Imagem: Getty Images/Justin Scott-Wesley
Não são apenas jardas
Por Sérgio Lima
Lá se vai outro Super Bowl e com
ele o fim de mais uma temporada do campeonato esportivo mais rentável e bem
organizado do planeta.
Os seguidos bons resultados
alcançados pela liga nacional de futebol americano, ou NFL, mesmo durante os
anos de crise econômica não podem mais passar despercebidos.
Num país repleto de alternativas
para um entretenimento de boa qualidade, o sucesso desta liga deve ser
comemorado por todos torcedores que sonham em ver as equipes para que torcem
sendo respeitadas e valorizadas ao extremo.
E como em todos os casos de
sucesso observados no mundo das empresas responsáveis por grandes marcas, tudo
na NFL é pensado e executado por profissionais cuidadosamente escolhidos e
contratados a peso de ouro.
O comissário da liga, Roger
Goodell, por exemplo, tem rendimentos anuais beirando os 30 milhões de dólares
enquanto diversos de seus executivos recebem salários superiores aos 10 milhões
ao ano.
Como em qualquer empresa de
ponta, cabe a estes profissionais continuar fazendo da liga um “negócio” maior
e mais forte a cada temporada, seja no que se refere a qualidade do jogo, ao
interesse dos fãs e ao faturamento, hoje de 9 bilhões anuais e com objetivo de
chegar aos 25 bilhões até o ano de 2027.
Seja através de pesados
investimentos para oferecer uma melhor experiência audiovisual a quem compra os
ingressos para ver ao vivo, ou por meio de parcerias com bancos de investimentos
para capitalizar empresas que consigam inventar algo que melhore a experiência
dos torcedores de estádio, ou ainda pela adoção de políticas sustentáveis com
altíssimos níveis de reciclagem, onde estádios como o do Filadélfia Eagles, por
exemplo, já tenham instaladas até torres eólicas e painéis solares, a verdade é
que os executivos da NFL não param de buscar por inovações e melhorias que
agradem sua majestade o bom torcedor.
Ao mesmo tempo e longe da atenção
das câmeras ou mídia, a liga tem colocado em prática um agressivo sistema de
identificação de torcedores problema e pouco a pouco os tem excluído de seus
eventos.
Mas é sempre importante lembrar
que este enorme sucesso faz parte de uma cultura de bons executivos iniciado lá
atrás.
O comissário atual e sua equipe
colhem hoje, embora mantenham com brilhantismo, muito do que foi plantado por
gerações de visionários que antes dele fizeram as mudanças necessárias e
responsáveis por muito do que a liga é hoje.
Desde cedo aqueles profissionais
perceberam a importância de terem controle total sobre a qualidade e
distribuição das imagens, por isso, jamais permitiram que nenhuma das decisões
sobre quaisquer aspectos das transmissões dos jogos ficassem nas mãos dos
executivos das Televisões, mesmo quando isso significou receber menos.
Outro fator importante foi a
identificação de que não era de interesse da liga ter seus jogos mostrados por
apenas uma emissora.
Hoje em dia, a NFL tem contrato
com praticamente todas as grandes redes de TVs abertas e ainda toca seu próprio
canal de TV, a NFL Network, que transmite no sistema fechado filmes de arquivo,
programas especiais e jogos atuais e antigos 24 horas ao dia, tudo pensando no fã
que não aceita ficar sem futebol durante os 6 meses em que a liga está em férias.
Mas o fator que muitos
especialistas acreditam ser a principal razão pelo sucesso da liga de futebol
americano é o formato de distribuição dos lucros.
Décadas atrás, os donos dos times
de mercados maiores e com muito maior poder de arrecadação, abraçaram a ideia
de uma sociedade forte entre todas as equipes e apostando na super
popularização de uma liga forte num futuro que certamente não viveriam para
ver, abriram mão de grande parte de seus ganhos para que numa divisão
igualitária, diversas outras equipes passassem de meras participantes a
possíveis desafiantes.
Times antes pequenos fizeram
história, novas rivalidades, dinastias e heróis nasceram e tornaram-se lendas
até hoje adoradas.
O tiro dos executivos foi
certeiro e a liga nunca mais parou de crescer e faturar.
É importante não se esquecer de
quem faz o show em campo.
Graças a acordos trabalhistas
entre a NFL e a associação dos jogadores de futebol americano, há anos os
atletas são verdadeiros sócios em boa parte do que a liga arrecada.
No último acordo de trabalho
entre as partes, por exemplo, ficou estabelecido que pelos próximos dez anos
quase 50 por cento de todas as arrecadações da liga com mídias (direitos de TV,
rádio e internet) deverão ser pagas aos jogadores em forma de salários e prêmios.
O acordo de 300 páginas vai muito
além de tratar apenas de salários e chega ao ponto de detalhar a quantidade de
dias e horas em que os jogadores poderão ser utilizados em treinos pelos
patrões e que tipo de equipamentos os mesmos deverão estar usando em cada
treino.
Neste mesmo acordo a liga aceitou
criar um fundo superior a 700 milhões para ajudar ex-atletas e futuros
ex-atletas da liga e seus familiares que estejam sofrendo ou que venham a
sofrer por problemas de saúde causados por lesões relacionadas ao esporte.
Claro que a liga de futebol NFL
está longe de ser perfeita e deve ter problemas que eu não conheço, mas até
onde meus olhos conseguem enxergar, eles tem dado lição atrás de lição a quem
diz fazer esporte mundo afora e tem mostrado ser possível fazer do esporte algo
lucrativo em que todos ganhem muito dinheiro desde que as partes envolvidas
tenham capacidade para administrar em alto nível e adicionem valor ao negócio.
A NFL, assim como outras grandes
marcas do esporte do mundo, não pretendem parar de crescer e para chegarem
aonde pretendem em termos de faturamento precisam conquistar públicos jovens de
países de terceiro mundo hoje totalmente desprezados pelos clubes locais.
Num mundo em constante processo
de aproximação os grandes tendem a ficar cada vez maiores e os pequenos a
desaparecerem para dar espaço a marcas fortes e mundiais.
A verdade é que não há mais
espaço para amadores no futuro de qualquer administração esportiva no mundo.
Ou se fazem mudanças radicais na
forma de se dirigir os esportes nos mercados menos desenvolvidos ou veremos o
quase desaparecimento de diversas marcas que um dia já foram gigantes.
@moneyandsports
Pinçado do blog do Juca Kfouri.
Um comentário:
Ahhhh se o nosso futebol tivesse 5% das ideia da NFL.
Virei fã da bola oval!
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