A Imprensa pode comentar a violência dos estádios com isenção?
Por Juan Silvera
Comunicação, Esporte e Cultura
Blog do Grupo de Pesquisa Esporte e Cultura (Faculdade de Comunicação
Social/UERJ)
Cadastrado junto ao CNPQ
Qual o grau de responsabilidade
que a imprensa esportiva em geral tem perante as atitudes do torcedor no que
tange à violência desencadeada por resultados adversos, erros de arbitragem e
outros componentes “naturais” que desagradam e frustram as expectativas dos
mesmos?
Assistindo ao videoteipe da
transmissão da partida válida pelas quartas de final dos Jogos Olímpicos de
Londres 2010 entre as seleções de Brasil e Coreia do Sul, esta foi prejudicada
em duas oportunidades em que a arbitragem deixou de marcar faltas grosseiras
contra o time do Brasil, faltas estas cometidas dentro da grande área, o que
caracterizaria penalidade máxima.
A primeira falta ocorreu aos 15
minutos do primeiro tempo – o zagueiro Juan levantou exageradamente o pé e
acertou a cabeça do atacante asiático.
Aos 3 minutos do Segundo tempo,
Sandro derruba Bokyung Kim na área, falta mais clara que a primeira, mas o juiz
da República Tcheca, nas duas oportunidades, mandou continuar o jogo, fatos que
certamente mudariam o desenlace da partida.
Após pesquisar na mídia da época,
somente encontrei um artigo do jornalista Carlos Padeiro, da Uol (Universo on
Line), comentando os erros do juiz Pavel Kralovec.
Os outros comentaristas apelaram
para a dúvida de interpretação e os fatos foram esquecidos.
Dúvida é prerrogativa exclusiva
do árbitro que tem frações de segundo para decidir e um só ângulo de visão.
A imprensa tem à sua disposição
tempo e recursos tecnológicos para dissipar dúvidas.
O auxilio tecnológico vai desde o
número de câmeras de grande alcance com altíssima definição e câmera lenta (na
Copa do Brasil 2014 foram 34 câmeras) a recursos espetaculares de computação
gráfica, que permitem o esclarecimento de qualquer lance praticamente em tempo
real.
Num segundo momento, os mesmos
jornalistas fizeram severas críticas ao técnico da equipe chinesa de ginástica
que insinuou ter havido favorecimento ilícito a favor do Brasil na decisão da
medalha de ouro, na modalidade argolas.
Foi chamado entre outros
adjetivos de “mau perdedor “, o que me leva à reflexão de que se existe mau e
bom perdedor, teria de ter também mau e bom ganhador.
Uma decisão que nos favorece
sempre leva em consideração fatores humanos.
Isenta o árbitro que não conta
com o “replay” ou estava no momento do lance numa posição desfavorável ou com a
visão obstruída, já os erros que nos prejudicam trazem à tona a péssima preparação
dos árbitros iluminando a falta de caráter de quem cometeu a falta; isto, se o
autor não estiver vestindo a amarelinha, com ela falta de caráter vira
malandragem, expertise.
Puxando pela memória, lembro-me
de alguns exemplos históricos como os gols convertidos com a mão (uma de Deus)
de Maradona contra a Inglaterra no estádio Azteca, em 22 de junho de 1986,
pelas quartas de final da Copa do México, e outro do Túlio Maravilha contra a
Argentina pelas quartas de final Copa América de 1995 no estádio Atilio Paiva
de Oliveira, em 17 de julho de 1995, na cidade de Rivera, Uruguai.
O primeiro é lembrado até hoje
como falta de caráter e entra em pauta diversas vezes ao ano, numa tentativa de
nunca apagar da memória do torcedor tremenda falcatrua (na Web encontrei mais
de 210.000 citações), falta de espírito esportivo, deslealdade e péssimo
exemplo para as gerações de atletas em formação.
O outro (o do Túlio) virou uma
peça do folclore, amplamente festejado até por ter sido cometido contra um
arquirrival.
Na transmissão da Globo Galvão
Bueno diz: “Ele foi malandro” “Os argentinos vão chorar durante um mês” “Túlio
é Maravilha até com o braço” isso reforça a frase de sua autoria:
“Ganhar é bom, mas ganhar da
Argentina é melhor ainda”.
Mauricio Torres no programa
Galeria Gol comenta “…se com o pé ele desperdiça, com o braço ele é brilhante!
Maravilha de braço!”.
A ajeitada “manual” que o francês
Thierry Henry realizou antes do passe para o gol de Gallas nas eliminatórias da
Copa do Mundo da África do Sul, que tirou a Irlanda da competição, foi
catalogada como vergonha nacional para os Blues. Irlanda Roubada, diz a
manchete do blog de Juca Kfouri e continua:
“A Irlanda foi vergonhosamente
garfada em Paris e perdeu vaga na Copa de 2010 para a França graças a um gol
que nasceu de uma matada com a mão de Henry. Tão clara que o francês merece ser
punido com a proibição de embarcar para África do Sul”.
Já na ajeitada do Fabuloso Luís
Fabiano contra a Costa de Marfim, na Copa da África do Sul, o mesmo jornalista
escreveu:
“Luís Fabiano acaba de fazer um
gol de Pelé, simplesmente com três chapéus!!!
Aos 5. (E com uma matada no
braço, admitamos…)” e no final da matéria ao dar nota ao elenco brasileiro
escreve:
“Luis Fabiano; fez dois gols, um
com três chapéus (que anula um braço…) nota 8”, já Tadeu Schmidt no programa
Fantástico parafraseia o Hino Nacional e diz:
“Puxa no braço, Luís Fabiano!
Domina no braço essa desgraçada!”,“É o gol conseguimos conquistar
com braço forte.”, “Luís Fabiano é o Jabulani cheia da semana”.
A entrada “criminosa” de Maradona
em Batista, do Brasil, na Copa de 1990 na Itália contrasta com a “precipitação”,
de Felipe Mello, ao “atingir” Robben, da Holanda, no jogo de despedida do
Brasil nas quartas de final da Copa de 2010, segundo os comentários da
imprensa.
A imprensa tem a obrigação de
comentar todas estas ações e tratá-las com igualdade e imparcialidade, do contrário
é um incentivo à ideia de que levar vantagem é bom e a desabilita a criticar a
violência nos estádios com isenção, além de outorgar-lhe uma dose de culpa pela
mesma.
Um comentário:
Excelente e oportuna exposição da velha máxima: "Amigo meu não tem defeito, inimigo se não tiver eu boto" ( Se não me engano frase do ex Governador Dinarte Mariz)
Parabéns pela abordagem.
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