Roma diz “não” à Olimpíada – mais
uma cidade recusa o abusivo custo do evento
Virginia Raggi, nova prefeita
romana, contrariou dirigentes esportivos e políticos locais e anunciou a
desistência da candidatura.
Os Jogos de 2024 consumiriam pelo
menos R$ 20 bilhões da capital da Itália.
Por Rodrigo Capelo
“Especulação, lobbies
empresariais, instalações nunca terminadas, estruturas abandonadas, dívidas e
sacrifícios para o povo.
Somos contra a candidatura de
Roma para os Jogos Olímpicos de 2024 porque não vamos hipotecar o futuro dos
romanos.”
O texto, publicado no blog do
partido do Movimento 5 Estrelas, é da nova prefeita de Roma, Virginia Raggi.
Agora com a caneta da cidade nas
mãos, a italiana anunciou o fim da candidatura pela Olimpíada.
A capital da Itália engrossa uma
lista já considerável de cidades que se recusam a sediar os Jogos Olímpicos.
Antes dela, Boston (Estados
Unidos) e Hamburgo (Alemanha) desistiram da concorrência pela edição de 2024.
Continuam na disputa Los Angeles
(Estados Unidos), Paris (França) e Budapeste (Hungria).
Isso acende – ou deveria acender
– o sinal de alerta no Comitê Olímpico Internacional (COI): as pessoas
começaram a descobrir o abusivo modelo olímpico.
Os responsáveis pela candidatura
olímpica partiram para o ataque à prefeita após o anúncio da desistência.
O perfil oficial da candidatura
no Twitter passou a veicular imagens de ruas esburacadas, estações de metrô
lotadas, italianos atrás dos classificados nos jornais à procura de empregos.
Acompanhados da hashtag #RomaSemFuturo,
os tuítes pregam o pessimismo: nenhum desses problemas será resolvido pelos
Jogos Olímpicos.
Supor que a Olimpíada resolva
problemas públicos tem o populismo rasteiro do qual brasileiros ouviram à
exaustão até 2016.
A candidatura romana prevê um custo
de € 5,3 bilhões.
No câmbio atual seriam quase R$
20 bilhões.
É um erro – e agora as pessoas se
dão conta – supor que esse será o valor final.
Um estudo feito na Universidade
de Oxford, em 2012, mostra que todos os Jogos Olímpicos desde 1960 sofreram com
sobrepreços em relação às estimativas iniciais.
Em média o aumento é de 250% após
a inflação.
O Rio de Janeiro, que gastou mais
de R$ 40 bilhões, sabe disso por experiência. A estimativa na candidatura era
de R$ 28,8 bilhões.
As contrapartidas aventadas por
defensores da Olimpíada – políticos, dirigentes esportivos e empreiteiros – são
questionáveis.
As experiências olímpicas mais
recentes de cidades como Sochi 2014 (Rússia), Londres 2012 (Reino Unido) e
Pequim 2008 (China) mostram que o turismo desandou, os empregos gerados pela
construção saíram caro e os custos, antes e depois do evento, extrapolaram e
foram bancados com dinheiro público.
O raciocínio de que o evento
destrava investimentos em áreas como mobilidade urbana não para em pé: se uma
cidade tem R$ 40 bilhões para gastar em infraestrutura, por que ela precisaria
de um evento como pretexto para usá-los?
A desistência de Roma é uma
reação natural a um modelo de negócio à beira do colapso.
O COI, como faz a Fifa com a Copa
do Mundo, absorve todos os ganhos financeiros dos Jogos e os usa para alimentar
uma cadeia de dirigentes no mundo todo.
Os custos ficam para as
populações das cidades sedes.
Conforme mais informações sobre
prós e contras olímpicos foram disseminadas, essas pessoas começaram a
questionar por que, num momento de economia bamba no mundo todo, precisam
gastar tanto dinheiro com os luxos de dirigentes esportivos.
Ou o COI encontra um novo modelo,
no qual assuma algum gasto, ou passará por mais constrangimentos toda vez que
algum prefeito atender o povo e disser: aqui, não.
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