Antes que fevereiro termine
Por Pedro Henrique Brandão*
Dois meses, duas demissões e um
velho problema: até quando ABC e América serão reféns do imediatismo?
Apenas dois meses de temporada e
duas demissões.
ABC e América, os clubes mais
tradicionais do futebol potiguar, já trocaram de técnico antes mesmo de o
carnaval chegar.
Ney Franco e Leston Júnior
viraram estatística antes de consolidar um trabalho.
O que era para ser um
planejamento virou um plano de emergência.
O que deveria ser estabilidade se
transformou em turbulência.
No ABC, Ney Franco caiu após a
eliminação na primeira fase da Copa do Brasil para um Olaria que não havia
sequer jogado profissionalmente em 2025.
No campo castigado de Moça
Bonita, a queda custou mais do que um sonho: tirou dos cofres alvinegros cerca
de R$ 3 milhões em premiações - somado ao insucesso na pré-Copa do Nordeste.
No jogo de balança, mas não cai,
Ney caiu e levou junto a ideia de um ABC moderno, prometida pelo novo
presidente Eduardo Machado, mas que precisou dar a resposta mais óbvia e
arcaica possível a uma crise: demitir um treinador.
Mas o contexto importa.
Ney Franco assumiu um clube ainda
sob impacto de um processo eleitoral acirrado, com planejamento atrasado e
elenco em construção.
O processo foi tão atropelado que
Agnello Gonçalves só foi apresentado como executivo de futebol depois que Ney
Franco já estava comandando a pré-temporada há cerca de 15 dias.
Mesmo assim, foram 9 jogos, com 5
vitórias, 3 empates e 1 derrota.
Em campo, apesar da eliminação na
Copa do Nordeste e do tropeço na estreia do estadual, emplacou uma sequência
invicta, venceu o Clássico-Rei e levou o ABC à liderança do estadual.
O problema é que, no Brasil, a
regra é clara: o treinador paga a conta pelos fracassos antes de receber os
créditos pelas conquistas.
No América, o roteiro foi
diferente, mas o final, idêntico.
A SAF cortou na própria carne e
reformulou a gestão.
Trocou Pedro Weber por Victor
Arteiro, contratou o experiente Constantino Jr. para o cargo de executivo de
futebol, montou o time com antecedência e apostou em Leston Júnior.
No papel, tudo certo, mas o
futebol não se joga no papel.
O desempenho dentro de campo do
time de Leston não convenceu.
Nem mesmo a estreia avassaladora
contra o Baraúnas foi suficiente para blindá-lo.
O torcedor que tinha o pé atrás
desde os amistosos na pré-temporada, passou a achincalhar o treinador após a
derrota no Clássico-Rei e a desconfiança virou crise.
A derrocada veio com a goleada
sofrida contra o Bahia na Copa do Nordeste e a eliminação na Copa do Brasil
para um adversário de folha salarial seis vezes menor.
Leston saiu após 12 partidas, com
7 vitórias, 2 empates e 3 derrotas.
A SAF, que chegou prometendo
profissionalismo, também se viu refém do imediatismo e puxou o freio de mão
antes que o carro ganhasse velocidade.
Agora, o América está à deriva,
sem treinador e com incertezas sobre a gestão do futebol, inclusive há quem dê
a saída de Constantino Jr. como certa.
Enquanto isso, as semifinais do
estadual batem à porta e os dois grandes do RN encaram o mata-mata
pressionados, sem tempo para recomeçar e sem espaço para errar.
O ABC ao menos agiu rápido
e - antes que fevereiro terminasse - fechou com Evaristo Piza.
O América segue em compasso de
espera.
A pergunta que fica é: até quando
vamos normalizar esse moedor de técnicos?
Planejamento não pode ser apenas
um discurso de período eleitoral.
Mudanças são necessárias, mas um
projeto só se sustenta com tempo.
Quem contrata entende mesmo o que
está fazendo?
Existe um modelo de jogo
pretendido ou o acaso ocupa a cabeça dos dirigentes?
A gestão é tão profissional
quanto se vende?
O mais importante é saber onde
realmente estamos na fila do pão do futebol nacional.
Quem somos e onde podemos chegar
é mais importante do quem será o próximo técnico jogado aos dragões ou aos
elefantes.
Fevereiro terminou.
O carnaval chegou.
E as direções de ABC e América
têm mais um baile para encarar: o de saber dançar conforme a música sem
tropeçar nos próprios erros com a ciência que a magia da folia vai embora na Quarta-Feira
de Cinzas e a temporada 2025 cobrará seu preço ao final.
*Pedro Henrique Brandão
Jornalista graduado pela UFRN,
produtor, comentarista, repórter e apresentador na Rádio Jovem Pan News Natal
93,5
Integrante do Universidade do Esporte - Projeto de Extensão da UFRN
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