sábado, março 07, 2020

A dramática história de Jacobo Urso, o mártir do San Lorenzo de Almagro...

Imagem: Autor Desconhecido

Jacobo Urso, a vida por Almagro

A dramática história de Jacobo Urso, o mártir do San Lorenzo.

O jogador permaneceu em campo mesmo com duas costelas quebradas e um rim perfurado para não deixar seu clube do coração com um a menos em campo, deu a vida por Ciclón

Por Pedro Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte

No dia 13 março de 2013, um evento distante mais de 11 mil quilômetros de Buenos Aires, levou o San Lorenzo de volta aos holofotes da imprensa esportiva mundial.

Afinal, era a primeira vez na história que um clube teria um torcedor papa ou um papa torcedor.

O início do pontificado de Francisco, coincidiu com a boa fase do clube de Boedo e culminou no improvável título da Copa Libertadores de América em 2014.

Há quem diga que tenha sido um milagre do santo Papa, mas Jorge Bergollio talvez seja o mais humano dos pontífices e o fato de não esconder sua paixão pelo San Lorenzo é uma prova disso.

Bem menos conhecida e bem mais “milagrosa” é a história de vida e de morte de Jacobo Urso, o mártir do San Lorenzo.

Nascido em 17 de abril de 1899, na província de Dolores, Jacobo E. Urso entrou para as categorias juvenis do San Lorenzo no início de 1915, aos 15 anos, junto com seu irmão Antonio.

Começou ali uma trajetória de devoção ao clube azulgrana e que se misturaria aos principais acontecimentos da história do San Lorenzo no início do século passado.

No ano em que o jovem Jacobo se incorporou ao clube, 1915, El Ciclón jogou a primeira divisão do Campeonato Argentino pela primeira vez na história.

A vitória por 2 a 1 sobre o Estudiantes, em 7 maio de 1916, marcou a estreia de Urso no time adulto.

Com apenas 17 anos, Jacobo uniu sua estreia a mais um feito histórico no clube: jogou na partida de estreia do primeiro estádio construído pelo San Lorenzo, El Gasómetro.

As boas atuações como lateral-esquerdo e como zagueiro, renderam uma convocação para a Seleção Argentina.

Mais um feito de Jacobo Urso, o primeiro jogador do San Lorenzo a integrar a Albiceleste.

Não que Jacobo fosse um craque, mas sim um bom jogador que entregava tudo em campo e demonstrava seu amor pelo San Lorenzo.

A cada temporada a identificação de Urso com o Ciclón crescia e, em pouco tempo, ele se transformou numa das referências da equipe azulgrana.

Jacobo Urso era o que poderia se chamar de jovem veterano, tamanha era sua identificação com o San Lorenzo, com apenas 23 anos.

Respeitado como jogador símbolo do clube, Urso seria um dos primeiros ídolos de Boedo.

No dia 30 de julho de 1922, um domingo, o jogo contra o Estudiantes era válido pela 13ª rodada do Campeonato Argentino.

Urso não estaria em campo, mas a lesão de um companheiro, o levou para a partida.

Aguerrido como de costume, para Urso não havia bola perdida ou dividida em que não pusesse o pé para ganhar.

Aos 10 minutos da etapa final, uma dividida na linha central do gramado contra dois rivais e com o placar empatado sem gols.

A maioria dos jogadores tiraria o pé numa situação dessas.

Jacobo não evitou o choque e foi atingido fortemente por Comolli e Van Kammenade.
Depois da forte dividida, Jacobo passou a respirar com dificuldade e foi à beira do campo pedir água.

Quando se aproximou do banco de seu time, o treinador viu que Urso sangrava pela boca e nariz.

O comandante pediu para que o jogador deixasse o gramado, mas Urso não admitiu deixar o San Lorenzo com um homem a menos, já que não existiam substituições.

Assim que a partida terminou, Jacobo foi levado às pressas ao Hospital Ramos Mejía, onde logo foi diagnosticado com fraturas em duas costelas, uma delas lhe perfurou o rim e, ainda assim, Urso permaneceu em campo até o apito final.

A versão extra-oficial dá conta de que Jacobo ainda teria ido tomar umas cervejas após o término do jogo e que passara mal no bar, mas isso parece ser lenda urbana, serve como folclore para aumentar o mito do jogador que deu a vida pelo time de Almagro.

Fato é que uma semana depois, no dia 6 de agosto de 1922, às 18h05min, após passar por duas cirurgias, Jacobo Urso morreu em decorrência de uma hemorragia provocada por uma infecção generalizada.

O cortejo fúnebre foi acompanhado por mais 7 mil pessoas que carregaram o caixão de Jacobo pelo bairro de Almagro, hoje Boedo, até o estádio Gasómetro, numa espécie de velório no campo em que tantas vezes Urso defendeu o San Lorenzo com todas as suas forças e na última delas  - como quis o destino -  contra o mesmo Estudiantes de sua estreia, Jacobo Urso deu a vida.

Apenas no ano seguinte, em 1923, o San Lorenzo conquistou o inédito título da primeira divisão.

Talvez com a ajuda de Urso de onde quer que ele estivesse, dirão os mais fanáticos azulgranas.

O jogador foi homenageado pelo clube ao batizar o museu do San Lorenzo, onde suas cinzas estão armazenadas dentro de sua estátua.

No Código de Direito Canônico, o martírio consta como um dos critérios para beatificar e canonizar alguém.

Não há dúvidas de que Jacobo Urso foi o mártir de Almagro e deu a vida pelo San Lorenzo.

O clube azulgrana, que já tem um papa, poderia ter, pelas mãos santas dele, um verdadeiro santo, São Jacobo Urso de Boedo, o mártir do San Lorenzo.

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