domingo, outubro 16, 2016

O clássico que fincou bandeira e desafiou o franquismo na Espanha...

                   Imagem: Coleção do Fernando Amaral FC 
                    (Ikurriña/Bandeira do País Basco)


O clássico que fincou bandeira contra o franquismo na Espanha

Por Guilherme Padin – El País

Real Sociedad e Athletic Club, as equipes que protagonizam o maior clássico do País Basco, se enfrentam neste domingo pelo Campeonato Espanhol.

Será o 155º capítulo de um jogo que entrou para a história do futebol e da democracia na Espanha há 40 anos. No dia 5 de dezembro de 1976, os capitães dos times rivais levaram a campo o maior símbolo da região: a ikurriña, bandeira oficial do País Basco.

Não fazia nem um mês que o país começava lentamente a negociar a saída da ditadura franquista, um regime que por mais de 30 anos reprimiu os nacionalismos regionais na Espanha.

Tomada a decisão de exibir a bandeira na partida, faltava o básico para os jogadores de Real Sociedad e Athletic.

Como consequência do regime de Francisco Franco, não era fácil encontrar qualquer tipo de materiais que remetessem à ideia de independência basca - ou também da catalã - para se vender em lojas - nem bandeiras nem as próprias línguas locais - o euskera, idioma basco, era permitido.

Assim, Josean de la Hoz Uranga, jogador da Real e idealizador do ato, pediu para Miren, sua irmã, que confeccionasse a bandeira, levando-a em segredo para o jogo.

Na entrada das duas equipes, os capitães e lendas Iribar (Athletic) e López Ufarte (Real Socieda) hastearam-na diante de todo o Municipal de Atotxa - à época, casa da Real Sociedad -, e o público celebrou o gesto dos dois rivais em campo, mas companheiros na luta pela independência.

A partida encerrou-se numa goleada por 5 a 0 - a maior vantagem do clássico até aquele momento -, para a equipe anfitriã, mas o placar histórico teve uma relevância secundária.

Aquele havia sido o primeiro grande ato em protesto pela legalização da bandeira.

A partir disso, as manifestações pela legalidade do uso da ikurriña aumentaram até que, em 16 de janeiro de 1977, vários prefeitos de cidades bascas pediram pela legalização do uso da bandeira.

O pedido seria aceito pelo Governo três dias depois, no dia 19 do mesmo mês.

A rivalidade entre Athletic Club e Real Sociedad

Na contramão de muitos clássicos pelo mundo, o Athletic Club e Real Sociedad é uma rivalidade amistosa entre as torcidas, o que não diminui a relevância do confronto.

O motivo da relação pacífica se dá porque o Athletic e a Real expressam há muito tempo o desejo pela independência da região, objetivo dividido também com as torcidas.

Assim, os dérbis bascos são marcados por manifestações vindas das duas partes pela causa em comum.

Num esporte cada vez mais globalizado, o time de Bilbao mantém suas tradições e permite que apenas jogadores nascidos ou criados na cultura basca atuem na equipe, numa forma de demonstrar abertamente sua posição sobre os conflitos separatistas.

O Barcelona, gigante espanhol que divide os mesmos ideais, tem muito de seu sucesso creditado a jogadores de outros países, como Ronaldinho Gaúcho e Lionel Messi.

Os separatistas Barcelona e Bilbao, aliás, são os maiores vencedores da Copa do Rei da Espanha - segundo campeonato de maior importância a nível nacional -, com 28 títulos para os catalães e 23 para os bascos.

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