sábado, outubro 04, 2014

Isidro Lángara, o goleador que desafiou Franco, Hitler e Mussolini... Na foto, o homem do centro.


Imagem: Autor Desconhecido

Por Tiago Pimentel


Para “Publico”

Foi o melhor marcador em três países, apesar de uma carreira prejudicada pela Guerra Civil espanhola.

Esta é a história daquele que podia ser hoje conhecido como o melhor atacante da história do futebol espanhol, não fosse ter visto a carreira afetada pela Guerra Civil que levaria o general Franco ao poder em Espanha. 

Conta quem o viu jogar que Isidro Lángara era um prodígio de força física e de poder de remate, e os números não mentem: sagrou-se “Pichichi” da Liga espanhola em três temporadas consecutivas, ao serviço do Oviedo. 

E, mesmo longe de Espanha, continuou a marcar. 

Foi o melhor marcador nos campeonatos de México e Argentina, por onde andou durante a Guerra Civil espanhola. 

Ninguém, até aos nossos dias, foi capaz de superar a sua média de gols com a camisa da seleção espanhola – marcou 17 nas 12 partidas que disputou (um gol a cada 63 minutos).

Nascido em 1912 em Pasaia, no País Basco, Isidro Lángara cedo mostrou qualidades e aos 18 anos foi contratado pelo Oviedo. 

Estreou com dois gols, um bom prenúncio do que iria ser o resto da sua carreira. 

Foi o melhor marcador da Liga espanhola entre 1933-34 e 1935-36, mas quando se encontrava de férias na terra natal foi surpreendido pelo início da Guerra Civil espanhola. 

Euskadi (País Basco) manteve-se fiel à República, e em 1937 Lángara partia em turnê com uma seleção basca que iria angariar fundos para as vítimas do conflito e também recolher apoios para a causa basca.

Entretanto, já havia estreado pela seleção espanhola, em 1932. 

Portugal foi a vítima preferida de Lángara: a 11 de Março de 1934, no Estádio de Chamartín, a equipe nacional foi batida por 9-0, com cinco gols do centroavante basco.

Uma semana depois, no Lumiar, os espanhóis voltaram a vencer (1-2), com “bis” de Lángara. 

Ainda voltou a cruzar com a seleção portuguesa em 1935, marcando outros dois gols.

Antes do “desafio” a Franco, Isidro Lángara já tinha feito frente a Mussolini e Hitler.

No Mundial 1934, organizado pela Itália, o artilheiro de Oviedo deu muitas dores de cabeça à equipe da casa, no jogo dos quartas-de-final. 

A partida, marcada pelo jogo violento dos italianos, valeu um lugar na história (infame) do futebol ao árbitro René Mercet. 

Il Duce acabaria por conseguir o objetivo de levar a Itália ao título. 

Já em 1935, a Espanha foi a Colonia jogar contra a Alemanha, mas o estádio repleto de suásticas ficou em silêncio com os dois gols de Lángara.

Com a ascensão de Franco ao poder em Espanha, a seleção basca decidiu não regressar a casa, mas antes seguir viagem para as Américas. 

Competiram como Club Deportivo Euskadi no campeonato local, e, por essa altura, Lángara já tinha tal fama que, contavam os seus antigos companheiros no Oviedo, nas cartas que lhe escreviam não havia nenhuma outra indicação que não fosse: Isidro Lángara (México). 

A equipa seria desmembrada em 1939 e Lángara seguiu para a Argentina, assinando pelo San Lorenzo de Almagro. 

Mal desembarcou em Buenos Aires, estreou com quatro gols frente ao River Plate.

Descrito por quem privou com ele como um “bom homem, de origem humilde e sem qualquer traço de vedeta”, Isidro Lángara não resistiu ao apelo do Oviedo e regressou a casa em 1946. 

Atraiu uma multidão tal que o comboio onde viajava teve de parar muito antes de chegar à cidade. 

Terminou a carreira em 1948, tal como tinha começado: com dois gols. 

Após várias experiências como técnico pela América do Sul, regressou ao País Basco, onde morreu em 1992. 

E as balizas adversárias deixaram de estar sob ameaça.

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