Saiam do futebol, e saiam logo!
Por Oscar Cowley
As torcidas organizadas - ultras, como
conhecidos na Espanha - dos times espanhóis também costumam protagonizar
espetáculos vergonhosos e violentos como os que presenciamos aqui no Brasil.
Contudo, existe uma peculiaridade (não menos constrangedora) que as diferenciam
das brasileiras: alianças a ideologias políticas, em sua maioria extremistas.
Não é preciso dizer que futebol e política nunca deveriam se misturar, um
envolve lazer, paixão e sentimentos, e o outro, enfim, melhor nem comentar.
A ideia de tratar
sobre este assunto no texto surge de um incidente que causou muita repercussão
na Espanha durante estes dias.
Um sujeito, suposto torcedor do Real Betis e
integrante do grupo ultra Supporters Sur, protagonizou um evento lamentável
durante a visita do Betis a Bilbao, pela 34° rodada do campeonato espanhol.
Depois
de passar horas provocando os moradores locais em busca de alguma confusão que
justificasse sua viagem ao País Basco, Manuel Herrera Perejón (com 27
antecedentes criminais) e seus colegas encontraram uma vítima que se encontrava
só tomando um café com seu cachorro tranquilamente.
Antes de
comentar o ocorrido, vale apontar que na Espanha existe uma certa tensão entre
os moradores de regiões independentistas (País Basco e Catalunha,
principalmente) e o resto do país.
As divergências políticas entre bascos e
andaluzes (região do sul de onde procede o time do Betis), portanto, são bastante
comuns e, inclusive, foram tema de um dos filmes mais populares dos últimos
anos no país. Trata-se da comédia Ocho Apellidos Vascos (disponível no Netflix,
para quem tiver interesse em conhecer melhor essa relação).
É habitual essas
tensões se acentuarem no mundo das torcidas organizadas, ao ponto de nos
depararmos com incidentes como o ocorrido em Bilbao, durante a semana passada.
Neste caso, o “torcedor” do Betis se aproxima do homem sentado e o chama de
“Gabilondo” (famoso jornalista do País Basco), ao ver que estava sendo ignorado
o mesmo continua a provocação e pergunta se ele é proetarra (partidário da
organização terrorista ETA) e joga um copo cheio de cerveja no rapaz.
Não
satisfeito, o criminoso proporciona um soco na cara da vítima que no mesmo
instante se levanta e tenta fugir sendo perseguido aos chutes e murros.
Tudo
isso foi gravado por um dos seus colegas que ria enquanto a agressão era
cometida (link do vídeo será disponibilizado ao final da matéria).
Como torcedor,
sinto repulsa desse tipo de organização violenta.
Não me entendam mal, sou
partidário daqueles que acreditam que o torcedor que canta e anima faz o
espetáculo no estádio ficar mais bonito.
Porém, agressões como essas, muitas
findadas em ideologias políticas, me dão um verdadeiro nojo.
Para quem não
sabe, as principais organizadas no país como o Frente Atlético (Atlético de
Madrid), Ultras Sur (Real Madrid), Biris Norte (Sevilla) e Boixos Nois
(Barcelona), possuem finalidades políticas extremistas (seja de esquerda ou
direita) mascaradas pelo futebol.
Durante o famoso
episódio de novembro de 2014, em que o torcedor ultra do Riazor Blues (Deportivo
da Corunha), Javier Romero ‘Jimmy’, foi assassinado durante um combate entre as
torcidas de extrema esquerda do Deportivo, Rayo Vallecano e Alcorcon, contra as
de extrema direita do Atlético de Madrid, Sporting de Gijon e um ou dois do
Betis, as câmeras de investigação jornalísticas espanholas captaram imagens
realmente perturbantes do quarto cedido à Frente Atlético no Vicente Calderón
(link disponível ao final da matéria).
As gravações
mostraram a verdadeira cara por trás dos grupos radicais.
Além de suásticas,
senhas de identidade da S.S (organização paramilitar nazista) e símbolos
fascistas, foram descobertas frases de adoração a Adolf Hitler.
Sim, esse
mesmo, o baixinho do bigode estranho que matou milhões de pessoas durante a
Segunda Guerra Mundial.
Ah, e vale ressaltar que o sujeito que cometeu a
agressão ao homem de Bilbao, também mostra com orgulho em suas redes sociais
tatuagens nazistas e fascistas.
Sem dúvidas, o futebol espanhol vive uma
situação preocupante e cabe aos times tomar a responsabilidade de acabar com
estes grupos ou, pelo menos, separá-los do futebol.
O próprio
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, conseguiu afastar os Ultra Sur (um
dos grupos mais violentos) dos estádios.
Hoje quem se responsabiliza pelos
cânticos são a “grada de animación”, com apoio econômico de Florentino,
localizados na parte mais alta do gol sul.
A única condição imposta é não fazer
parte de conflitos violentos dentro ou fora do estádio e não ter relação com
nenhuma ideologia política.
Como consequência, o túmulo da esposa do presidente
do Real tem que ser vigiado durante às 24 horas do dia, uma vez que com a
expulsão dos ultras vandalizar o local tinha virou rotina pelos criminosos.
É importante
ressaltar que estes grupos são uma minoria.
Isto não significa que se você se
aventurar a assistir um jogo na Espanha corra um grande risco de sofrer estas
agressões.
A melhor experiência com o futebol que eu tive, inclusive, foi no
estádio do Real Betis, quando, em companhia do meu irmão e sobrinho (na época
com 5 anos), vi como a torcida do Recreativo de Huelva chegava ao estádio
cantando junto com os béticos.
Não sentimos em nenhum momento alguma ameaça
enquanto andávamos até o estádio com a torcida rival.
E é assim que o futebol
tem que ser!
Aos grupos extremistas que se dedicam a agredir lanço uma
mensagem...
Saiam do futebol, e saiam logo!