Imagem: Acervo Gazeta/Reprodução
Valdir
Joaquim de Morais, uma lenda das metas
Morreu, aos
88 anos, o lendário goleiro palmeirense Valdir Joaquim de Morais. Em campo,
Valdir inovou na posição com movimentos acrobáticos para suprir sua baixa
estatura. Depois de aposentado, Seu Valdir revolucionou a preparação de
goleiros
Pedro
Henrique Brandão Lopes/Universidade do Esporte
Ser goleiro
não é para um ser humano normal.
É preciso
muito preparo emocional para ser o responsável por frustrar um estádio lotado,
sempre na corda bamba entre ser o anti-herói do espetáculo ou o frangueiro que
entregou o jogo mais uma vez.
No esporte em
que o objetivo máximo é o gol, o dever do goleiro é justamente evitar que os
gols aconteçam.
Por isso, a
escolha pelo gol, raramente acontece por livre espontânea vontade, mas sim,
como certa vez disse o pentacampeão Marcos: “o goleiro começa lá na frente,
aí não faz gol e recuam ele para o meio. Aí o cara não acerta o passe e colocam
ele para jogar na zaga. Daí percebem que o cara é grande e não sabe jogar com
os pés, aí o que sobra é o gol. Dali é para fora!”.
Então como
explicar a carreira de Valdir de Morais?
Com apenas
1,72 de altura, mas que, inexplicavelmente, virava um gigante para defender o
gol palmeirense.
Inovador nos
movimentos acrobáticos para suprir sua baixa estatura, o goleiro jogou por 10
anos no Renner de Porto Alegre.
“Não adianta
ser alto e não ser inteligente. Eu sempre soube fazer a leitura do jogo,
antecipar a jogada”.
Em 1958,
chegou ao Palmeiras e passou mais 10 anos no clube que o projetou no futebol
nacional.
A estreia
aconteceu em 28 de setembro de 1958, num Palmeiras 7 a 1 Ituano.
Foram 480
jogos pelo Palmeiras, com 291 vitórias 96 empates e apenas 93 derrotas.
Pelo time de
Parque Antártica, Valdir de Morais venceu a Taça Brasil de 1960, quando era o
primeiro nome a ser escalado no time que entrou para a história como a Academia
de Futebol de Filpo Nuñes.
A galeria de
troféus do Palmeiras teve muitas taças carregadas pelas mãos de Valdir Joaquim
de Morais.
Como atleta,
conquistou o Campeonato Paulista em 1959, 1963 e 1966;
Campeonato
Brasileiro em 1960, 1967 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa) e 1967 (Taça Brasil);
Torneio Rio-São Paulo em 1965.
A última vez
que entrou em campo para defender o Verdão, foi no dia 16 de maio de 1968, no
estádio Centenário de Montevidéu, pela finalíssima da Libertadores daquele ano.
Depois de
perder a primeira partida por 2 a 1, o Palmeiras venceu o segundo jogo por 3 a
1, mas como não havia saldo de gols, a decisão foi para o terceiro jogo em
campo neutro e a derrota marcou a perda do título inédito e do goleiro que
marcou uma era no clube.
Quando deixou
o Palmeiras, o goleiro defendeu o Cruzeiro do Rio Grande do Sul por uma
temporada e se aposentou definitivamente em 1970.
No estado em
que nasceu, o goleiro com quase 40 anos poderia aproveitar sua aposentadoria.
Porém um
chamado para ser auxiliar de Oswaldo Brandão, mudou os rumos da vida de Valdir
e do futebol brasileiro.
Um convite de
Oswaldo Brandão não se recusava e o ex-goleiro voltou a São Paulo para ser
auxiliar do lendário treinador, mas decidiu fazer um pouco além do que lhe foi
pedido.
Além de
ajudar nos treinamentos do time, Valdir passou a fazer treinos específicos com
os goleiros para aperfeiçoar os fundamentos e passar o conhecimento que
adquiriu em mais de duas décadas nas metas.
Estava criada
a função de preparador de goleiros.
“Eu não sei
se fui que inventei a profissão, mas eu nunca tinha visto ninguém fazendo esse
trabalho nos clubes do Brasil. Eu mesmo sempre treinei junto com os demais
atletas”.
Os resultados
começaram a acontecer ainda no Palmeiras, com Leão.
Depois de
trabalhar com Telê Santana, acompanhou o técnico e no São Paulo, com Zetti e
Rogério Ceni, repetiu os bons resultados.
No
Corinthians trabalhou com Dida e Ronaldo, mas foi numa das voltas ao Palmeiras
que conseguiu lapidar Veloso e revelou dois dos grandes nomes da famosa
academia de goleiros do Palmeiras: Sérgio e Marcos.
Enquanto
Sérgio garantiu paz na reserva do gol alviverde durante anos, Marcos virou
Santo, ganhou a América com o Palmeiras, e o mundo com a Seleção Brasileira.
Entrou para a
história como um dos maiores ídolos do Palmeiras e deve tudo o que sabe sobre
defender a Valdir Joaquim de Morais, ou o Seu Valdir, o Mestre.
Com a saúde
debilitada desde 2012, quando teve um AVC que deixou sequelas, um ano antes
Valdir deixou o cargo de observador técnico do Palmeiras.
Desde então
vivia em Porto Alegre, sua cidade natal, e mesmo com a idade avançada,
acompanhava futebol até morrer, hoje, em decorrência de uma falência múltipla
de órgãos, aos 88 anos.
Baixo na
estatura, mas um gigante na profissão.
Conhecido no
meio do futebol pela retidão de caráter, Valdir de Morais passou a vida
defendendo com garra todos os clubes que o contrataram para a comissão técnica.
Mas sempre
que lhe perguntavam o que significava o Palmeiras, Seu Valdir respondia:
“Uma vida!”
Há um dito
popular no futebol sobre a vocação necessária para ser goleiro, diz que a “posição
é tão ingrata que onde um goleiro pisa não nasce grama”.
Onde Seu
Valdir pisou, semeou e fez nascer um dos maiores times da história do futebol,
quando ele foi o camisa 1 da primeira Academia; além de brotar os grandes
goleiros brasileiros dos últimos 30 anos, como Marcos, Veloso, Zetti, Dida e
Rogério Ceni, todos pupilos do Seu Valdir.
Seu Valdir de
Morais deixou um legado ímpar ao futebol brasileiro.
A idolatria
talvez nunca tenha sido sua meta, mas poucos defenderam suas metas como ele.
Valdir
Joaquim de Morais fez de sua vida um tributo ao futebol, como goleiro quase um
sacerdócio, por isso, será lembrado todas as vezes que um goleiro brasileiro
fechar o gol em algum lugar do mundo.
Vá em paz,
Valdir Joaquim de Morais.
Imagem: Fabio Braga/Folhapress
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