Imagem: Veja/Editora Abril
Mané
Garrincha e o copo, aliás, as xícaras de café
Em decadência
após não conseguir novos contratos para jogar futebol e praticamente liquidado
pela dependência alcoólica, Garrincha foi contratado pelo Instituto Brasileiro
do Café (IBC) como Embaixador do Café Brasileiro na Europa
Pedro
Henrique Brandão Lopes
O dia 24 de
maio é considerado o dia do café no Brasil.
O grão já foi
o principal produto exportação do Brasil e de tamanha importância econômica
tinha um órgão público exclusivo para gerir o produto no exterior.
O Instituto Brasileiro
do Café (IBC) foi extinto em 1990, mas em 1970 o órgão empregou ninguém menos
que Mané Garrincha, a Alegria do Povo.
Apesar do
apelido, Garrincha andava bem triste naquele período.
Junto a Elza
Soares, sua esposa, o ex-jogador que não admitia o fim da carreira, foi viver
em Roma para respirar novos ares, acompanhar Elza numa tentativa de turnê
internacional e, por que não, buscar um contrato em algum time europeu.
Aos 37 anos,
Garrincha sofria com a decadência física natural a idade, uma lesão seríssima
que o atormentava desde 1963 e o principal adversário que o levaria a morte
anos depois: o alcoolismo.
Na capital
italiana, a dependência de álcool virou o jogo sobre Garrincha.
O homem que
atormentou os maiores zagueiros do mundo, passou a perambular pelas ruas de
Roma e chegou a ser visto apanhando bitucas de cigarros do chão. Tudo isso,
claro, cambaleante não pela ginga que encantou o mundo, mas pela embriaguez
persistente.
Elza Soares,
que já sofria com o alcoolismo de Garrincha há pelo menos uma década, pedia
ajuda aos conhecidos e a situação do craque chegou aos ouvidos de ilustres fãs
do Anjo das pernas tortas no Brasil.
Jarbas
Passarinho, então ministro da educação, era um dos muitos brasileiros que
consideravam Garrincha maior que Pelé.
O ministro
deu o aval para uma engenharia que já estava sendo montada por figuras
influentes no Ministério da Indústria.
Até o então
presidente Ernesto Geisel, interveio junto ao IBC para que Garrincha fosse
contratado, já que um ídolo brasileiro passando necessidades no exterior não
era exatamente a propaganda que o regime queria.
Enfim o
emprego saiu, mas como a sede do IBC ficava em Milão, Elza e Garrincha se
mudaram para a cidade da moda naqueles anos.
A mudança
calhou bem ao casal que já devia aluguéis e estava prestes a ser despejado.
O salário
proposto era de 1000$ dólares mensais, para se ter ideia o chefe do IBC recebia
1200$, os valores causaram desavenças naturais dentro do órgão, mas a função
que não existia e foi criada sob medida para Garrincha, também foi motivo para
o craque sofrer com os olhares atravessados.
A atividade
do cargo de Embaixador do Café Brasileiro na Europa, na verdade se reduzia a
ida de Garrincha às feiras gastronômicas onde o IBC promovia a venda do café
brasileiro.
Em resumo,
Garrincha seria um garoto propaganda de um dos principais produtos brasileiros
de exportação e compareceria apenas às tais feiras.
Porém o
problema é que Garrincha não conseguia comparecer aos compromissos por conta de
seu alcoolismo.
Para se ter ideia,
das 20 feiras agendadas para 1971, Mané foi apenas a três, em Zagreb, Bolonha e
Marselha.
Nas poucas
oportunidades em que cumpriu com sua nova ocupação, Garrincha dava gafes por
conta de sua famosa ingenuidade.
Na biografia
Estrela Solitária, Ruy Castro resgata um diálogo de Garrincha com um italiano
que foi ao estande do IBC apenas para conhecê-lo, mas resolveu perguntar sobre
o café do Brasil:
“E esse café
do Brasil, é bom mesmo?”
Ao que o
inocente Garrincha não sucumbiu à mentira:
“Não sei,
nunca tomo. O que sei que é o fino é a pinga do Brasil”.
O intérprete
preferiu não traduzir e inventou outra coisa para não constranger os presentes.
Com episódios
como este e diversas ausências nas ocasiões em que deveria promover o produto
brasileiro na Europa, o emprego no IBC não duraria muito e tudo indicava para
uma demissão.
Garrincha se
antecipou.
Aproveitou um
convite recebido por Elza Soares para uma turnê brasileira e pediu seu
desligamento do Instituto Brasileiro do Café para acompanhar a esposa de volta
ao Brasil, em dezembro de 1971.
No retorno ao
país, o calvário de Garrincha com o alcoolismo continuaria até 20 de janeiro de
1983, quando morreu aos 49 anos de idade, completamente liquidado pela
dependência e com passagens folclóricas como o período em que foi o Embaixador
do Café Brasileiro.
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