segunda-feira, junho 29, 2015

Futebol em Cuba...

Em ensaio fotográfico, a paixão dos cubanos pelo futebol, um esporte que ainda será grande no país do baseball.

Por Gabriel Uchida

Quando um cubano diz “jogar bola”, diferentemente dos brasileiros, ele se refere ao baseball, historicamente o esporte nacional.

Porém, o que rola nas esquinas, camisas e bares do país é Barcelona, Real Madrid, Cristiano Ronaldo e Neymar.

É visível nas ruas cubanas que o futebol é mais popular que o baseball.

“Foi feito um estudo entre jovens de até 25 anos e 89,1% preferem o futebol”, conta Dariem Diaz, técnico do La Habana, time da capital.

A história de Dariem é um exemplo dessa nova paixão dos cubanos.

Quando o conheci, no começo de 2014, ele disse em perfeito português “Eu sou brasileiro… de coração”.

O técnico é tão fanático que seus filhos chamam Romário, em homenagem ao “baixinho”, e Thiago, por conta de Thiago Silva.

“Eu não sou brasileiro, mas tenho orgulho do pentacampeonato e sofro quando o Brasil perde”.

O técnico ainda completa, “gosto do futebol de vocês pela ginga, pelo samba, isso me lembra o jeito cubano, o ritmo na cintura”.

Mas apesar de todo o entusiasmo em relação ao esporte, no estádio da capital a história é diferente.

Mesmo com ingressos custando apenas um peso cubano, o equivalente a 14 centavos de real, o público é sempre baixíssimo.

Em três partidas que acompanhei no estádio Pedro Marrero, em Havana, nenhuma tinha mais do que sessenta torcedores, sendo que muitos ali eram amigos e familiares de jogadores.

Por vezes, os atletas contundidos ou não escalados também estão na arquibancada, onde não há divisórias ou setores especiais.

A cena seria impossível no Brasil: um atacante chega mancando e com uma bengala, o fã pergunta o que aconteceu e o atleta para, mostra o pé, explica tudo e depois se senta ali perto para ver a bola rolando.

Se a torcida não comparece em peso no estádio, tampouco a imprensa dá muita atenção ao campeonato local.

Em uma partida disputada entre La Habana e Sancti Spiritus às 15h30 de uma quarta-feira, apenas uma rádio fazia a cobertura do evento.

No gramado não havia equipe de televisão, fotógrafos e nem mesmo gandulas — os próprios jogadores tinham que buscar a bola chutada para longe.

O jornalista Osmany Torres, que há nove anos cobre futebol no país, pontua:

“Não há divulgação das partidas, não existe assessoria para publicar o calendário de jogos, não existe interesse nem dos meios de comunicação nem das pessoas, que preferem assistir o Barcelona do sofá de casa”.

De fato, é comum ver jogos da Champions League na programação local, porém, o mesmo não acontece com o torneio nacional.

“Quando vem alguma televisão aqui, é apenas uma câmera filmando da arquibancada, a qualidade de imagem é ruim”, diz Osmany.

Para os jogadores o cenário também não é dos melhores.

Em um pós-jogo, atletas e comissão técnica se reúnem à beira do gramado.

A ordem é: “lavem suas camisas, descansem e cheguem no horário amanhã à noite”.

Eles iriam enfrentar uma viagem de 20 horas de ônibus para uma partida fora de casa.

Para o volante Ariel Martín, do Sancti Spiritus, o pior mesmo são os gramados dos país.

“Todos são ruins, só me sinto melhor jogando no exterior”, diz ele.

Ariel está na seleção nacional e por isso também pode comprar suas chuteiras em viagens internacionais, já que as equipes locais são proibidas pelo governo de receber patrocínio ou apoio de empresas, mesmo que cubanas.

Por vezes, torcer pode ser danoso.

Há algo de ingrato em torcer, pois espera-se que a troca seja recíproca.

Você torce e, em contrapartida, quer a vitória.

Pode ser até com um gol contra do adversário aos quarenta e nove minutos do segundo tempo.

Mas se a vitória vier, torcer terá valido a pena.

E quando não há recompensa?

E quando ela te deixa na mão seguidas vezes, naquele momento em que você acha que ela vai aparecer e ela não chega nunca, e você fica ali, incrédulo, estarrecido, sem forças para buscar uma explicação?

A sua esperança, antes pujante e blindada, parece se desmanchar feito papel em água.



 Imagem: Puntero Izquierdo - Cadeiras do Estádio Nacional Pedro Marrero

 Imagem: Puntero Izquierdo - Estádio Nacional Pedro Marrero

 Imagem: Puntero Izquierdo - Arquibancadas do Estádio Pedro Marrero

 Imagem: Puntero Izquierdo - Arquibancadas do Estádio Pedro Marrero

 Imagem: Puntero Izquierdo - Arquibancadas Cobertas do Estádio Pedro Marrero

        Imagem: Puntero Izquierdo - Cabine de Imprensa no Estádio Pedro Marrero

 Imagem: Puntero Izquierdo - Não existem lanchonetes, só os carrinhos

 Imagem: Puntero Izquierdo - Policiamento no interior do estádio

 Imagem: Puntero Izquierdo - Policiamento nos portões do estádio

 Imagem: Puntero Izquierdo - Entrevista coletiva após o jogo

Imagem: Puntero Izquierdo - No final, todos saem juntos

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