso com antecedência e me preparei para ir ao jogo em 16/06. Chegado o
dia, um domingo de sol bonito em Natal, visto a camisa da seleção espanhola,
coloco meu chapéu tipicamente nordestino e levo a bandeira do meu time do
coração para a capital pernambucana.
Mas
como nem tudo que reluz é ouro, houve muitas barreiras até poder concretizar
essa minha vontade. A começar pela péssima estrutura montada pela FIFA em
conjunto com as cidades-sede para recepcionar, orientar e distribuir os
ingressos ao público.
Falando
no meu caso, ao consultar e tentar agendar a retirada do meu bilhete em Recife,
uma metrópole com aproximadamente 2 milhões de habitantes, deparei-me com
apenas um único ponto de recolhimento para atender os cerca de 42 mil
espectadores.
O
que eu temia aconteceu: uma fila monstruosa de quase 3h de duração com poucos
guichês - sem contar a péssima sinalização, desorientando qualquer um que
ousasse percorrer o interminável Shopping Center Recife.
Missão
cumprida após as 3h em 3 filas distintas era hora de comer algo e rumar para a
Arena Pernambuco, afinal não queria me atrasar para um evento tão grandioso
como esse entre Espanha e Uruguai pela Copa das Confederações - eram quase 17h.
Do shopping até o estádio tive que passar por mais alguns perrengues: pegar
dois metrôs e mais dois ônibus (a sorte é que liberaram centenas de veículos só
para esse trajeto) até chegar a 2km do estádio através, onde tivemos que descer
da condução e seguir a pé até a arena.
Nesse
trajeto fiz aquelas amizades de 15 minutos que só o futebol proporciona - um
grupo de cruzeirenses e um uruguaio fizeram o tempo de sofrimento nesse trajeto
parecer menor, pois foi quase 1h a mais perdida tentando chegar ao jogo.
Chegando
ao local da partida esqueço do transtorno que passei e só visualizo aquela
construção iluminada de azul, os portões de entrada e a multidão entrando -
dessa vez sem maiores complicações.
Corredores
largos, muito espaço do lado de fora para se locomover e boa sinalização amenizaram
um pouco o cansaço que já se instalava em meu corpo.
Procurei
meu assento numerado, o P2 da categoria 3, e lá me instalei, não sem antes me
deslumbrar com a imponência do moderno estádio de Recife, que depois da Copa
das confederações será cedido ao Náutico para mandar seus jogos.
Cheguei
atrasado para a cerimônia de entrada das duas seleções e para os hinos
nacionais, dois momentos marcantes de um confronto internacional de futebol.
Mas
cheguei a tempo de não perder um segundo de bola rolando.
E
o que eu vi foi um show de bola da Espanha, como era de se esperar.
Os
dois maestros regiam a Fúria Espanhola com toda classe e os uruguaios, atônitos,
não sabiam o que fazer com o que viam.
Passes
milimétricos e dribles sensacionais de Iniesta, aliados à perfeição tática e ao
domínio de bola sobrenatural de Xavi resultaram num passeio espanhol em
gramados pernambucanos para cima dos vizinhos uruguaios.
O
resultado final foi 2 a
1 para os atuais campeões do mundo e poderia ter sido mais, caso a extrema fome
de querer tocar a bola e não chutar de fora da área não fossem
"defeitos" tão latentes dos espanhóis.
A
essa altura eu nem lembrava mais do apuro que havia passado horas antes e
sequer me passava pela cabeça o que iria passar dali pra frente após o apito
final.
O
árbitro encerrou a partida e eu ainda permaneci no estádio tirando algumas
fotos e esperando o público sair (elogie-se, rapidamente a arena estava vazia
sem nenhum tumultuo).
Entretanto,
o caminho da volta foi tão tortuoso quanto o da vinda - com o agravante que eu
ainda iria para a rodoviária pegar um ônibus e encarar mais 4h de estrada
durante a madrugada.
Novamente
me deparo com uma multidão seguindo vagarosamente em direção ao ponto de ônibus
improvisado montado para fazer o transporte das pessoas.
Apesar
de novamente estarem disponibilizados centenas de ônibus para tal fim, o que se
viu foi uma total desorganização e falta de atenção para com o mínimo conforto
e bem estar do espectador.
Aglomerações
de pessoas esperando para voltar pra casa em conduções entupidas de gente.
Ao
desembarcar na estação de metrô Cosme e Damião mais outro drama: o local estava
apinhado de gente, quase sem poder se locomover num pequeno espaço.
A
disputa para entrar no vagão só faltou ser no tapa, mas no fim das contas
consegui e desci na rodoviária de Recife, após quase 2h de mais aborrecimentos,
para pegar o transporte de volta para casa.
Apesar
disso tudo, dessa falta de respeito dos gestores da capital de Pernambuco para
com seus visitantes e da FIFA para com os espectadores, os poucos mais de 90
minutos vividos dentro da Arena Pernambuco foram intensos e bem aproveitados
vendo um futebol de altíssima qualidade e o desejo de ver de perto dois astros
do esporte que tanto aprecio tão de perto.
Que
todo esse transtorno que foi até noticiado nas TVs do país inteiro sirva de
aprendizado para os governantes pernambucanos (e brasileiros, em geral) e para
a FIFA, em 2014, de que o espetáculo não pode se resumir apenas dentro do estádio,
e sim para quem se desloca até ele também.
Valeu
a pena presenciar mais esse show da dupla Xavi-Iniesta!
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