sábado, dezembro 29, 2018

Kanela, um notável do esporte brasileiro... o treinador mais vencedor do basquete dirigindo a seleção do Brasil.

Imagem: Autor Desconhecido

Togo Renan Soares, o Kanela, foi o treinador mais vencedor do basquete brasileiro dirigindo o Brasil nas conquistas dos Mundiais de 1959 e 1963.

Por Pedro Henrique Brandão Lopes

Há 55 anos a seleção brasileira conquistava o bicampeonato mundial de basquete no Maracanãzinho, vencendo a tradicional seleção dos Estados Unidos que mantem, há décadas, uma hegemonia no esporte.

O homem à frente das conquistas de 1959 e 1963 era Togo Renan Soares, mais conhecido como Kanela, um homem explosivo e inovador que fez o basquete brasileiro figurar entre os protagonistas do mundo durante uma década.

Nascido em maio de 1906, em João Pessoa, logo na adolescência o jovem paraibano foi viver no Rio de Janeiro.

A árvore genealógica levava ao parentesco com importantes figuras da política paraibana do início do século XX, como o tio e ex-governador da Paraíba, Camilo de Holanda.

O apelido veio por conta de suas canelas serem muito finas e brancas.

Kanela revolucionou o basquete, mas é um notável do esporte.

Começou muito jovem nas categorias de base do futebol do Botafogo.

Em 1929, com apenas 23 anos, comandou o futebol profissional do Clube da Estrela Solitária, retornando ao cargo em 1936.

Ainda no Botafogo, foi treinador do polo aquático do clube sem nunca ter aprendido nadar, coisas de Kanela.

Antes de dirigir o Botafogo, em 1929, comandou o futebol do Bangu.

É apontado como o treinador que descobriu Domingos da Guia nos treinamentos em Moça Bonita.

Domingos é considerado o mais completo zagueiro de todos os tempos, com sua refinada técnica, jogava no meio de campo, mas Kanela o convenceu a recuar para jogar na zaga.

Deu tão certo que os dribles e domínios mais elaborados do zagueiro ficaram conhecidos como Domingadas e causavam frisson nas arquibancadas cariocas nos anos 1930 e 1940.

A história com o basquete começou no final da década de 1940.

Em 1948, foi para o Flamengo comandar o basquete rubro-negro, mas sua fama de treinador de futebol ainda o fez assumir o futebol do Clube da Gávea por duas oportunidades, em 1948 e 1949.

O sucesso viria mesmo no basquete e no Flamengo foi campeão carioca dez vezes consecutivas, entre 1951 e 1960, ao todo foram 14 títulos estaduais no basquete do Mengão.

Na Seleção Brasileira, Kanela iniciou em 1951, a mais vencedora era do basquete brasileiro.

Em 1954, foi vice-campeão mundial, feito inédito para os brasileiros.

Em 1959 e 1963 venceu o Mundial, conquistando os dois mais importantes títulos do Brasil no esporte.

Nas Olimpíadas de 1960, a medalha de bronze em Roma foi a coroação definitiva do homem que reinventou o basquete brasileiro.

Foi Kanela que inventou o contra-ataque no basquete e o arremesso da zona morta.

Com esse novo jeito de jogar, Kanela venceu tudo que disputou no basquete.

Mesmo numa época em que a Seleção Brasileira contava com craques como Wlamir Marques, Rosa Branca, Amaury Pasos, entre outros, Kanela era um ídolo.

Era acima de tudo um estrategista, mas também era conhecido pelo temperamento explosivo, principalmente contra os árbitros.

Quem conta os causos de Kanela é Jô Soares, o sobrinho famoso e testemunha de muitas histórias do tio que era ídolo no Rio de Janeiro dos anos 1950 / 60.

Jô estava na arquibancada do Maracanãzinho em 25 de maio de 1963, no jogo contra os Estados Unidos que marcou o bicampeonato mundial e recorda com carinho a reação do público:

“Foi uma reação parecida com a do nosso primeiro campeonato mundial de futebol, mas concentrada no Rio de Janeiro (sede da competição). A cidade ficou alucinada. O Maracanãzinho explodindo de alegria com a vitória, como deveria ter explodido o Maracanã na final da Copa do Mundo (de futebol) de 1950. Foi uma coisa de calor, de público, porque é o volume da reação fica maior em um ginásio. E os jogadores agarrando meu tio Kanela. Ele era muito respeitado, um gênio no que ele fazia”.

Jô Soares tinha apenas 25 anos na época e lembra de seu tio com carinho, mas alerta para um “Kanela colérico” que esbravejava a cada ataque americano que terminava em ponto para o selecionado da Terra do Tio Sam.

Havia na imprensa brasileira um certo pessimismo que apelava para o “Complexo de vira latas” ao dizer que o Brasil só ganhara o Mundial de 1959 pela recusa da União Soviética em participar da competição.

Aquilo mexeu com os brios da Seleção em 1963 e Kanela isolou o grupo no Hotel Paineiras aos pés do Cristo Redentor e onde nenhum familiar teve acesso aos jogadores durante o Mundial.

Nos treinamentos a palavra de ordem era “repetição”, para o treinador apenas a repetição dos movimentos a exaustão seria capaz de tornar um time forte e preparado.

Kanela era um obcecado por tática e disciplina, e comandava seus jogadores com mão de ferro.

Mesmo turrão e exigente era adorado pelos atletas, pois protegia seus jogadores em qualquer situação.

No Mundial de 1963, entrou em quadra para dar um tapa no rosto do árbitro uruguaio que marcou injustamente (dizem) uma falta técnica de Amaury Passos contra a União Soviética.

O tapa foi imortalizado por Nelson Rodrigues na crônica “O Tapa Cívico”.

Sobre o temperamento do tio, Jô diz:

“Ele era de um gênio horroroso, que acabava sendo uma qualidade. Era ranzinza. Ele era o marginal da família pela atividade que exercia. Era todo diferente. Só ele era dedicado ao esporte”.

Como bem diz Jô, o gênio horroroso era uma qualidade, já que deu tão certo e com pavio curto e tudo Kanela ganhou dois Mundiais (59 e 63), foi vice em outros dois (54 e 70), além de conquistar um bronze no Mundial de 1967.

O bronze nas Olimpíadas de Roma, em 1960, além do pentacampeonato sul-americano.

Kanela ganhou tudo que disputou e colocou o basquete brasileiro em outro patamar mundial, quando não ficava em primeiro lugar ao menos estava entre os três melhores da competição.

Kanela morreu no dia 12 de dezembro de 1992, aos 86 anos, meses depois de lançar uma biografia e deixar como legado essa que é a história de um vencedor, revolucionário do basquete, o homem que mudou o status do basquete brasileiro e escreveu com muito trabalho e dedicação seu nome na história do esporte.

O único técnico estrangeiro a ter seu nome incluso no Naismith Memorial Basketball, além de figurar no Hall da Fama da FIBA.

Kanela é um notável do esporte brasileiro.

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