Imagem: Autor Desconhecido
Togo Renan Soares, o Kanela, foi o treinador mais vencedor do basquete
brasileiro dirigindo o Brasil nas conquistas dos Mundiais de 1959 e 1963.
Por Pedro Henrique Brandão Lopes
Há 55 anos a seleção brasileira
conquistava o bicampeonato mundial de basquete no Maracanãzinho, vencendo a
tradicional seleção dos Estados Unidos que mantem, há décadas, uma hegemonia no
esporte.
O homem à frente das conquistas
de 1959 e 1963 era Togo Renan Soares, mais conhecido como Kanela, um homem
explosivo e inovador que fez o basquete brasileiro figurar entre os
protagonistas do mundo durante uma década.
Nascido em maio de 1906, em João
Pessoa, logo na adolescência o jovem paraibano foi viver no Rio de Janeiro.
A árvore genealógica levava ao
parentesco com importantes figuras da política paraibana do início do século
XX, como o tio e ex-governador da Paraíba, Camilo de Holanda.
O apelido veio por conta de suas
canelas serem muito finas e brancas.
Kanela revolucionou o basquete,
mas é um notável do esporte.
Começou muito jovem nas
categorias de base do futebol do Botafogo.
Em 1929, com apenas 23 anos,
comandou o futebol profissional do Clube da Estrela Solitária, retornando ao
cargo em 1936.
Ainda no Botafogo, foi treinador
do polo aquático do clube sem nunca ter aprendido nadar, coisas de Kanela.
Antes de dirigir o Botafogo, em
1929, comandou o futebol do Bangu.
É apontado como o treinador que
descobriu Domingos da Guia nos treinamentos em Moça Bonita.
Domingos é considerado o mais
completo zagueiro de todos os tempos, com sua refinada técnica, jogava no meio
de campo, mas Kanela o convenceu a recuar para jogar na zaga.
Deu tão certo que os dribles e
domínios mais elaborados do zagueiro ficaram conhecidos como Domingadas e
causavam frisson nas arquibancadas cariocas nos anos 1930 e 1940.
A história com o basquete começou
no final da década de 1940.
Em 1948, foi para o Flamengo
comandar o basquete rubro-negro, mas sua fama de treinador de futebol ainda o
fez assumir o futebol do Clube da Gávea por duas oportunidades, em 1948 e 1949.
O sucesso viria mesmo no basquete
e no Flamengo foi campeão carioca dez vezes consecutivas, entre 1951 e 1960, ao
todo foram 14 títulos estaduais no basquete do Mengão.
Na Seleção Brasileira, Kanela
iniciou em 1951, a mais vencedora era do basquete brasileiro.
Em 1954, foi vice-campeão
mundial, feito inédito para os brasileiros.
Em 1959 e 1963 venceu o Mundial,
conquistando os dois mais importantes títulos do Brasil no esporte.
Nas Olimpíadas de 1960, a medalha
de bronze em Roma foi a coroação definitiva do homem que reinventou o basquete
brasileiro.
Foi Kanela que inventou o contra-ataque
no basquete e o arremesso da zona morta.
Com esse novo jeito de jogar,
Kanela venceu tudo que disputou no basquete.
Mesmo numa época em que a Seleção
Brasileira contava com craques como Wlamir Marques, Rosa Branca, Amaury Pasos,
entre outros, Kanela era um ídolo.
Era acima de tudo um
estrategista, mas também era conhecido pelo temperamento explosivo,
principalmente contra os árbitros.
Quem conta os causos de Kanela é
Jô Soares, o sobrinho famoso e testemunha de muitas histórias do tio que era
ídolo no Rio de Janeiro dos anos 1950 / 60.
Jô estava na arquibancada do
Maracanãzinho em 25 de maio de 1963, no jogo contra os Estados Unidos que
marcou o bicampeonato mundial e recorda com carinho a reação do público:
“Foi uma reação parecida com a do nosso primeiro campeonato mundial de
futebol, mas concentrada no Rio de Janeiro (sede da competição). A cidade ficou
alucinada. O Maracanãzinho explodindo de alegria com a vitória, como deveria
ter explodido o Maracanã na final da Copa do Mundo (de futebol) de 1950. Foi
uma coisa de calor, de público, porque é o volume da reação fica maior em um ginásio.
E os jogadores agarrando meu tio Kanela. Ele era muito respeitado, um gênio no
que ele fazia”.
Jô Soares tinha apenas 25 anos na
época e lembra de seu tio com carinho, mas alerta para um “Kanela colérico” que esbravejava a cada ataque americano que terminava
em ponto para o selecionado da Terra do Tio Sam.
Havia na imprensa brasileira um
certo pessimismo que apelava para o “Complexo de vira latas” ao dizer que o
Brasil só ganhara o Mundial de 1959 pela recusa da União Soviética em
participar da competição.
Aquilo mexeu com os brios da
Seleção em 1963 e Kanela isolou o grupo no Hotel Paineiras aos pés do Cristo
Redentor e onde nenhum familiar teve acesso aos jogadores durante o Mundial.
Nos treinamentos a palavra de
ordem era “repetição”, para o treinador
apenas a repetição dos movimentos a exaustão seria capaz de tornar um time
forte e preparado.
Kanela era um obcecado por tática
e disciplina, e comandava seus jogadores com mão de ferro.
Mesmo turrão e exigente era
adorado pelos atletas, pois protegia seus jogadores em qualquer situação.
No Mundial de 1963, entrou em
quadra para dar um tapa no rosto do árbitro uruguaio que marcou injustamente
(dizem) uma falta técnica de Amaury Passos contra a União Soviética.
O tapa foi imortalizado por
Nelson Rodrigues na crônica “O Tapa
Cívico”.
Sobre o temperamento do tio, Jô
diz:
“Ele era de um gênio horroroso, que acabava sendo uma qualidade. Era
ranzinza. Ele era o marginal da família pela atividade que exercia. Era todo
diferente. Só ele era dedicado ao esporte”.
Como bem diz Jô, o gênio
horroroso era uma qualidade, já que deu tão certo e com pavio curto e tudo
Kanela ganhou dois Mundiais (59 e 63), foi vice em outros dois (54 e 70), além
de conquistar um bronze no Mundial de 1967.
O bronze nas Olimpíadas de Roma,
em 1960, além do pentacampeonato sul-americano.
Kanela ganhou tudo que disputou e
colocou o basquete brasileiro em outro patamar mundial, quando não ficava em
primeiro lugar ao menos estava entre os três melhores da competição.
Kanela morreu no dia 12 de
dezembro de 1992, aos 86 anos, meses depois de lançar uma biografia e deixar
como legado essa que é a história de um vencedor, revolucionário do basquete, o
homem que mudou o status do basquete brasileiro e escreveu com muito trabalho e
dedicação seu nome na história do esporte.
O único técnico estrangeiro a ter
seu nome incluso no Naismith Memorial Basketball, além de figurar no Hall da
Fama da FIBA.
Kanela é um notável do esporte
brasileiro.
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