domingo, dezembro 29, 2019

Estaduais não impedem desemprego em massa de jogadores no Brasil...

Imagem: Autor Desconhecido

Estaduais não impedem desemprego em massa de jogadores no Brasil

Por Rodrigo Mattos para o UOL

A grande maioria dos jogadores brasileiros tem sofrido com o desemprego.

São 90 mil atletas profissionais registrados e apenas 11.551 contratos ativos, isto é, quase 90% deles não tinha um clube.

Os números são do estudo da EY encomendado pela CBF sobre o impacto econômico do futebol brasileiro – referem-se ao ano de 2018.
Na discussão do calendário, a CBF e as federações usam como principal argumento para a manutenção de datas de Estaduais que a redução destes iria causar um desemprego em massa.

Mas o levantamento da Ernst Young mostra que isso já ocorre porque, na realidade, não há competições no país que sustentem tantos atletas.

Além disso, o levantamento mostra uma disparidade grande entre os salários e jogadores da elite em relação a maioria do país.

Um dado mostra que são gastos em torno de R$ 1 bilhão em salários para jogadores de futebol por ano.

Desse total, 80% (R$ 800 milhões) estão concentrados em 7% dos jogadores, ficando o restante dos atletas com um quinto.

Não por acaso a maioria dos jogadores (55%) ganha salário mínimo.

Enquanto isso, 13 jogadores ganham acima de R$ 500 mil por mês.

Isso demonstra que há dois mundos do futebol diferentes no Brasil.

Um que é efetivamente profissional com clubes que disputam as principais séries do Brasileiro e talvez o Paulista, e outro semiamador travestido que oficialmente é uma atividade remunerada.

O problema é que a gestão atual da CBF para o futebol brasileiro, por meio de seu calendário, prende o primeiro mundo (o profissional de fato) às necessidades do restante.

Então, times grandes têm que jogar contra equipes de fraca estrutura para financiar sua subsistência.

Ao mesmo tempo federações de locais onde o futebol profissional praticamente não existe influenciam nos destinos da Série A.

Do outro lado, a CBF e as federações fornecem estrutura insuficiente para desenvolver o segundo mundo, do futebol semiamador, seja para transformá-lo em um celeiro de atletas, para fortalecer e transformá-lo em viável economicamente ou para que cumpra um papel em comunidades locais. 

Um mapa feito pela Ernst Young em seu estudo mostra que a origem de nascimento da maioria dos jogadores profissionais são as costas do Nordeste, as regiões do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e do sul do país.

Ou seja, locais onde a formação é estimulada pelo valor econômico e não por projetos feitos pelas entidades.

No documento, é ressaltado que o futebol brasileiro tem 250 competições organizadas.

Desses, 16 são nacionais e o restante organizado pelas federações. A maioria dos campeonatos é organizado pelas federações, e 53% deles são de divisão de base.

Nesse número, estão incluídas competições femininas.

No total, há 360 mil jogadores no Brasil, contabilizados aí a maioria de amadores.

Outro sinal de que há problemas na organização do futebol nacional é que existem mais clube inativos do que ativos: são 874 que reativaram registros na CBF nos últimos quatro anos, contra 895 inativos.

De novo, Estaduais não têm sido suficientes para manter vivas essas agremiações já que o número de times cai ano a ano.

A CBF tem um mérito de ter contratado um estudo dessa abrangência para traçar um diagnóstico do futebol brasileiro.

Só com um retrato detalhado é possível decidir os próximos passos.

Agora, resta saber se a confederação aceitará liberar a elite do futebol brasileiro para explorar ao máximo o seu potencial econômico, tirando as travas que a CBF lhe impõe, e ao mesmo tempo desenvolver projetos que atendam o restante do futebol brasileiro.

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