sexta-feira, março 12, 2021

No Cuiabá, se o clube der prejuízo, dirigente corre o risco de perder patrimônio...

No Cuiabá, se o clube der prejuízo, cartola corre o risco de perder patrimônio

Por Perrone, do blog do Perrone/UOL

Cristiano Dresch, vice-presidente de futebol do clube que tirou Walter do Corinthians, enche a boca para falar: "o Cuiabá nunca atrasou salário".

No mercado da bola o novo time do ex-reserva de Cássio tem mesmo fama de bom pagador.

Esse foi um dos pontos que pesaram na decisão do goleiro de trocar o alvinegro pela equipe do Mato Grosso que fará em 2021 sua estreia na Série A do Campeonato Brasileiro.

Para entender como o Cuiabá conseguiu essa organização financeira imagine o que seria do seu time se os cartolas tivessem que botar na dança seus próprios patrimônios em caso de prejuízo.

Provavelmente, você está pensando que nesse sistema seu clube deveria menos.

Essa é a lógica que ajuda a sustentar a saúde financeira do Cuiabá.

Trata-se de um clube-empresa no formato de sociedade limitada na qual, em caso de dívidas impagáveis, os donos, membros da família Dresch, podem responder com os próprios bens.

"A gente sempre manteve a folha de pagamento rigorosamente em dia. A gente tem essa cultura no clube. Até porque, por ser uma empresa, qualquer passivo que a gente crie, qualquer dívida, ela vai direto no nosso patrimônio", afirmou em entrevista ao blog Cristiano Dresch.

"Desde a fundação, o Cuiabá é uma empresa, com cotas limitadas. Os investidores são os donos do time, meu pai e meu tio (Aron, presidente da Federação Mato-Grossense de Futebol). Eu e meu irmão somos administradores. Está no nosso nome", completou o vice-presidente de futebol.

Os Dresch, donos de indústria do ramo da borracha, compraram o clube do ex-jogador Gaúcho (ex-Palmeiras e ex-Flamengo) em 2009.

A agremiação, fundada em 2001, estava licenciada da Federação Mato-Grossense.

Depois de sete anos na Série C e duas temporadas na Série B, o clube-empresa de família passa por uma reformulação que vai além de contratações para encarar o maior desafio de sua história.

A mudança atinge até a cozinha da agremiação.

"A gente tinha duas cozinheiras, duas ajudantes, agora a gente está tendo que contratar um chefe de cozinha. A gente tinha entre cinco e oito pessoas na parte administrativa, agora vamos ter mais, serão 12. Não é só pagar salário em dia, tem que dar boa estrutura para nossos jogadores concorrerem com os outros", disse Cristiano.

Ele calcula um investimento de R$ 3 milhões a ser feito pelos donos para melhorar a estrutura do centro de treinamento do time, incluindo um novo hotel.

A folha de pagamento, que custava cerca de R$ 1 milhão mensal em 2020, deve pelo menos triplicar, segundo o vice-presidente.

Porém, o salto nas receitas será espetacular.

De acordo com Cristiano, o clube recebeu no último ano R$ 5,5 milhões referentes à cota de TV da Série B. Segundo ele, esse valor será de aproximadamente R$ 26 milhões na elite.

"Óbvio que vamos fazer negócios, mas não vejo o Cuiabá fazendo grandes investimentos em compras de atletas. Acho que a gente vai fazer grandes investimentos na formação de atletas. Vejo jogadores de clubes grandes que ganham salários de R$ 10 mil, R$ 20 mil, que entregam a mesma coisa que jogadores que ganham R$ 400 mil, R$ 300 mil, R$ 200 mil. Não queremos só jogador que venha porque pagamos em dia. Queremos jogadores que tenham fome, vontade", afirmou Cristiano.

Para não errar na montagem do time para a Série A, ele não conta com a ajuda de um diretor-executivo de futebol e de um gerente, profissionais em alta no Brasil.

Em vez disso, o clube prefere investir em analistas de mercado, que fornecem estatísticas e outros dados sobre os jogadores que interessam.

Aos 43 anos, com 11 de experiência no futebol e acostumado às negociações na empresa da família desde a adolescência, Cristiano diz que essa é a melhor estratégia para manter o clube saudável financeiramente.

"A gente chegou à conclusão de que um diretor de futebol no Cuiabá não toma decisões, então é um cargo que fica com a função um pouco fragilizada. Como nós somos donos do dinheiro, se der certo, beleza, se der errado, o prejuízo é todo nosso, essa responsabilidade de fazer um contrato que vai custar em um ano R$ 2 milhões, R$ 3 milhões, tem que ser nossa. Então eu tenho a obrigação de conhecer o atleta, de me cercar de informações, de dados, de números, de estatísticas para poder tomar uma decisão", explicou Cristiano. Foi sem ajuda de um diretor de futebol que ele fechou a contração de Walter.

"Não foi uma contração fácil. Tivemos uma concorrência no final da negociação, contra um clube muito grande. A gente acabou conseguindo pela seriedade do Walter, pela manutenção da palavra dele e do agente dele, porque era uma proposta sedutora, sim. No meio da negociação, a notícia vazou, não repercutiu bem na torcida do Corinthians, mas teve um desfecho positivo. Essa coisa de vir para um clube que vai pagar, com certeza pesou. Walter é uma pessoa muito sensata, com certeza, receber em dia para ele é importante", disse Cristiano.

O goleiro está emprestado até o fim do ano, quando termina seu contrato com o Corinthians.

Cristiano contou que ele deverá assinar um pré-contrato com o Cuiabá para um novo compromisso seis meses antes de terminar seu vínculo com o alvinegro.

Acostumado com a efervescência política e com a pressão da torcida no Corinthians, no Cuiabá Walter encontrará um clube que não tem conselheiros, já que possui donos.

A pressão da torcida é considerada pequena por Cristiano.

"Por ser uma empresa, a gente não precisa jogar para a torcida. Algumas decisões que a gente toma a torcida não gosta, mas com o tempo eles entendem. A gente não tem necessidade de ficar falando o tempo todo o que eles querem ouvir", afirmou o vice-presidente.

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