terça-feira, janeiro 24, 2017

Como um teto salarial para o futebol protegeria os clubes europeus da China e dos EUA...

Imagem: Colorsport/REX/Shutterstock/Mapa: Atlas/Montagem: Fernando Amaral


Como um teto salarial para o futebol protegeria os clubes europeus da China e dos EUA

Chegou à Fifa a proposta de impor um "salary cap" para limitar os salários descomunais, segundo o advogado André Sica...

A medida, na prática, blindaria o futebol europeu.

Por Rodrigo Capelo para a revista Época

Em meio à repercussão pela implementação de um novo formato para a Copa do Mundo, passou despercebida outra discussão levantada na Fifa em reunião feita no início deste mês de janeiro: a criação de um teto salarial para o futebol.

André Sica, advogado desportivo do escritório CSMV, afirma que ainda não há valores ou certezas a respeito, mas que a proposta, a qual ele vê com ressalvas, foi colocada em pauta.

O motivo?

Proteger os clubes europeus de mercados emergentes e endinheirados como o chinês e o americano.

O teto salarial é uma prática comum nas ligas esportivas dos Estados Unidos, mas não no futebol.

Não por acaso a única liga a utilizá-lo é a Major League Soccer (MLS), americana, na qual os clubes têm limites salariais coletivos e individuais, com direito a contratar uma exceção por equipe.

O intuito dessa medida é manter a competitividade entre os times de um campeonato, coisa que Barcelona e Real Madrid, na Espanha, estão longe de pôr em prática.

Só que, na prática, a medida acaba por funcionar como uma proteção ao mercado europeu.

Considere o seguinte cenário: tal jogador de alto nível recebe uma proposta para ganhar € 50 milhões por ano na China e € 25 milhões anuais na Europa.

Ele sabe que vai se "esconder" da seleção nacional, que vai encarar adversários de menor qualidade, mas balança e, pela grana, topa fazer as malas e ir para a Ásia.

Se houver um limite de € 25 milhões, num lugar ou noutro, o dilema muda de figura.

"O teto beneficia o europeu porque há naturalmente preferência pelo futebol de lá. Ninguém em sã consciência vai para a China por pouco dinheiro", afirma Sica.

O fluxo de jogadores da Europa para a Ásia e a América do Norte aumentou nos últimos anos. Em 2014, segundo um relatório do TMS, órgão ligado à Fifa que monitora as transferências no mundo, os asiáticos "importaram" 23% mais atletas da Europa, e a América do Norte 28,5% a mais.

Os mercados sul-americano e africano contrataram menos jogadores que estavam em clubes europeus naquela temporada, por outro lado.

As contratações aumentaram não só em números, mas em qualidade.

Em 2016, o inglês Chelsea perdeu os brasileiros Oscar e Ramires, ambos com passagens recentes pela Seleção Brasileira, para times chineses.

Há motivos reais, portanto, para que os europeus se mexam nos bastidores.

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