sábado, maio 06, 2017

Saiam logo do futebol, e saiam logo!


Saiam do futebol, e saiam logo!

Por Oscar Cowley

As torcidas organizadas - ultras, como conhecidos na Espanha - dos times espanhóis também costumam protagonizar espetáculos vergonhosos e violentos como os que presenciamos aqui no Brasil.

Contudo, existe uma peculiaridade (não menos constrangedora) que as diferenciam das brasileiras: alianças a ideologias políticas, em sua maioria extremistas. 

Não é preciso dizer que futebol e política nunca deveriam se misturar, um envolve lazer, paixão e sentimentos, e o outro, enfim, melhor nem comentar.

A ideia de tratar sobre este assunto no texto surge de um incidente que causou muita repercussão na Espanha durante estes dias. 

Um sujeito, suposto torcedor do Real Betis e integrante do grupo ultra Supporters Sur, protagonizou um evento lamentável durante a visita do Betis a Bilbao, pela 34° rodada do campeonato espanhol. 

Depois de passar horas provocando os moradores locais em busca de alguma confusão que justificasse sua viagem ao País Basco, Manuel Herrera Perejón (com 27 antecedentes criminais) e seus colegas encontraram uma vítima que se encontrava só tomando um café com seu cachorro tranquilamente.


Antes de comentar o ocorrido, vale apontar que na Espanha existe uma certa tensão entre os moradores de regiões independentistas (País Basco e Catalunha, principalmente) e o resto do país. 

As divergências políticas entre bascos e andaluzes (região do sul de onde procede o time do Betis), portanto, são bastante comuns e, inclusive, foram tema de um dos filmes mais populares dos últimos anos no país. Trata-se da comédia Ocho Apellidos Vascos (disponível no Netflix, para quem tiver interesse em conhecer melhor essa relação).


É habitual essas tensões se acentuarem no mundo das torcidas organizadas, ao ponto de nos depararmos com incidentes como o ocorrido em Bilbao, durante a semana passada. 

Neste caso, o “torcedor” do Betis se aproxima do homem sentado e o chama de “Gabilondo” (famoso jornalista do País Basco), ao ver que estava sendo ignorado o mesmo continua a provocação e pergunta se ele é proetarra (partidário da organização terrorista ETA) e joga um copo cheio de cerveja no rapaz. 

Não satisfeito, o criminoso proporciona um soco na cara da vítima que no mesmo instante se levanta e tenta fugir sendo perseguido aos chutes e murros. 

Tudo isso foi gravado por um dos seus colegas que ria enquanto a agressão era cometida (link do vídeo será disponibilizado ao final da matéria).
Como torcedor, sinto repulsa desse tipo de organização violenta. 

Não me entendam mal, sou partidário daqueles que acreditam que o torcedor que canta e anima faz o espetáculo no estádio ficar mais bonito. 

Porém, agressões como essas, muitas findadas em ideologias políticas, me dão um verdadeiro nojo. 

Para quem não sabe, as principais organizadas no país como o Frente Atlético (Atlético de Madrid), Ultras Sur (Real Madrid), Biris Norte (Sevilla) e Boixos Nois (Barcelona), possuem finalidades políticas extremistas (seja de esquerda ou direita) mascaradas pelo futebol.

Durante o famoso episódio de novembro de 2014, em que o torcedor ultra do Riazor Blues (Deportivo da Corunha), Javier Romero ‘Jimmy’, foi assassinado durante um combate entre as torcidas de extrema esquerda do Deportivo, Rayo Vallecano e Alcorcon, contra as de extrema direita do Atlético de Madrid, Sporting de Gijon e um ou dois do Betis, as câmeras de investigação jornalísticas espanholas captaram imagens realmente perturbantes do quarto cedido à Frente Atlético no Vicente Calderón (link disponível ao final da matéria).


As gravações mostraram a verdadeira cara por trás dos grupos radicais. 

Além de suásticas, senhas de identidade da S.S (organização paramilitar nazista) e símbolos fascistas, foram descobertas frases de adoração a Adolf Hitler. 

Sim, esse mesmo, o baixinho do bigode estranho que matou milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial. 

Ah, e vale ressaltar que o sujeito que cometeu a agressão ao homem de Bilbao, também mostra com orgulho em suas redes sociais tatuagens nazistas e fascistas. 

Sem dúvidas, o futebol espanhol vive uma situação preocupante e cabe aos times tomar a responsabilidade de acabar com estes grupos ou, pelo menos, separá-los do futebol.

O próprio Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, conseguiu afastar os Ultra Sur (um dos grupos mais violentos) dos estádios. 

Hoje quem se responsabiliza pelos cânticos são a “grada de animación”, com apoio econômico de Florentino, localizados na parte mais alta do gol sul. 

A única condição imposta é não fazer parte de conflitos violentos dentro ou fora do estádio e não ter relação com nenhuma ideologia política. 

Como consequência, o túmulo da esposa do presidente do Real tem que ser vigiado durante às 24 horas do dia, uma vez que com a expulsão dos ultras vandalizar o local tinha virou rotina pelos criminosos.

É importante ressaltar que estes grupos são uma minoria. 

Isto não significa que se você se aventurar a assistir um jogo na Espanha corra um grande risco de sofrer estas agressões. 

A melhor experiência com o futebol que eu tive, inclusive, foi no estádio do Real Betis, quando, em companhia do meu irmão e sobrinho (na época com 5 anos), vi como a torcida do Recreativo de Huelva chegava ao estádio cantando junto com os béticos. 

Não sentimos em nenhum momento alguma ameaça enquanto andávamos até o estádio com a torcida rival. 

E é assim que o futebol tem que ser! 

Aos grupos extremistas que se dedicam a agredir lanço uma mensagem... 

Saiam do futebol, e saiam logo!

Link 1: https://www.youtube.com/watch?v=H1tsGhU4hto agressão do torcedor do Betis.

Link 2: https://www.youtube.com/watch?v=GbWVWM1e8bw (reportagem acerca do quarto da Frente Atlético).

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