Imagem: Autor Desconhecido
Estaduais não
impedem desemprego em massa de jogadores no Brasil
Por Rodrigo
Mattos para o UOL
A grande
maioria dos jogadores brasileiros tem sofrido com o desemprego.
São 90 mil
atletas profissionais registrados e apenas 11.551 contratos ativos, isto é,
quase 90% deles não tinha um clube.
Os números
são do estudo da EY encomendado pela CBF sobre o impacto econômico do futebol
brasileiro – referem-se ao ano de 2018.
Na discussão
do calendário, a CBF e as federações usam como principal argumento para a
manutenção de datas de Estaduais que a redução destes iria causar um desemprego
em massa.
Mas o
levantamento da Ernst Young mostra que isso já ocorre porque, na realidade, não
há competições no país que sustentem tantos atletas.
Além disso, o
levantamento mostra uma disparidade grande entre os salários e jogadores da
elite em relação a maioria do país.
Um dado
mostra que são gastos em torno de R$ 1 bilhão em salários para jogadores de
futebol por ano.
Desse total,
80% (R$ 800 milhões) estão concentrados em 7% dos jogadores, ficando o restante
dos atletas com um quinto.
Não por acaso
a maioria dos jogadores (55%) ganha salário mínimo.
Enquanto
isso, 13 jogadores ganham acima de R$ 500 mil por mês.
Isso
demonstra que há dois mundos do futebol diferentes no Brasil.
Um que é
efetivamente profissional com clubes que disputam as principais séries do
Brasileiro e talvez o Paulista, e outro semiamador travestido que oficialmente
é uma atividade remunerada.
O problema é
que a gestão atual da CBF para o futebol brasileiro, por meio de seu
calendário, prende o primeiro mundo (o profissional de fato) às necessidades do
restante.
Então, times
grandes têm que jogar contra equipes de fraca estrutura para financiar sua
subsistência.
Ao mesmo
tempo federações de locais onde o futebol profissional praticamente não existe
influenciam nos destinos da Série A.
Do outro
lado, a CBF e as federações fornecem estrutura insuficiente para desenvolver o
segundo mundo, do futebol semiamador, seja para transformá-lo em um celeiro de
atletas, para fortalecer e transformá-lo em viável economicamente ou para que
cumpra um papel em comunidades locais.
Um mapa feito
pela Ernst Young em seu estudo mostra que a origem de nascimento da maioria dos
jogadores profissionais são as costas do Nordeste, as regiões do Rio de
Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e do sul do país.
Ou seja,
locais onde a formação é estimulada pelo valor econômico e não por projetos
feitos pelas entidades.
No documento,
é ressaltado que o futebol brasileiro tem 250 competições organizadas.
Desses, 16
são nacionais e o restante organizado pelas federações. A maioria dos
campeonatos é organizado pelas federações, e 53% deles são de divisão de base.
Nesse número,
estão incluídas competições femininas.
No total, há
360 mil jogadores no Brasil, contabilizados aí a maioria de amadores.
Outro sinal
de que há problemas na organização do futebol nacional é que existem mais clube
inativos do que ativos: são 874 que reativaram registros na CBF nos últimos
quatro anos, contra 895 inativos.
De novo,
Estaduais não têm sido suficientes para manter vivas essas agremiações já que o
número de times cai ano a ano.
A CBF tem um
mérito de ter contratado um estudo dessa abrangência para traçar um diagnóstico
do futebol brasileiro.
Só com um
retrato detalhado é possível decidir os próximos passos.
Agora, resta
saber se a confederação aceitará liberar a elite do futebol brasileiro para
explorar ao máximo o seu potencial econômico, tirando as travas que a CBF lhe
impõe, e ao mesmo tempo desenvolver projetos que atendam o restante do futebol
brasileiro.
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