JOGOS PARALÍMPICOS RIO 2016
Como competem guias e deficientes visuais nos diferentes esportes
paralímpicos
No golbol, um esporte criado especificamente para atletas cegos, não é
preciso utilizar guias
Pablo Cantó e Maria S. Sánchez para o El País
Durante os Jogos Paralímpicos do
Rio – realizados de 7 a 18 de setembro – muitos atletas não estarão sozinhos
durante as provas.
Com eles estão os guias: atletas
e técnicos que os acompanham em determinados momentos da competição.
É uma figura comum no esporte
adaptado que agora também estará no pódio.
As Paralimpíadas de Londres 2012
foram as primeiras nas quais os guias de atletas cegos foram premiados com
medalhas, algo que já havia ocorrido um ano antes nos Mundiais de Atletismo.
Além deles também são premiados,
por exemplo, os pilotos da modalidade tandem do ciclismo, os guias de bocha e
os goleiros de futebol (que não são cegos).
Abaixo, um resumo das técnicas
utilizadas para ajudar os atletas com deficiências visuais.
Natação
No caso da natação, os atletas
com problemas de visão competem com o auxílio do tapper na beira na piscina, a
pessoa que os avisa quando estão prestes a chegar ao final, para que girem e
finalizem a prova.
De acordo com a explicação da
Federação Espanhola de Esportes para Cegos à Verne, esse papel costuma ser
exercido pelos técnicos e treinadores de cada atleta, que com uma ferramenta
personalizada dão leves toques na cabeça dos nadadores.
Existem diversos dispositivos
para o tapping.
O mais comum é o bastão com
espuma sintética em um dos lados.
Para aperfeiçoar a técnica, o
norte-americano Tharon Drake disse, por exemplo, que testou até mesmo uma vara
de pescar com isca artificial.
Dentro da piscina, para não sair
de suas raias, os nadadores com deficiência visual encostam nas cordas que
separam as balizas.
Além disso, o regulamento obriga
todos os nadadores que competem na categoria S11 a levar óculos escuros.
Dessa forma, os que têm certo
grau de percepção competem nas mesmas condições dos que perderam completamente
a visão.
Ciclismo
Os atletas com deficiência visual
competem na modalidade tandem com um guia com visão na categoria B dos Jogos
Paralímpicos.
O piloto com visão fica na parte
da frente e como copiloto, na parte de trás da bicicleta, fica a pessoa com
deficiência visual.
No site Alto Rendimento, Pedro
García – preparador físico e competidor no tandem com Fernando Pérez Hornero –
explica que nessa modalidade é fundamental trabalhar durante os treinamentos
com a coordenação e a confiança entre os dois corredores.
Os dois ciclistas não só devem
pedalar na mesma sintonia, como também devem sair da bicicleta, virar e manter
o equilíbrio ao mesmo tempo em situações complicadas.
Os representantes espanhóis Joan
Font e Ignacio Ávila, que competirão no tandem no Rio, costumam contar em suas
respectivas contas do Instagram como realizam os treinamentos e as provas que
disputam juntos.
Atletismo
De acordo com a Federação, só
existem três provas que os atletas com deficiência visual não podem competir:
as de obstáculos, as corridas com barreiras e o salto em altura.
Podem competir nas outras provas
de atletismo adaptando-se às modificações previstas no regulamento.
Nessa categoria existem dois
tipos de acompanhantes: os guias atletas, que entram na pista durante as
corridas, e os guias indicadores, que orientam os atletas nas provas de salto e
nos lançamentos de disco e pelo.
Pedro Maroto, técnico responsável
pelo atletismo paralímpico, conta ao EL PAÍS por e-mail do Rio de Janeiro que
os guias hoje em dia são “quase profissionais”.
Precisam ter uma marca melhor que
o atleta e se o atletismo sobe o nível, os guias também precisam fazê-lo”.
Os treinamentos, diz Maroto, são
realizados de forma conjunta e “a coordenação entre ambos é essencial, sendo
até mesmo interessante que tenham as mesmas medidas antropométricas”.
Os guias atletas utilizam uma
corda para competir unidos pela mão.
Segundo Maroto as cordas devem
respeitar duas regras:
“Não serem elásticas e não
medirem mais de um metro”.
Além disso, guia e atleta “devem
sempre correr juntos e os guias não podem impulsionar e empurrar seu atleta”.
Na prova de Maratona a
regulamentação do Comitê Paralímpico Internacional permite que cada deficiente
visual leve dois guias, que podem revezar nas quilometragens 10, 20 e 30.
Os guias indicadores, por sua
vez, avisam o momento exato em que o atleta deve realizar um salto ou
lançamento para orientá-lo na zona regulamentar e evitar que pise, por exemplo,
nas linhas de penalização.
Maroto explica que isso é feito
“com palmas, vozes ou outra orientação acústica”.
