Imagem: Autor Desconhecido
Por Tiago Pimentel
Para “Publico”
Foi o melhor marcador em três
países, apesar de uma carreira prejudicada pela Guerra Civil espanhola.
Esta é a história daquele que
podia ser hoje conhecido como o melhor atacante da história do futebol
espanhol, não fosse ter visto a carreira afetada pela Guerra Civil que levaria
o general Franco ao poder em Espanha.
Conta quem o viu jogar que Isidro
Lángara era um prodígio de força física e de poder de remate, e os números não
mentem: sagrou-se “Pichichi” da Liga espanhola em três temporadas consecutivas,
ao serviço do Oviedo.
E, mesmo longe de Espanha, continuou a marcar.
Foi o melhor marcador nos
campeonatos de México e Argentina, por onde andou durante a Guerra Civil
espanhola.
Ninguém, até aos nossos dias, foi
capaz de superar a sua média de gols com a camisa da seleção espanhola – marcou
17 nas 12 partidas que disputou (um gol a cada 63 minutos).
Nascido em 1912 em Pasaia, no
País Basco, Isidro Lángara cedo mostrou qualidades e aos 18 anos foi contratado
pelo Oviedo.
Estreou com dois gols, um bom
prenúncio do que iria ser o resto da sua carreira.
Foi o melhor marcador da Liga
espanhola entre 1933-34 e 1935-36, mas quando se encontrava de férias na terra
natal foi surpreendido pelo início da Guerra Civil espanhola.
Euskadi (País Basco) manteve-se
fiel à República, e em 1937 Lángara partia em turnê com uma seleção basca que
iria angariar fundos para as vítimas do conflito e também recolher apoios para
a causa basca.
Entretanto, já havia estreado
pela seleção espanhola, em 1932.
Portugal foi a vítima preferida
de Lángara: a 11 de Março de 1934, no Estádio de Chamartín, a equipe nacional
foi batida por 9-0, com cinco gols do centroavante basco.
Uma semana depois, no Lumiar, os
espanhóis voltaram a vencer (1-2), com “bis” de Lángara.
Ainda voltou a cruzar com a seleção
portuguesa em 1935, marcando outros dois gols.
Antes do “desafio” a Franco,
Isidro Lángara já tinha feito frente a Mussolini e Hitler.
No Mundial 1934, organizado pela
Itália, o artilheiro de Oviedo deu muitas dores de cabeça à equipe da casa, no
jogo dos quartas-de-final.
A partida, marcada pelo jogo
violento dos italianos, valeu um lugar na história (infame) do futebol ao
árbitro René Mercet.
Il Duce acabaria por conseguir o objetivo
de levar a Itália ao título.
Já em 1935, a Espanha foi a Colonia
jogar contra a Alemanha, mas o estádio repleto de suásticas ficou em silêncio
com os dois gols de Lángara.
Com a ascensão de Franco ao poder
em Espanha, a seleção basca decidiu não regressar a casa, mas antes seguir
viagem para as Américas.
Competiram como Club Deportivo
Euskadi no campeonato local, e, por essa altura, Lángara já tinha tal fama que,
contavam os seus antigos companheiros no Oviedo, nas cartas que lhe escreviam
não havia nenhuma outra indicação que não fosse: Isidro Lángara (México).
A equipa seria desmembrada em
1939 e Lángara seguiu para a Argentina, assinando pelo San Lorenzo de Almagro.
Mal desembarcou em Buenos Aires,
estreou com quatro gols frente ao River Plate.
Descrito por quem privou com ele
como um “bom homem, de origem humilde e sem qualquer traço de vedeta”, Isidro
Lángara não resistiu ao apelo do Oviedo e regressou a casa em 1946.
Atraiu uma multidão tal que o
comboio onde viajava teve de parar muito antes de chegar à cidade.
Terminou a carreira em 1948, tal
como tinha começado: com dois gols.
Após várias experiências como
técnico pela América do Sul, regressou ao País Basco, onde morreu em 1992.
E as balizas adversárias deixaram
de estar sob ameaça.
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