A menina que joga com meninos...

Ana Maria a menina que joga com meninos

Bianca Daga

Para ESPNW

“Gosto de jogar com eles porque são melhores que elas. Dá para treinar mais. As meninas não gostam de jogar. Em vez de marcarem uma pessoa, vão todas em cima, aí não dá para passar a bola. ”

Sobra habilidade para dominar e marcar.

E coragem também.

Ela não tem medo de se machucar.

Essa é Anna Maria Matheus e Oliveira, autora da frase acima e única menina no time de futsal do Colégio São Domingos, que conta com 15 crianças.

Como nenhuma colega quis participar do campeonato, ela topou encarar o desafio sozinha mesmo.

Toda sexta-feira, depois da aula, treinava por duas horas.

Foram quatro jogos disputados, contra dois colégios rivais.

Aos 10 anos, Anna Maria fez sua estreia no futsal e já levantou o troféu de campeã.

Foi a única menina na competição toda.

“São três tempos de dez minutos. Normalmente começo como titular. E o técnico vai revezando para todos jogarem. Tenho uma relação muito boa com todos os meninos. Eles me zoam igual zoam uns aos outros. É bem legal. E eu prefiro jogar com os mais velhos porque com os mais novos eu treinaria menos, seria tudo mais devagar. ”

Como dá para ver, personalidade não lhe falta.

 Anna Maria está no quinto ano de estudo e, no futsal, seria da categoria sub-10 se tivesse nascido em 2006.

No entanto, como nasceu em dezembro de 2005, joga com os meninos de 12 e 13 anos, no sub-12.

“O técnico fala que a Anna joga muito bem, marca e tem domínio de bola. Ela joga de igual para igual. E não tem medo, vive se machucando. A vó fica desesperada, fala que ela vai se quebrar inteira (risos). Teve uma vez que, em semanas seguidas, quebrou o dente da frente, levou um chute e foi parar na enfermaria. Aí eu levei para benzer. Mas sempre incentivo”, contou a mãe coruja Juliana.

Aliás, a mãe é uma das responsáveis pelo gosto da filha por futebol.

“O pai dela (Mauricio) e eu sempre jogamos. Eu engravidei e joguei umas quatro partidas antes de descobrir que estava grávida. Então ela adora isso e brinca que joga futsal desde a barriga. ”

Anna Maria ainda não sabe se quer seguir carreira no esporte.

Mas já tem caminho aberto e, em agosto, pôde sentir o gostinho de se imaginar em campo: foi com a família ao Rio de Janeiro para assistir a um jogo do Brasil na Olimpíada, e algumas atletas da seleção começaram no Centro Olímpico da prefeitura de São Paulo, onde ela passou na peneira e, se quiser, já tem vaga garantida para o ano que vem.