Imagem: Acervo do CR Vasco da Gama *
Drible no
amadorismo e o surgimento do "time da virada" em 1923
Para
conseguir levantar o troféu, o Vasco da Gama contou com a ajuda de funcionários
fantasmas e de um segundo tempo devastador
Por Marcos
Vinícius/Universidade do Esporte
Em 1923, o
futebol no Brasil era amador e qualquer movimento na direção do profissionalismo era
coibida.
Um exemplo
disso, é que os jogadores do Campeonato Carioca, daquele ano, não podiam ser
remunerados pelos clubes.
Naquele
tempo, o futebol era praticado pela elite.
Portanto, os únicos
jogadores que podiam viver uma vida totalmente dedicada ao futebol eram os
atletas que desfrutavam de uma família bem estabelecida financeiramente, grupo
praticamente formado por homens brancos.
Aos negros
e miscigenados, que não tinham "berço de ouro" e que haviam acabado
de sair da escravidão, só restava uma única opção: trabalhar para poder
sobreviver.
Para eles o
futebol era apenas um sonho distante de sua realidade.
Porém.aqui e ali, surgiam aqueles que percebiam que essa regra era prejudicial para competitividade
dos campeonatos, já que muitos trabalhadores "bons de bola" ficavam
fora dos torneios.
Sendo assim, esses visionários tentaram colocar os "bons de bola" em suas
equipes...
A ideia não era a inclusão social, mas sim beneficiar suas equipes.
Foi então que criaram um truque...
Contratavam aqueles
que julgavam úteis para suas equipes para uma função que nunca seria exercida e os
colocavam a disposição do time.
O primeiro
caso registrado aconteceu em 1905, no time do Bangu.
Tal
acontecimento foi relatado no livro "Guia Politicamente Incorreto do
Futebol", escrito por Jones Rossi e Leonardo Mendes Jr no ano de 2014.
"Na
prática, foi esse o caminho usado pelo Bangu para ter no seu time, em 14 de
maio de 1905, Francisco Carregal, um tecelão negro da Companhia Progresso
Industrial do Brasil – Fábrica de Bangu. Trata-se do primeiro registro que se
tem de um negro em um time de futebol do Brasil."
18 anos
depois, o Vasco da Gama também a artimanha no Campeonato Carioca.
Antonio da
Silva Campos, então presidente cruzmaltino, com o apoio fundamental de comerciantes
e empresários, torcedores do clube, passou a utilizar negros e mestiços contratados
como comerciários ou operários e os colocando à disposição da equipe de futebol.
Recebendo
salários, esses homens passaram a se dedicar integralmente ao esporte...
O resultado
foi o aprimoramento da técnica e, principalmente, da forma física, já que naquela
época a sessões de treinamento podiam se estender diariamente até por três períodos
Com os jogos
acontecendo somente aos domingos, os atletas das equipes adversárias que não
tinham rotina tão intensa de treinos, mesmo que habilidosos, sentiam o peso da
melhor preparação dos vascaínos...
Os primeiros
45 minutos eram parelhos, mas na etapa final, o vigor dos atletas
do Vasco desequilibrava.
Não raras
vezes os cruzmaltinos viravam placares desfavoráveis, transformando derrotas em
vitórias importantes.
A penúltima
rodada do Campeonato Carioca de 1923 é um exemplo disso...
O Vasco enfrentou
o São Cristóvão, no Estádio General Severiano, precisando vencer para
conquistar com uma rodada de antecedência o título de campeão carioca...
Como em quase
todas as partidas daquele ano o Vasco saiu em desvantagem no primeiro tempo,
com o São Cristóvão vencendo por 2 a 0.
Porém nos 45
minutos finais, o time conseguiu a virada e consequentemente o título inédito
do estadual – os gols do Vasco foram marcados por Negrito (2) e Ceci.
A partir
desse momento, o Clube Regatas Vasco da Gama foi intitulado pelos torcedores
que acompanhavam os jogos de "time da virada", por conta da força do
time para virar os jogos no segundo tempo.
* Na foto...
Em pé:
Nicolino, Mingote, Nelson, Leitão, Artur, Claudionor;
Agachados:
Paschoal,
Torterolli, Arlindo, Ceci e Negrito