sábado, março 01, 2025

Antes que fevereiro termine... até quando ABC e América serão reféns do imediatismo?

Imagem: Gabriel Leite/América FC

Antes que fevereiro termine

Por Pedro Henrique Brandão*

Dois meses, duas demissões e um velho problema: até quando ABC e América serão reféns do imediatismo?

Apenas dois meses de temporada e duas demissões.

ABC e América, os clubes mais tradicionais do futebol potiguar, já trocaram de técnico antes mesmo de o carnaval chegar.

Ney Franco e Leston Júnior viraram estatística antes de consolidar um trabalho.

O que era para ser um planejamento virou um plano de emergência.

O que deveria ser estabilidade se transformou em turbulência.

No ABC, Ney Franco caiu após a eliminação na primeira fase da Copa do Brasil para um Olaria que não havia sequer jogado profissionalmente em 2025.

No campo castigado de Moça Bonita, a queda custou mais do que um sonho: tirou dos cofres alvinegros cerca de R$ 3 milhões em premiações - somado ao insucesso na pré-Copa do Nordeste.

No jogo de balança, mas não cai, Ney caiu e levou junto a ideia de um ABC moderno, prometida pelo novo presidente Eduardo Machado, mas que precisou dar a resposta mais óbvia e arcaica possível a uma crise: demitir um treinador.

Mas o contexto importa.

Ney Franco assumiu um clube ainda sob impacto de um processo eleitoral acirrado, com planejamento atrasado e elenco em construção.

O processo foi tão atropelado que Agnello Gonçalves só foi apresentado como executivo de futebol depois que Ney Franco já estava comandando a pré-temporada há cerca de 15 dias.

Mesmo assim, foram 9 jogos, com 5 vitórias, 3 empates e 1 derrota.

Em campo, apesar da eliminação na Copa do Nordeste e do tropeço na estreia do estadual, emplacou uma sequência invicta, venceu o Clássico-Rei e levou o ABC à liderança do estadual.

O problema é que, no Brasil, a regra é clara: o treinador paga a conta pelos fracassos antes de receber os créditos pelas conquistas.

No América, o roteiro foi diferente, mas o final, idêntico.

A SAF cortou na própria carne e reformulou a gestão.

Trocou Pedro Weber por Victor Arteiro, contratou o experiente Constantino Jr. para o cargo de executivo de futebol, montou o time com antecedência e apostou em Leston Júnior.

No papel, tudo certo, mas o futebol não se joga no papel.

O desempenho dentro de campo do time de Leston não convenceu.

Nem mesmo a estreia avassaladora contra o Baraúnas foi suficiente para blindá-lo.

O torcedor que tinha o pé atrás desde os amistosos na pré-temporada, passou a achincalhar o treinador após a derrota no Clássico-Rei e a desconfiança virou crise.

A derrocada veio com a goleada sofrida contra o Bahia na Copa do Nordeste e a eliminação na Copa do Brasil para um adversário de folha salarial seis vezes menor.

Leston saiu após 12 partidas, com 7 vitórias, 2 empates e 3 derrotas.

A SAF, que chegou prometendo profissionalismo, também se viu refém do imediatismo e puxou o freio de mão antes que o carro ganhasse velocidade.

Agora, o América está à deriva, sem treinador e com incertezas sobre a gestão do futebol, inclusive há quem dê a saída de Constantino Jr. como certa.

Enquanto isso, as semifinais do estadual batem à porta e os dois grandes do RN encaram o mata-mata pressionados, sem tempo para recomeçar e sem espaço para errar.

O ABC ao menos agiu rápido e - antes que fevereiro terminasse - fechou com Evaristo Piza.

O América segue em compasso de espera.

A pergunta que fica é: até quando vamos normalizar esse moedor de técnicos?

Planejamento não pode ser apenas um discurso de período eleitoral.

Mudanças são necessárias, mas um projeto só se sustenta com tempo.

Quem contrata entende mesmo o que está fazendo?

Existe um modelo de jogo pretendido ou o acaso ocupa a cabeça dos dirigentes?

A gestão é tão profissional quanto se vende?

O mais importante é saber onde realmente estamos na fila do pão do futebol nacional.

Quem somos e onde podemos chegar é mais importante do quem será o próximo técnico jogado aos dragões ou aos elefantes.

Fevereiro terminou.

O carnaval chegou.

E as direções de ABC e América têm mais um baile para encarar: o de saber dançar conforme a música sem tropeçar nos próprios erros com a ciência que a magia da folia vai embora na Quarta-Feira de Cinzas e a temporada 2025 cobrará seu preço ao final.

*Pedro Henrique Brandão

Jornalista graduado pela UFRN, produtor, comentarista, repórter e apresentador na Rádio Jovem Pan News Natal 93,5

Integrante do Universidade do Esporte - Projeto de Extensão da UFRN

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