segunda-feira, março 06, 2017

Juca Kfouri: Adoraria viver no País do Futebol, mas não vivo...

Imagem: Autor Desconhecido


Adoraria viver no País do Futebol, mas não vivo

Por Juca Kfouri para a Folha de São Paulo

Um quarto dos paulistanos não se interessam por futebol revelou recente pesquisa do Datafolha.

Mas 36% são corintianos, o que revela uma novidade na capital paulista.

Porque, em regra, pesquisas nacionais sobre torcidas mostram que o maior contingente é o de não-torcedores.

Assim foi com a pesquisa da mesma Datafolha no ano passado: 19,4% dos ouvidos disseram não se interessar por futebol, à frente de 16,5% flamenguistas e 13,6% corintianos.

Não há surpresa.

Gostamos de um autoengano e de nos chamar de “país do futebol”, arrematada bobagem se nos compararmos à Alemanha, Argentina e Inglaterra, para citar apenas três países do Primeiro Mundo do futebol.

Desde que a revista “Placar”, nos anos 1980, começou a fazer tais sondagens, primeiramente com o Instituto Gallup e depois com o Ibope, o resultado sempre foi o mesmo: tem mais brasileiros que não ligam para o ludopédio do que os que ligam.

E mesmo os que ligam, como ainda demonstrou o Datafolha, não são capazes de escalar o time do seu coração.

Fomos sim, um dia, o país do “beautiful game”, graças à sucessão de gênios que povoaram a seleção nos anos 1950/60/70/80.

Ninguém desconhecia onde jogavam Pelé, Garrincha, Didi, Tostão, Gérson, Rivellino, Romário, os Ronaldos, Rivaldo.

Hoje sobrou Neymar, que joga na Espanha, e nem é o melhor do mundo.

Envelhecer não é nada bom e, se não bastasse, faz com que poucas coisas surpreendam o observador.

A primeira vez, muitos e muitos anos atrás, em que escrevi que não éramos o país do futebol, houve quem visse ranzinzice e até quem dissesse que um diretor de revista esportiva não deveria argumentar contra o seu ofício.

É a tal história, embora nem todos acreditem: jornalista torce, mas não pode distorcer.

Adoraria viver no País do Futebol.

Mas não vivo.

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