Nas provas de salto em distância,
a tábua de impulsão é substituída por uma marca de cal que permite medir o
salto do ponto exato em que se produz a última pegada.
O arremessador de disco e peso
David Casinos, tetracampeão nos Jogos Paralímpicos, tem um canal do YouTube em
que explica as normas seguidas por ele e sua treinadora.
No seu caso, conta ele, além das
indicações do guia, é fundamental a orientação da cabeça e o trabalho de pernas
para arremessar o objeto na direção desejada.
Triatlo (Categoria: PT5)
Diferentemente de outras corridas
de fundo como a maratona, onde os paralímpicos cegos contam com dois guias –
que se revezam na metade da prova –, na categoria PT5 de triatlo os
competidores levam um único guia para as três modalidades, como explica o
regulamento da Federação Internacional de Triatlo.
Guia e competidor devem ser do
mesmo sexo e nacionalidade.
Héctor Catalá, campeão da Espanha
e da Europa de triatlo PT5, explica em seu blog como trabalha com seu guia
durante a corrida:
“Na natação vamos unidos pela
cintura ou perna, e é o guia que nos dirige para as boias”, conta.
“No ciclismo
é onde mais nos diferenciamos, já que usamos uma bicicleta de dois lugares. Por
sermos duas pessoas fazendo força sobre a mesma transmissão, em circuitos
planos, voamos. Na subida, a vantagem já não é tão evidente”.
Depois, na corrida, “há duas
opções, amarrados pelo cinto portadorsal ou com uma corda, segurando uma ponta
cada um”.
Os Jogos Paralímpicos do Rio
serão os primeiros da história em que haverá competição de triatlo.
Golbol
O golbol é um esporte criado
especificamente para esportistas com deficiência visual e, portanto, não é
necessário utilizar guias externos.
Nessa modalidade “participam duas
equipes de três jogadores cada uma”, explica a Federação Espanhola de Esportes
para Cegos em seu site.
“Vale-se principalmente da
audição para detectar a trajetória da bola em jogo (que tem guizos em seu
interior) e requer, além disso, uma grande capacidade espacial para saber se
posicionar, a cada momento, no local mais apropriado, com o objetivo de
interceptar ou lançar a bola”.
Todas as linhas do campo, um
retângulo de 18 metros de comprimento por 9 de largura, são marcadas em relevo
para que sejam reconhecíveis ao tato.
Futebol
Nos jogos do Rio existem duas
modalidades de futebol: o futebol de 7, para diferentes graus de deficiência, e
o futebol de 5, exclusivo para deficientes visuais.
Esta modalidade, conforme explica
o regulamento da Federação Internacional de Esportes para Cegos, é jogada em
terreno descoberto para permitir uma acústica ideal.
Os três terços do campo são
demarcados e, atrás dos gols, encontra-se a área de guias.
As funções do guia, conforme
explica o pesquisador Guido Gastón Suárez em seu artigo Importância do papel de
guia no futebol para deficientes visuais, são: orientar aos jogadores no terço
ofensivo do campo, indicar a distância de um jogador até o gol, informar do
número de defensores que um jogador tem entre o gol adversário e ele mesmo,
ajudar a saber o ângulo do gol, indicar a posição dos companheiros e orientar
os jogadores quando devem ir para a defesa.
Assim como no golbol, a bola é
equipada com guizos para que os jogadores saibam sua posição e trajetória.
Judô
O judô é, conforme explica o site
da Federação Espanhola de Esportes para Cegos, uma das modalidades com menos
modificações em relação à olímpica.
“Existe somente uma modificação
do regulamento, que determina que as provas devem começar com os dois
esportistas agarrados”, descreve.
“Se os judocas se soltarem em
algum momento, o árbitro interromperá a prova para que voltem a se agarrar”.
Além dos gestos convencionais com
que os juízes se comunicam, o judô para deficientes visuais inclui novos sinais
auditivos e táteis para transmitir as decisões aos esportistas.
Por exemplo, o regulamento de
judô da Federação Internacional de Esportistas Cegos determina que “cada vez
que o árbitro anunciar um ponto ou penalidade, além de utilizar o termo e o
gesto convencionais, deverá anunciar ao (azul) ou shiro (branco), em função do
atleta em questão”.
No judô paralímpico competem
somente atletas com deficiência visual.
Não há categorização e os
competidores são divididos por peso, da mesma maneira que os atletas não
deficientes.
Remo
No remo olímpico não existe, por
enquanto, uma categoria só para pessoas cegas, mas na modalidade LTA4+, de
embarcações de quatro atletas, podem participar até dois atletas com
deficiência visual.
O regulamento de remo paralímpico
detalha que, devido à inclusão dos para-atletas, “o juiz de saída dará às
tripulações uma indicação verbal adicional” além da bandeira ou do sinal
luminoso.