domingo, janeiro 12, 2020

Drible no amadorismo e o surgimento do "time da virada" em 1923...

Imagem: Acervo do CR Vasco da Gama *

Drible no amadorismo e o surgimento do "time da virada" em 1923

Para conseguir levantar o troféu, o Vasco da Gama contou com a ajuda de funcionários fantasmas e de um segundo tempo devastador

Por Marcos Vinícius/Universidade do Esporte

Em 1923, o futebol no Brasil era amador e qualquer movimento na direção do profissionalismo era coibida.

Um exemplo disso, é que os jogadores do Campeonato Carioca, daquele ano, não podiam ser remunerados pelos clubes.

Naquele tempo, o futebol era praticado pela elite.

Portanto, os únicos jogadores que podiam viver uma vida totalmente dedicada ao futebol eram os atletas que desfrutavam de uma família bem estabelecida financeiramente, grupo praticamente formado por homens brancos.

Aos negros e miscigenados, que não tinham "berço de ouro" e que haviam acabado de sair da escravidão, só restava uma única opção: trabalhar para poder sobreviver.

Para eles o futebol era apenas um sonho distante de sua realidade.

Porém.aqui e ali, surgiam aqueles que percebiam que essa regra era prejudicial para competitividade dos campeonatos, já que muitos trabalhadores "bons de bola" ficavam fora dos torneios.

Sendo assim, esses visionários tentaram colocar os "bons de bola" em suas equipes...

A ideia não era a inclusão social, mas sim beneficiar suas equipes.

Foi então que criaram um truque...

Contratavam aqueles que julgavam úteis para suas equipes para uma função que nunca seria exercida e os colocavam a disposição do time.

O primeiro caso registrado aconteceu em 1905, no time do Bangu.

Tal acontecimento foi relatado no livro "Guia Politicamente Incorreto do Futebol", escrito por Jones Rossi e Leonardo Mendes Jr no ano de 2014.

"Na prática, foi esse o caminho usado pelo Bangu para ter no seu time, em 14 de maio de 1905, Francisco Carregal, um tecelão negro da Companhia Progresso Industrial do Brasil – Fábrica de Bangu. Trata-se do primeiro registro que se tem de um negro em um time de futebol do Brasil."

18 anos depois, o Vasco da Gama também a artimanha no Campeonato Carioca.

Antonio da Silva Campos, então presidente cruzmaltino, com o apoio fundamental de comerciantes e empresários, torcedores do clube, passou a utilizar negros e mestiços contratados como comerciários ou operários e os colocando à disposição da equipe de futebol.

Recebendo salários, esses homens passaram a se dedicar integralmente ao esporte...

O resultado foi o aprimoramento da técnica e, principalmente, da forma física, já que naquela época a sessões de treinamento podiam se estender diariamente até por três períodos

Com os jogos acontecendo somente aos domingos, os atletas das equipes adversárias que não tinham rotina tão intensa de treinos, mesmo que habilidosos, sentiam o peso da melhor preparação dos vascaínos...

Os primeiros 45 minutos eram parelhos, mas na etapa final, o vigor dos atletas do Vasco desequilibrava.

Não raras vezes os cruzmaltinos viravam placares desfavoráveis, transformando derrotas em vitórias importantes.

A penúltima rodada do Campeonato Carioca de 1923 é um exemplo disso...

O Vasco enfrentou o São Cristóvão, no Estádio General Severiano, precisando vencer para conquistar com uma rodada de antecedência o título de campeão carioca...

Como em quase todas as partidas daquele ano o Vasco saiu em desvantagem no primeiro tempo, com o São Cristóvão vencendo por 2 a 0.

Porém nos 45 minutos finais, o time conseguiu a virada e consequentemente o título inédito do estadual – os gols do Vasco foram marcados por Negrito (2) e Ceci.

A partir desse momento, o Clube Regatas Vasco da Gama foi intitulado pelos torcedores que acompanhavam os jogos de "time da virada", por conta da força do time para virar os jogos no segundo tempo.

* Na foto...

Em pé: 
Nicolino, Mingote, Nelson, Leitão, Artur, Claudionor;

Agachados: 
Paschoal, Torterolli, Arlindo, Ceci e Negrito

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