Refugiados da Rio-2016 dizem
estar realizando sonho e destacam seus méritos
Com Agência EFE/UOL
Quatro dos dez atletas da equipe
de refugiados que representará a bandeira do Comitê Olímpico Internacional
(COI) falaram neste sábado sobre o significado da iniciativa e as expectativas
de disputar os Jogos do Rio de Janeiro.
Em entrevista coletiva realizada
no Parque Olímpico da Barra da Tijuca, local que receberá a maior parte das competições
esportivas do evento, a chefe da missão dos refugiados, a ex-maratonista
queniana Tegla Loroupe, destacou que todos foram escolhidos não só pelo status
de refugiados, mas também por seus méritos esportivos.
"Temos um time olímpico aqui, e estou muito feliz de representar
esses atletas. Graças ao presidente do COI, Thomas Bach, que se preocupa com
essas pessoas, isso foi possível", afirmou Tegla.
O momento mais marcante da
entrevista foram as declarações finais do congolês Popole Misenga, atualmente
refugiado no Brasil.
O atleta, que foi separado de sua
família quando tinha apenas 9 anos devido à guerra civil em seu país, se
emocionou ao ser pedido para enviar uma mensagem para eles.
"Não lembro nem mais o rosto de alguns dos meus familiares. Talvez
só o do meu irmão mais velho. Se ele estiver me vendo pela televisão, quero que
saiba que estou aqui lutando por ele, para pagar a passagem dele para que ele
possa estar aqui comigo", disse.
Misenga e a também congolesa
Yolande Makiba treinam no Instituto Reação, uma ONG criada pelo medalhista
olímpico brasileiro no judô Flávio Canto, que fica em São Conrado, no Rio de
Janeiro.
Depois de chegar ao Brasil para a
Copa do Mundo de Judô, em 2013, Yolande chegou a dormir na rua e passar fome,
mas afirmou que neste ano a sorte voltou a ficar do seu lado.
"O Brasil já é a minha casa. Depois de tudo que eu passei, agora
vou mostrar tudo que aprendi. (...) Sou uma lutadora, não só de judô, mas da
vida. Cada um de nós tem sua história aqui, mas estamos juntos. Vou lutar por
todos os refugiados", frisou a atleta.
O técnico de ambos, Geraldo
Bernardes, que participou de quatro Jogos Olímpicos como treinador da seleção
brasileira de judô, destacou a importância do trabalho social a equipe do COI e
o fato de os dois atletas já serem vencedores só por estarem no Rio
representando os refugiados de todo o mundo.
"A maior medalha deles foi a social, de ter oportunidade de novo,
a medalha na humanidade. Participei de quatro edições dos Jogos Olímpicos como
técnico do Brasil, e sei que a minha medalha agora já está no peito. A deles
também", afirmou Geraldo.
Os sírios Rami Anis e Yusra
Mardini, ambos da equipe de natação dos refugiados, falaram sobre o sentimento
de competir como refugiados e disseram que não competirão apenas por si mesmos.
"Vamos representar todos os refugiados, queremos que eles aprendam
uma lição com nossa história. Que a vida nunca vai facilitar a situação, mas
que eles continuem lutando e nunca desistam dos seus sonhos", disse
Yursa, que atualmente vive na Alemanha.
Já Anis expressou um desejo ainda
maior: que não haja mais refugiados no mundo daqui a quatro anos, nos Jogos
Olímpicos de Tóquio, e que todos os atletas possam competir pela bandeira de
seus países de origem.
"Não estou participando como sírio, mas estamos aqui representando
pessoas que perderam suas vidas, suas famílias. Espero que possamos transmitir
uma imagem positiva, que em Tóquio não haja mais refugiados e todos possamos
representar nossos países", disse.
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