terça-feira, março 21, 2017

Assinaturas contra injustiça... Um pouco de ironia faz bem.

Imagem: Autor Desconhecido


Assinaturas contra a injustiça

Poderíamos recolher assinaturas para exigir uma revisão minuciosa de todas as jogadas polêmicas nos jogos de futebol

John Carlin para o El País

A Internet é muitas coisas, entre elas a globalização da estupidez.

Antes alguém dizia uma asneira e a coisa ficava em casa ou no bar.

Alguém proporia, por exemplo, que fosse realizado outra vez o recente jogo da Champions League em que o Barcelona eliminou o Paris Saint-Germain.

Quatro amigos apoiariam felizes a moção e fim da história.

Hoje, quando alguém tem a mesma ideia, vai para a Internet e envia uma mensagem ao mundo: assinem uma petição para que a partida injustamente vencida pelo Barcelona seja jogada de novo.

E 200.000, 300.000 pessoas assinam.

A bobagem do bar de bêbados se globaliza.

Epidemias similares de emaranhada imbecilidade conduzem a absurdos tais como a escolha de um troll tuiteiro para presidente dos Estados Unidos.

É o mundo em que vivemos.

Não há nada a fazer.

 Já que é assim, vamos participar da festa.

Abaixo apresento outras causas que também merecem assinaturas em massa.

Primeiro, uma breve lista de jogos que devem ser realizados novamente:

O Arsenal x Bayern da última rodada da Champions.

Sim, é verdade que o Arsenal perdeu a eliminatória por um total de 10 gols a 2.

Mas, como bem se queixou o treinador da equipe londrina, Arsène Wenger, a intervenção decisiva foi a do árbitro.

Expulsou um jogador do Arsenal quando a vantagem do Bayern era só de 5 a 2 faltando ainda 35 minutos para o fim do jogo.

O Inter de Milão x Barcelona nas semifinais da Champions em 2010.

A Inter venceu pela contagem mínima, mas o árbitro não viu que o decisivo gol italiano foi marcado em impedimento.

Isso tampouco foi visto pelo técnico da Inter naquele jogo, José Mourinho.

Outro jogo da Champions, dessa vez em 2006, que o Barcelona ganhou por 2 a 1 contra o Chelsea de Mourinho.

O português acusou Lionel Messi de ter enganado o árbitro para forçar a expulsão de um defensor do Chelsea.

Depois do jogo, Mourinho disse:

“Vamos ver se a UEFA manda realizar o jogo novamente”.

Pois então, vamos assinar que não é tarde demais.

Todos os jogadores daquela partida ainda estão vivos.

O problema é o que fazer com injustiças históricas como a vitória da Inglaterra na Copa do Mundo de 1966, uma partida que não seria muito viável voltar a jogar hoje.

Uma solução seria recolher assinaturas para que se aja retroativamente, como no atletismo: quando se descobre anos depois que o vencedor de uma corrida estava dopado, o ouro vai para quem ficou em segundo.

A mesma lógica aplicada ao futebol daria a possibilidade de que o terceiro gol inglês contra os alemães, que só foi visto pelo bandeirinha russo (outro ressentido, neste caso, pela invasão nazista de seu país na Segunda Guerra Mundial) seja apagado da história e que a Copa do Mundo 66 seja concedida à Alemanha.

As possibilidades são quase infinitas.

Assinaturas poderiam ser recolhidas para exigir uma revisão completa de todas as jogadas controvertidas de todas as partidas que foram transmitidas pela televisão em todo o planeta nos últimos 60 anos.

Supondo que fosse possível confiar a missão a um comitê imparcial dotado de poderes divinos, os signatários vislumbrariam a feliz possibilidade de que a Holanda e não a Alemanha acabasse ganhando a Copa do Mundo de 1974, o Peru e não a Argentina a Copa de 1978, a Espanha a de 2002; que o Atlético de Madrid acabasse com sua trágica seca na Liga dos Campeões e ganhasse o torneio três vezes; que os seis troféus conquistados pelo Barcelona na primeira temporada de Pep Guardiola como treinador fossem reduzidos a zero; que todos os times que Mourinho treinou fossem proclamados vencedores de todos os jogos e todos os torneio que disputaram.

A primeira coisa, é claro, seria recolher bilhões de assinaturas para que o princípio retroativo fosse aceito no futebol.

Uma vez aceito, cada partida a que assistíssemos daí em diante se abriria à possibilidade de ser disputada novamente, eliminando o acaso e o suspense do futebol de uma vez por todas.

O esporte seria extinto em questão de semanas, claro.

Mas a satisfação dos que recolhem as assinaturas seria eterna.

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