Imagem: Autor Desconhecido/Arte: Fernando Amaral
Estádios lotados não podem continuar alimentando a ilusão dos estaduais
André Rocha para o UOL Esporte
Responda com sinceridade: que
torcedor lembra de título estadual em dezembro?
Só os que nada conseguiram no
resto da temporada.
Serve no máximo para tirar sarro
do rival que nem isso comemorou no ano.
Mas e se ele ganha a Copa do
Brasil e o seu é rebaixado no Brasileiro, como aconteceu com a dupla Gre-nal no
ano passado?
De que valeu o hexa colorado em
2016?
Alguém lembrou?
''Ah, mas os estádios lotaram, a média de público subiu!''
Ora bolas, se só existe esta
competição no calendário do fim de semana, se os clubes mais estruturados e com
estádios atraem seus torcedores pela fidelidade e alimentam a cultura da
arquibancada, o fanático vai assistir a qualquer jogo.
Mesmo os inúteis, dentro de um
calendário inchado.
É por causa daquela partida
contra um pequeno que seu time, se estiver bem na temporada, será prejudicado
mais à frente pelas convocações da seleção brasileira.
Porque terá que estar em campo
numa data FIFA, quando todas as ligas organizadas param.
Punido pela própria competência.
Também pagando pela estrutura
federativa que alimentam.
Estadual inchado porque os
pequenos votam com a federação, que vota com a CBF e ninguém muda o futebol
brasileiro.
O campeonato não é atraente para
o mundo, que não entende essa cultura provinciana.
''Ah, mas os pequenos precisam jogar''.
Sim, mas o ano todo.
Dentro de um calendário racional,
sem esse ''mimo'' de enfrentar os grandes mais do que em qualquer outro país.
Agora em alguns torneios nem são
mais dois confrontos, em turno e returno.
Jogos com estádios vazios, na
maior parte do tempo.
Que a maioria tenha agenda para a
temporada inteira.
Quatro divisões com vinte clubes,
turno e returno, uma quinta regionalizada e que se tente algo mais na Copa do
Brasil.
Com apoio da milionária CBF, que
precisa olhar ainda mais para os seus clubes e não priorizar tanto a seleção
brasileira.
Vencer o clássico na final é
delicioso, sim.
Mas não se depois vem o gosto
amargo de ver o time definhando na reta final da temporada com vinte jogos a
mais que clubes de outros países.
Podendo sofrer por isso na
Libertadores ou na Sul-Americana, agora disputadas ao longo do ano.
Perdendo aquele clássico
realmente importante numa reta final de Brasileiro porque ganhou lá atrás na
disputa regional.
Que peso isso terá no balanço
final do ano?
Além da questão política, o
Estadual sobrevive no Brasil por um único motivo: alimenta uma ilusão de
grandeza.
O clube afundado em
administrações amadoras, que nada consegue a nível nacional e internacional,
vai se escorando na conquista menos importante da temporada.
E, claro, também para ser visto
com bons olhos pela entidade máxima do nosso futebol.
As ovelhas mansas seguem se
contentando com migalhas.
Se você é sócio torcedor, cobre
dos seus dirigentes uma visão a médio e longo prazo, não imediatista.
E daí que a televisão paga bem
pelo Estadual?
Ela também é cúmplice da CBF
neste crime com os clubes, porque quer jogo todo dia, já que é um dos poucos
eventos transmitidos capazes de manter o espectador sem zapear por 90 minutos.
Se o Brasileiro se valorizar como
produto para o mundo, todos ganham.
Portanto, vale a comemoração dos
que faturaram as taças, sim.
Afinal, é o que se tem para hoje.
Mas não se deixe enganar pela
ilusão do estadual.
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